domingo, 29 de maio de 2011
JAIME DANIEL LEOTE DO REGO
Figura grada da nossa Marinha e político da 1º República, nascido em 1 de Dezembro de1867 em Lagos e faleceu em Lisboa a 26 de Junho de 1923. Era filho de António Silvestre do Rêgo, funcionário do Governo-Civil de Faro e de Júlia Leote, também de Lagos, daí ter nascido o apelido composto de Leote do Rêgo. Casou com Amélia da Costa Trancoso de quem teve cinco filhos.
Fez o curso da Escola Naval entre 1885-1887 e como guarda-marinha, em 1890, comandou pela primeira vez uma lancha canhoneira. Promovido a primeiro-tenente em 1894 e a capitão-tenente em 1906.
Foi responsável por várias missões de reconhecimento nas colónias portuguesas, em especial de Moçambique. Também no desempenho das suas funções envolveu-se em vários confrontos militares, com destaque para os combates com os Manganjas, em Quelimane, onde em 1888, obteve a condecoração de oficial da Ordem de Torre e Espada. Serviu ao lado de António Ennes, de quem foi secretário particular. Em 1890, durante o período do Ultimato Inglês, foi encarregue de defender a manutenção da soberania portuguesa nas águas do Rio Chinde.
Aderiu ao franquismo, durante o consolado de João Franco e, no Partido Regenerador Liberal, foi eleito deputado. Estreia-se no Parlamento em 1907, com um longo discurso realizado em 21 de Fevereiro, onde defendeu a posição dos militares portugueses em África e condenou a centralização político-administrativa que se fazia sentir sobretudo em Moçambique.
Em Maio de 1901, estava colocado na Divisão Naval do Índico, com a patente de 1º tenente da Armada .
Foi governador colonial de São Tomé e Príncipe entre 13 de Junho de 1910 e 7 de Agosto de 1910, ainda no período da Monarquia. Com a implantação da República aderiu ao novo regime e foi convidado a ocupar idêntica função na mesma colónia entre 14 de Junho de 1911 e 24 de Dezembro de 1911.
Participa na reunião da Liga Naval, realizada em 21 de Outubro de 1912, para discutir o programa da comissão patriótica e defesa nacional, onde discursa defendendo a escolha do general Ferreira do Amaral. Foi ainda proposto para membro da comissão executiva da referida comissão, juntamente com António Pereira de Matos, Sá Cardoso, Victorino Pereira Garcia, Santos Fradique, Rodrigues Simões, Manuel Emídio da Silva e Álvaro de Lacerda.
A partir do seu regresso de São Tomé foi um dos grandes apoiantes da intervenção portuguesa na Guerra Mundial e alinha ao lado de Afonso Costa a partir de 1913. Em 23 de Dezembro de 1913 foi nomeado para Director dos Serviços e Instrução de Tiro.
Participa de forma activa na restauração do regime democrático após a interrupção provocada pela ditadura de Pimenta de Castro no golpe de 14 de Maio de 1915. Nesse ano procurou organizar os serviços de contra-espionagem portugueses.
Por Portaria de 5 de Julho de 1915, foi criada a Divisão Naval de Defesa e Instrução comandada por Leote do Rego, e a que estavam agregadas as seguintes unidades: o Cruzador-Couraçado Vasco da Gama e por outras unidades, entre as quais o submersível Espadarte. Neste ano foi eleito deputado por Lisboa, bem como em 1919.
Em 23 de Fevereiro de 1916, Leote do Rego foi o responsável por comandar a operação de apreensão dos barcos alemães que estavam nos portos portugueses, acto que conduziu à declaração de guerra dos germânicos a Portugal e à entrada efectiva de Portugal na I Guerra Mundial. Recorde-se que Jaime Daniel Leote do Rego era comandante da Divisão Naval de Defesa e dela resultou a apreensão de cerca de setenta barcos alemães.
Esteve exilado em Paris, devido aos acontecimentos de 5 de Dezembro de 1917, que conduziram Sidónio Pais ao poder, regressando ao nosso país, a 2 de Março de 1919 . Durante a sua ausência viu a sua casa assaltada, os bens destruídos e sofreu ataques pessoais que o feriram na sua honra. No regresso foi recebido de forma calorosa pelos apoiantes e tendo realizado um comício improvisado no momento.
Em 1919, foi um dos participantes na sessão de homenagem realizada a Sebastião de Magalhães Lima, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, organizado pela Liga Mocidade Republicana.
Ainda neste ano (Junho de 1919) foi dolorosamente surpreendido pela morte do filho, Pedro Leote do Rego.
Em 1922 foi eleito deputado pelo círculo de Angola.
Deixou várias obras publicadas:
- Plano hydrographico da bahia do Mocambo [ Material cartográfico] : Província de Moçambique : Costa Oriental d'África / Levantado, em 1888, por Francisco Corrêa Leotte, conductor d'obras publicas, e J. D. Leotte do Rego, Guarda-marinha ; L. Couceiro, red. e des. ; Carvalho gr. . Lisboa : Comissão de Cartographia, 1890.
