domingo, 24 de abril de 2011

CRUZADA NUN’ÁLVARES – PARTE III


Em 1920, o Congresso da República instituiu a “Festa do Patriotismo” e determinou o levantamento de um monumento ao beato Nun’Álvares. A 14 de Agosto de 1921 comemorou-se a “Festa da Pátria”, com a presença do presidente da República, e que teve participação de laicistas como Magalhães Lima a par de uma comissão de mulheres pertencentes à Cruzada Nacional Nuno Álvares Pereira. No Manifesto de 1921 da Cruzada Nun’Álvares [escrito por Trindade Coelho; subscrito por republicanos conservadores (António José de Almeida, Braamcamp Freire, Egas Moniz, Henrique Trindade Coelho, Alfredo de Sousa, Jacinto Nunes, Celestino de Almeida), por católicos sociais (cónegos Martins do Rego e José Dias Andrade), por monárquicos constitucionalistas (Mello Breyner, Anselmo da Andrade, Costa Mesquitela) e por monárquicos integralistas (Pequito Rebelo, Antonio Sarmento Brandão)] e no seu Manifesto de 1926 (sob a pena de Martinho Nobre de Melo) já se “descortinavam alguns traços da síntese ideológica do Estado Novo, expressa por Oliveira Salazar no discurso de 30 de Julho de 1930” [ver Ernesto Castro Leal, ibidem]

A 14 de Agosto de 1925 é lançada a primeira pedra do monumento, justamente no Jardim de Santos (Lisboa) o qual passou a denominar-se Praça D. Nun’Álvares. Com sede em Lisboa, a organização estende-se a todo o país. Em 1923 a Cruzada aponta já a Itália de Mussolini como modelo a adoptar [cf. João B. Serra, Da Republica ao Estado Novo]. Não espanta, portanto, o apoio dado ao movimento militar sedicioso de 18 de Abril de 1925 [chefiado por Sinel Cordes, Filomeno da Câmara e Raul Esteves], bem como o discurso nacionalista revolucionário que o formatava, a que se seguirá o dia triunfante de 28 de Maio de 1926, com Gomes da Costa [sidonista e membro da Cruzada Nun’Álvares], Mendes Cabeçadas e Óscar Carmona. De referir que Martinho Nobre de Melo, director da revista “Reconquista” a partir de 15 de Janeiro de 1926, escassos treze dias antes do 28 de Maio (nº 6, de 15 de Maio de 1926) publica a foto de Gomes da Costa na primeira página da revista, com a legenda “Chefe nacional?” [cf. Ernesto Castro Leal; ver tb Luís Bigotte Chorão, op cit, p. 284].

As “experiências” tentadas pela Ditadura após o 28 de Maio, sempre com essa ideia estratégica da construção de uma “elite governamentalprovidencial, como foram a constituição da Milícia Nacional (1926), a União Nacional (1926-27) e a Vanguarda Nacional [1936, que com Afonso Miranda e o general Farinha Beirão propunham uma “dinâmica milicial” própria, mais tarde “absorvida” pela fundação da Legião Portuguesa], tiveram o apoio continuador da Cruzada ou do que dela restava, pois nunca esteve ausente do debate ideológico [ver Ernesto Castro Leal, ibidem]. Em 1928 a Cruzada Nun´Àlvares promove uma curiosa peregrinação a Fátima, dirigida pelo cónego Magalhães, onde estiveram presentes a comissão executiva da organização.

A organização extinguiu-se em 1938, dado estar em convergência com o ideário do Estado Novo, “reconhecendo a chefia pessoal de Oliveira Salazar” [Ernesto Castro Leal, ibidem].

Teve a Cruzada Nun’Álvares, além do seu Boletim, revistas ou órgãos doutrinários, como a “Cruzada Nacional Nun'Alvares” [1, Novembro de 1922; com subtítulo, revista quinzenal e órgão oficial da Cruzada Nacional D. Nun'Álvares Pereira; Direcção: João Afonso de Miranda; Impressão: Tip. Garrett, Lisboa]; a “Revista Nacional" [1, 15 de Maio de 1925 ao nº2; com o subtítulo de Órgão Defensor da Cruzada Nacional Nun’Álvares Pereira; Director: João Afonso de Miranda]; a já citada revista “A Reconquista” [1, 15 de Janeiro de 1926 ao nº6, 15 de Maio de 1926; aparece com o subtítulo, Órgão da Cruzada Nacional Nun’Álvares e da Liga Operária e Académica do Condestável; Administrador: João Xavier de Paiva; Editor: António Bernardo da Fonseca Batista; Colaboradores: Afonso Lopes Vieira, Afonso Lucas, Américo Durão, Anselmo de Andrade, Filomeno da Câmara, Hipólito Raposo, Martinho Nobre de Melo, João Ameal, Redacção e Adm: Travessa S. Pedro de Alcântara, 15; Director: Martinho Nobre de Melo; Correspondência: Rua da Palma, 180, 1º, Lisboa]; e a revista “Galeria do Santo Condestável” [1, 1929; publicação periódica da Cruzada Nacional Nun'Alvares; Direcção: F. M. Lobo da Costa].

FOTO: reprodução da revista "A Reconquista" (nº1), retirada, com a devida vénia, da obra citada de Luís Bigotte Chorão, "A Crise da República e a Ditadura Militar", Sextante, 2009.

J.M.M.

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