segunda-feira, 18 de outubro de 2010

ÓSCAR DE ARAÚJO


Uma das figuras misteriosas que surge ligada à implantação da República em Portugal. Sem dúvida uma personagem marginal no processo, mas muito curiosa porque as referências são bastante pontuais. Não conseguimos esclarecer todas as nossas dúvidas, temos mesmo algumas situações que nos suscitam novas interrogações que provavelmente algum dos nossos ledores nos venha a esclarecer.

Este conjunto de notas sobre a biografia desta personalidade vem somente mostrar como muito ainda existe por esclarecer neste período. Vejamos então quem seria a personalidade em apreço:

Óscar de Araújo, jornalista português (brasileiro??), publicista e sociólogo, era republicano convicto e amigo devotadíssimo de Magalhães Lima.
Em 1878 pertencia à Sociedade Positivista do Rio de Janeiro, sendo um dos seus fundadores, juntamente com Benjamin Constant Botelho de Magalhães e Joaquim Ribeiro de Mendonça. Estudou na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, onde contactou com estas personalidades e as ideias positivistas .

Óscar de Araújo chegou a Paris em Agosto de 1890, encontra-se no Le Matin, de 30 de Agosto de 1890, referência à sua chegada. Segundo este jornal, ele já dispunha de algumas simpatias na Cidade-Luz porque tinha sido correspondente de vários jornais franceses no Brasil e vinha ocupar o seu lugar na legação brasileira nesta cidade. Em Janeiro de 1891, Óscar de Araújo foi nomeado pelo Ministro do Brasil em França para elaborar todas as comunicações à imprensa que possam esclarecer o público sobre todos os acontecimentos políticos que vão ocorrendo na República dos Estados Unidos do Brasil.

Em Março de 1891, foi exonerado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros do exercício das funções de segundo secretário da embaixada em Paris.

A revista francesa Le Rappel, umas das representantes da esquerda e da esquerda radical que sai em defesa da república brasileira na França, publicando em suas páginas inúmeras cartas e entrevistas de alguns políticos brasileiros, como foi o caso de José do Patrocínio e de Oscar de Araújo, em particular entre Novembro de Dezembro de 1889 e durante o mês de Dezembro de 1891. [Cf. Le Rappel, Paris, 1889]

Era sócio do Instituto Internacional de Sociologia, de Paris, em 1896. Tomou lugar no 3º Congresso do Instituto Internacional de Sociologia, que se realizou em Paris, entre 21 e 24 de Julho de 1897. Participou na discussão acerca do papel da justiça criminal no futuro.

Instala-se em Londres em 1900/1901, residindo em Redeclirff Square, colabora com diversos órgãos da imprensa escrita inglesa e internacional, goza de algum prestígio. Detentor de alguma ilustração, insinuante, activo e perscrutador, desenvolve actividade associativa sendo vice-presidente da Associação dos Jornalistas Estrangeiros e Presidente da Câmara de Comércio Anglo-Portuguesa, onde desenvolveu esforços durante vários anos.

Publicou, em 1909, uma carta no jornal O Mundo a dar conta da visita de D. Manuel a Inglaterra. Terá sido também ele a influenciar a publicação no Machester Guardian de uma nota critica sobre o potencial casamento do monarca com a família real britânica .

Óscar de Araújo dispunha em Londres de grandes relações de amizade com importantes figuras do meio político e económico. Conhecem-se as suas relações com personalidades como: Lord Avebury, barão de Rothschild, o então Governador do Banco de Inglaterra, sr. Johnson, barão de Erlanger, marquês de San-Giuliano, embaixador de Itália, ministro do Brasil, marquês Faa di Bruno, Mercadier, dirigentes da agência Havas, etc.

Rocha Martins no Arquivo Nacional considera Óscar de Araújo “uma espécie de jornalista e de agente secreto, manejador de manobras de vários jaezes”. Na descrição que dele fez, o publicista português afirmava: “era inteligente, activo, misterioso em demasia. Equilibrava-se nos seus proventos. Os confessáveis consentiam na representação de alguns jornais brasileiros; os outros eram de várias castas. Sabia segredos, conhecia muita gente nos diversos escalões sociais. Uns diziam-no brasileiro, mas era português e emigrara há anos; arribara a Londres, onde mercê do seu título de jornalista tinha entrado no Foreing Office, sendo das relações de um ou outro político.” [Arquivo Nacional, Lisboa, 1937, p. 431]

Publicou:
- Considerações geraes sobre os cemitérios, A. Roger et F. Chernoviz, 1887
- Monisme et Positivisme, 1889, 36 p.
- Le fondateur de la Republique Brésilienne, Benjamin Constant Botelho de Magalhães. Discours prononcé à la séance commémorative de l'avènement de la République Brésilienne célébrée le 18 novembre 1891 au siège de la Société positiviste de Paris. — Paris, L. Boulanger (s. d.), 24 p. Avec portrait.
- L'idée Républicaine au Brésil, Paris, Perrin et Cª , 1893, 155 pages
[Versa sobre os precursores da ideia republicana e a política imperial como desvio na tradição republicana do Brasil. A seguir o autor discorre sobre a propaganda republicana, sobre Benjamim Constant, sobre os acontecimentos do dia 15 de Novembro e os factos políticos do período imediato à queda do Império].
- “Le mouvement social au Brésil de 1890 à 1896”, Revue internationale de Sociologie, Mai 1896.— Paris, V. Giard et E. Brière, 1896, 11 p.
- “Portugal. La situation politique. L’ état économique du Pays”, Révue Politique et Parlementaire, Paris, Ano 4, Tomo 12, nº 34, p. 184-186.[artigo da autoria de Jaime Magalhães Lima, traduzido por Óscar de Araújo].
- “Le féderalisme au Brésil et dans les Republiques Hispano-americaines”, Révue Politique et Parlementaire, Paris, Mars 1899, Ano 6, T. 19, p. 588-605.
- Uma viagem a Hollanda, J.G. Veldheer,W. Sluiter,Oscar d' Araújo, M.J. Brusse, W.L. & J. Brusse, 1912, 63 páginas
- Jardim, António da Silva. Memórias e viagens; I: campanha de propaganda, 1887- 1890. Pref. Óscar de Araújo, Lisboa, Companhia Nacional Editora, 1891. 468 p.
[No prefácio, Óscar de Araújo procura interpretar o papel de Silva Jardim no cenário político no momento em que inicia sua propaganda republicana e resume as actividades do propagandista. Silva Jardim conta suas reminiscências de propagandista da campanha republicana e nos informa sobre os fundamentos filosóficos de suas ideias políticas. Em anexo constam os artigos publicados pela imprensa brasileira e europeia em 1891, em memória de Silva Jardim, por ocasião do seu desaparecimento ocorrido tragicamente em Nápoles, no Vesúvio, em 1º de Julho de 1891.]

Colaborou no Economista Português, no Financial Times, no Finantial News, no Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), Diário de Notícias (Lisboa), O Mundo (Lisboa) entre outros.

Dirigiu um jornal em Lisboa, em 1911, intitulado O Jornal.

“Auxiliando os trabalhos da missão dos republicanos a Londres em 1910 esteve Óscar de Araújo, que a apresentou na capital inglesa, conservando porém, para o governo português, de que era representante, o conveniente grau de alheamento da acção conspiradora.

Ao ser ela conhecida mais tarde, tentar-se-ia uma censura ao Directório pela falta de reconhecimento a esses manejos, mas Óscar de Araújo fazia retroceder os censurantes com a seguinte carta (23 de Novembro de 1910) onde a República em Portugal, apareciam, já sem segredos, os serviços à causa:
«Ilmo. Sr. Sr. Director do Economista Português
Meu caro amigo: - Acabo de ler no seu Economista o artigo: «Quem apresentou o Directório em Londres» em que a sua amizade lhe fez dizer a meu respeito, muitas coisas amáveis que eu agradeço penhoradíssimo. Preciso, entretanto, protestar contra a censura que vª. Exª faz, ou, antes, insinua, por não ter sido tornada pública a minha colaboração na obra diplomática republicana lá fora. É certo que o meu nome nunca apareceu nas publicações do partido, mas isso foi unicamente ditado pela necessidade evidente de não desvendar a minha acção em Londres. José Relvas, em carta que me dirigiu para Londres, de volta da missão, escreveu-me:

Sem as circunstâncias especiais que aconselham uma grande reserva, o Directório e a Junta far-lhe-iam uma manifestação pública do seu reconhecimento.
O Directório, aliás, manifestou o apreço em que tinha a minha cooperação diplomática, dirigindo-me o seguinte ofício, que transcrevo, para que não prevaleça a injustiça que vª Exª lhe faz:

Ilmo. E Exmo. Sr. Óscar de Araújo, vice-presidente da Sociedade dos Jornalistas Estrangeiros – Londres.
Ilmo. e Exmo. sr. – O directório do Partido Republicano Português e a sua Junta Consultiva foram largamente informados, pelo delegado do Congresso do Porto, José Relvas, da valiosíssima colaboração que v. exª. Teve na missão realizada recentemente em Londres pelos representantes do partido republicano. Foi muito apreciada a forma como V. Exª auxiliou a obra da missão e o concurso que lhe deu para tornar possível um dos factos a que ligamos a maior importância. O Directório do partido, significando a vª. Exª os seus sentimentos de sincera gratidão, desempenha-se também da missão que lhe foi incumbida pela junta de a associar na presente mensagem de agradecimento. Assim, podemos afirmar que não somos apenas representantes do sentimento de alguns republicanos, mas que na realidade expressamos o reconhecimento de todo o partido republicano. Aceite vª Exª as homenagens de muita consideração com que somos – De vª Exª attº ven. Obº- Teófilo Braga, Inocêncio Camacho, Eusébio Leão, José Relvas, José Barbosa»

Já vê, pois, meu amigo que o pouco que eu pude fazer pela causa republicana em Londres, antes de proclamada a República, foi largamente reconhecido pelo Directório em nome de todo o partido republicano português. Também do meu trabalho diplomático, depois de proclamada a República, o meu amigo Magalhães Lima informou o governo, segundo me telegrafou para Londres. Foi, pois, vª Exª. Injustíssimo com o Directório, a Junta do Partido republicano e os membros da missão ao estrangeiro, atribuindo-lhes o desconhecimento dos meus humildes serviços diplomáticos em Londres, e, por isso, obsequiava-me publicando esta carta no próximo número do «Economista». Agradecendo-lhe, de antemão, mais esse favor, peço-lhe que me creia sempre seu amigo sincero e obrigado, Óscar de Araújo

Recentemente, Jorge Morais, na sua obra Com Permissão de Sua Majestade (Lisboa, Via Ocidentalis, 2005, p. 118 e ss) , dedicou algumas referências a esta personalidade.

O Almanaque Republicano, acrescenta mais alguns elementos que podem contribuir para desvendar mais sobre Óscar de Araújo, mas tornava-se necessário uma pesquisa mais continuada e aprofundada acerca do papel que desempenhou, bem como dados biográficos fundamentais que ainda não conseguimos localizar, mas que aqui podem ser completados.

ADITAMENTO:
Segundo o Diccionario Bibliographico Brazileiro, de Augusto Victorino Alves Sacramento Blake, vol. VI, Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1900, p. 338, Óscar de Araújo seria natural do Rio de Janeiro, onde terá nascido a 28 de Março de 1860, filho de António de Arvile Araújo e de Elvira Ribeiro de Araújo. Preparou-se para frequentar a Escola Politécnica, mas acabou por frequentar o curso de medicina em Paris, onde trabalhou como explicador de Matemática. Foi ainda externo dos hospitais de Paris.

Foi correspondente do Brésil, Revista Ocidental de Paris, do Século e Temps, de Paris. Publicou ainda Un Apôtre de la Republique en Brésil, Paris, 189?; Considerações Gerais sobre os cemitérios do Rio de Janeiro, Paris, s.d.


A.A.B.M.

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