- Planta hydrographica da Barra de Quelimane [ Material cartográfico] : Provínvia de Moçambique : Costa Oriental d'Africa / Commissäo de Cartographia ; levantado em Dezembro e Janeiro de 1891 e 1892 pelo 2o tenente J. D. Leotte do Rego. Lisboa : Ca Nac. Editora, 1893.
- Plano hydrographico da barra e curso do rio Macuse [ Material cartográfico] : Província de Moçambique : Costa Oriental d'Africa / Commissão de Cartographia ; levantado de Maio a Julho de 1892 por J. D. Leotte do Rego, 2o tenente da armada ; G.
Paul Maedicke, lth. [Lisboa] : C[ompanhi]a Na[ciona]l Editora,, 1893.
- Protecção ao pessoal da Marinha Mercante : sua utilisação para a constituição de uma reserva naval / memória apresentada J. D. Leotte do Rego. Lisboa : Typ. do Commercio, 1902.
- Reconhecimento hydrográphico da barra e porto de Angoche [ Material cartográfico : província de Moçambique / Commissão de Cartographia ; levantado sob a dir. de Leotte do Rego, [ Material cartográfico : província de Moçambique / Commissão de Cartographia ; levantado sob a dir. de Leotte do Rego. [Lisboa] : C.C., 1904.
- Plano hidrográfico do porto de Moçambique [ Material cartográfico : província de Moçambique / Commissão de Cartographia ; estudos feitos sob a direcção do Comte. Leotte do Rego. [Lisboa] : C. C., 1904.
- Plano hydrographico da barra e porto da Beira na foz do rio Punque [ Material cartográfico / Leotte do Rego... [et al.]. Lisboa : Comissão de Cartographia, 1904.
- Guia de navegação : carta de Moçambique : supplemento 1904, 1905, 1906 / Leotte do Rego. Lisboa : Imprensa Nacional, 1907.
- Situação presente de Portugal como potencia maritima / Leotte do Rego. Coimbra : Imprensa da Universidade, 1910.
- Carta aberta aos ilustres deputados da nação / Leote do Rego. Lisboa : Of. da Ilustração Portugueza, 1912.
- Marinhas / Jayme Leotte do Rego. Lisboa : Typ. da Livr. Ferin, 19 .
- O culto da bandeira / Jaime Daniel Leote do Rego. Lisboa : Livr. Ferin, 19 .
- A todo o panno! : em S. Tomé e Príncipe. Verdades e factos / Leote do Rego. - Lisboa : Tip. Commercio e Industria, [s.d.].
Colabora em várias publicações, onde se destaca A Montanha, Porto, 1911-1936; no Século, de Lisboa, A Vitória, de Lisboa, 1919-1922, nos Anais do Club Militar Naval.
No dia 2 de Março de 1913, realizou uma conferência na Figueira da Foz, sobre a questão da defesa nacional.
Em 1912 foi iniciado na Maçonaria, com o nome simbólico Pêro de Alenquer, na Loja Elias Garcia de Lisboa.
Nota de algumas actividade de Leote do Rego:
- “O problema colonial. Situação deplorável de S. Tomé e melhoramentos de que necessita.”, Republica, Lisboa, 17-04-1912, Ano II, nº 451, p. 2, col. 2-3 [Entrevista feita a Leote do Rego que tinha sido governador da província já durante a República].
- “Política e Marinha”, Republica, Lisboa, 21-04-1912, Ano II, nº 458, p. 1, col. 6, 7 e p. 2, col. 1. [Conferência feita no Grémio Republicano da Alcântara, em sessão presidida por S. Magalhães Lima, realizada no dia 20 de Abril de 1912]
- “A Eterna Questão- A “escravatura” em S. Tomé e Princípe”, Republica, Lisboa, 13-06-1912, Ano II, nº 508, p.1, col. 6 e 7.
Entrevista de Leote do Rego a Norberto de Araújo para A Manhã, 7 de Março de 1919, Ano III, nº 700, p. 2, col. 3.
Uma figura de relevo da República, polémica, militar respeitado e personalidade forte, em especial a partir da I Guerra Mundial.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
- MARQUES, A. H. de Oliveira, Dicionário de Maçonaria Portuguesa, Vol. II, Editorial Delta, Lisboa, 1986, p. 1210-1211
- MARQUES, A. H. de Oliveira (Coord.), Parlamentares e Ministros da 1ª República (1910-1926), col. Parlamento, Edições Afrontamento, Porto, 2000, p. 365-366;
- OLIVEIRA, Maurício de, Leotte do Rego. Uma vida ao serviço da Pátria e da Marinha, Editora Marítimo-Colonial, Lisboa, 1967.
- RAMOS, Rui, "Jaime Daniel Leote do Rego", in Dicionário Biográfico Parlamentar (1834-1910), Coord. Maria Filomena Mónica, vol. III (N-Z), Col. Parlamento, ICS/Assembleia da República, 2006, p. 427-428.
A.A.B.M.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário