domingo, 17 de abril de 2011
TEÓFILO BRAGA E INOCÊNCIO FRANCISCO DA SILVA
LIVRO: "Teófilo Braga e Inocêncio Francisco da Silva. Correspondência trocada entre o historiador e o bibliógrafo da literatura portuguesa" - com Anotação de Alvaro Neves e Notícia preliminar de A. do Prado Coelho, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1928.
«É um pungente retrato epistolar de um país que esmaga às cegas os poucos recursos humanos que possui. Troca de missivas entre aquele que foi desde sempre o nosso mais conceituado amador dos livros e aquele que o triunfo da República possibilitou alcandorar-se a Presidente ... “de todos os portugueses”... Há a sublinhar que o período abrangido – 1860 a 1868 – em nada as desactualizou.
Uma passagem exemplar:
"... Eu ando aqui pouco menos que bestificado. Conclui o tomo 5.º do malfadado Diccionario, porém resta-me pouca vontade de entrar a contas com o 6.° ...
Ainda hontem me obrigaram a perder no Governo Civil oito horas successivas, das dez da manhã ás seis da tarde. E para quê? Por causa de um atoleimado Edital, mandando cumprir uma Portaria ainda mais atoleimada do Ministerio do Reino, que prohibiu um ajuntamento que certos parvos provocavam para hoje na praça de D. Pedro, e que tinha por fim accelerar a quéda do ministerio actual, para ser substituido por outro da mesma estofa, se não peior!
Lá renovou agora o conde de Thomar na Camara dos Pares a iniciativa de um projecto de organisação administrativa (que elle já apresentára na sessão passada, e chegou a ser alli approvado, e não o foi na outra camara por sobrevir a dissolução). Por este projecto sou eu irremissivelmente condemnado a morrer Amanuense do Governo Civil, ao cabo de vinte e quatro annos de serviço, passados sempre na espectativa de accesso, que uma vez deveria chegar, mas que me cortam agora sem appellação! – E o caso é, que o projecto passa (injustissimo como é a todos os respeitos) e brevemente o verêmos convertido em lei!
Isto, meu am.º, é um paiz de loucos, e de desavergonhados, entre os quaes mal se pode viver. E se não me engano, verêmos de cada vez cousas peiores. Eu por mim estou velho, e se os desgostos me não consumirem mais cedo, irei provavelmente findar os dias em Rilhafoles [ref. ao manicómio], que é uma excellente vivenda e muito de apetecer. Vejo-me para isso com boas disposições ..."
via FRENESI LOJA, com a devida vénia.
J.M.M.
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