segunda-feira, 28 de junho de 2010

LUZ DE ALMEIDA (PARTE IV)



Entre 1908 e 1910, Luz de Almeida, integrou a última Alta Venda da Carbonária, juntamente com Machado dos Santos, António Maria da Silva, Henrique Cordeiro, António dos Santos Fonseca e Franklin Lamas. Sendo descobertas as suas actividades clandestinas, em 1909, foi obrigado a partir para o exílio em França depois de o implicarem num homicídio que deu muito que falar nesse ano e que ficou conhecido como o "crime de Cascais", para escapar ao mandato de captura policial, António Maria da Silva obriga Luz Almeida a fugir no automóvel de Américo de Oliveira, o exílio decorreu primeiro na Bélgica e a partir de 22 de Janeiro de 1909 em França, volta depois da Proclamação da República Portuguesa em 5 de Outubro de 1910.

Após a implantação da República, Luz de Almeida, que tinha sido um dos principais responsáveis da revolta foi eleito deputado às Constituintes de 1911, mas não chegou a tomar posse pois participou de forma activa da repressão dos movimentos monárquicos que eclodiram no Norte do País.

Alguns estudos e memórias da época indicam que Luz de Almeida se deslocou pelo País a coberto de vários disfarces, utilizando diversos nomes e profissões, ainda antes da implantação da República. Percorreu algumas terras da província e numa das suas deslocações visitou Vila Real, onde contactou Adelino Samardan. Era seu objectivo organizar núcleos carbonários em Trás-os-Montes, para isso contava com o apoio de um grupo de sargentos que também defendiam a causa republicana. Numa dessas viagens deslocou-se a Chaves. [Magalhães Lima, Episódios da Minha Vida, Livraria Universal, Lisboa, 1928, p. 265-297] Tudo indica que nessa viagem, a intenção era realizar a iniciação do Dr. António Granjo e constituir na região um grupo de carbonários, facto que veio depois a concretizar. Após a implantação da República, quando surgiu a ameaça de invasão monárquica, comandada por Paiva Couceiro a partir da vizinha Espanha, Luz de Almeida acompanhou António José de Almeida na visita à região de Chaves. Como o governante tinha que partir de imediato para Lisboa, Luz de Almeida temendo pela segurança do novo regime acabou por permanecer na cidade transmontana durante cerca de cinco meses. [Júlio M. Machado, A República em Chaves, Grupo Cultural Aquae Flaviae, Vila Real, 1998, p. 40]

Durante esse período trabalhou juntamente com os carbonários locais no serviço de vigilância junto da fronteira e no interior da própria cidade de António Granjo. Neste período de permanência em Chaves envolveu-se de forma activa nos confrontos e foi mesmo alvo de um atentado à bomba que acabou por fracassar. Alvo de várias ameaças, enfrentou o perigo e deslocou-se pessoalmente à vila galega de Verin, onde viviam refugiados grande número de combatentes monárquicos. Regressou a Chaves onde recebeu calorosa “recepção de oficiais e civis que não dispensaram beber uma taça de champanhe e honra de tão corajosa atitude”[ Júlio M. Machado, idem, p. 41].

Com a consolidação do regime republicano, a Carbonária acaba por dissolver-se, mas Luz de Almeida continuaria com a fama de conspirador. Durante o governo de Sidónio Pais foi preso perto do Governo Civil de Lisboa, mas acabou por ser libertado algumas horas mais tarde porque um oficial (o major Esmeraldo ???) era seu amigo e também republicano. Algum tempo depois, ainda durante o sidonismo, Machado Santos, um dos apoiantes de Sidónio Pais, informou-o de estava prestes a ser preso, por haver informações de que ele estaria novamente envolvido em actividades conspirativas. Mais tarde, o próprio Machado Santos o convida para o desempenho de cargos políticos ao lado de Sidónio Pais, mas “recusou, recusou sempre”[Magalhães Lima, Episódios da Minha Vida, Livraria Universal, Lisboa, 1928, p. 294]. No entanto, os boatos sobre o seu envolvimento em novas conspirações leva-o a aceitar o pedido de Machado Santos para que se ausente de Lisboa durante algum tempo.

Reinicia nessa fase nova conspiração criando uma nova sociedade secreta a Serrania. Esta nova sociedade envolveu ainda alguns processos de iniciação, mas surge num contexto tardio. Existiam muitas prisões arbitrárias, a vigilância era apertada e o ambiente não era tão favorável. Luz de Almeida publica anonimamente um folheto intitulado O Sonho dum Soldado, manifestando, tal como o título indicava, uma atenção especial ao elemento militar. Tudo indica que o folheto foi distribuído não só em Lisboa mas também nas províncias, porém as dificuldades aumentavam. Luz de Almeida ameaçado de prisão teve que passar à clandestinidade, onde se manteve durante algum tempo.

Com o movimento da Monarquia do Norte, o antigo líder da Carbonária reaparece e integra o grupo de cidadãos que se reúnem no Campo Pequeno para defender a República. Com Monarquia do Norte, Luz de Almeida alista-se novamente “como soldado no batalhão de voluntários organizado pela inspecção de Infantaria, não chegando a seguir para o norte – apesar de devidamente adestrado e completo de instrução – porque na véspera da partida foi a República restaurada no Porto pelo capitão Sarmento da GNR”[Magalhães Lima, Episódios da Minha Vida, Livraria Universal, Lisboa, 1928, p. 296].

Desempenhou funções como Inspector das Bibliotecas Populares e Móveis na reorganização dos Serviços das Bibliotecas e Arquivos Nacionais e publicou no âmbito desse trabalho, em 1918, Bibliotecas Populares e Móveis em Portugal, Relatório.

Faleceu a 4 de Março de 1939, com 75 anos.

Conhece-se a sua colaboração no seguinte jornal:
O Intransigente, Dir. Machado Santos, Lisboa, 1910-1915, no entanto deve ter colaborado em outras só que de forma anónima e não foi possível completar com mais elementos biobibliográficos que gostaríamos de fornecer aos nossos ledores.

Publicou:
- “A obra revolucionária da propaganda: as sociedades secretas”, in Luís de Montalvor (dir.), História do Regime Republicano em Portugal, Lisboa, 1932, vol. II, p. 202-256.
- Cartilha do Cidadão. Diálogos entre o Doutor Ribeiro (médico militar) e João Magala. Para Paisanos e Militares [l. fictício], 1909. (folheto na anónimo)
- O sonho dum soldado, folheto, s.d. (1918???)
- Bibliotecas Populares e Móveis em Portugal, Relatório, Lisboa, 1918.

[FOTO: Homenagem da Loja Montanha ao Fundador da Carbonária, publicada na Ilustração Portuguesa, nº 232, 27-02-1911, p. 264.]

A.A.B.M.

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