domingo, 3 de julho de 2011

SETE ANNOS DEPOIS … A REPÚBLICA NOVA - EDUARDO BURNAY


LIVRO: Sete Annos Depois... A República Nova. Carta ao Sr. Sidónio Paes, ínclito e invicto restaurador da ordem
AUTOR: Anónimo [Eduardo Burnay];
EDITORA: Lamas, Motta & C.ª [Rua da Alegria, 100, Lisboa], 1918, 93 p.

"Os livros de autor anónimo, ou editados como tal, sempre me fascinaram: este era um deles! Que eu saiba, foi o Prof. Dr. Armando Malheiro da Silva [in, Sidónio e Sidonismo. História de um caso político, p. 83] o primeiro a atribuir a autoria a Eduardo Burnay: aquando da elaboração da sua tese sobre Sidónio Pais, na consulta ao arquivo deste, descobriu um exemplar do livro com uma dedicatória de EB [de facto, um dos pseudónimos de Eduardo Burnay seria E.B. – ver, Dicionário de Pseudónimos, de Adriano da Guerra Andrade] para SP [Sidónio Paes]. Era uma pista, penso que quase definitiva. A confirmação surgiu-me há dias, pelo neto: O bibliófilo e alfarrabista, Luís Burnay, confirmou-me a autoria do livro, referindo-me, inclusivé, que ainda tinha consigo o manuscrito de seu avô ..." - ler MAIS AQUI.

via Memória da República, com a devida vénia [sublinhado nosso]



NOTA: Eduardo Burnay [n. 3 de Julho 1853-m. 8 de Dezembro 1924] foi médico, bacharel em Filosofia pela Universidade de Coimbra, lente de Zoologia (na Escola Politécnica de Lisboa: refira-se que E. Burnay foi um dos primeiros adeptos do evolucionismo, entre nós) e depois lente de Química Mineral e Orgânica na mesma instituição, delegado de saúde, professor, escritor e jornalista [cf. Enc. Luso-Brasileira] e deputado [pelo círculo de Tomar, 1894; depois eleito por Loures em 1901; idem para círculo de Lisboa Ocidental em 1902; idem em 1904, 1905 e 1906; depois em 1908 e 1910; com trabalho feito (veja-se as "Bases da reorganização do ensino secundário apresentadas em sessão de 14 de Janeiro de 1903 na Câmara do Senhores Deputados") na secção de Instrução Pública Superior – cf. Dicionário Bibliográfico Parlamentar].

Era um dos filhos do médico Henrique Burnay e de Lambertine Josephine Forgeur (ambos de nacionalidade belga). Foi, ainda, membro da Academia das Ciências (substituindo o sócio Agostinho Vicente Lourenço, tendo-lhe feito o elogio póstumo a 1 de Dezembro de 1893), presidente de Conselho de Administração da Companhia dos Tabacos e do Conselho Fiscal do Banco de Portugal (1908-1924), vice-governador do Crédito Predial (1897-1908), administrador da Companhia dos Caminhos de Ferro da Beira Alta, do Jornal do Comércio [que dirigiu politicamente: o director principal era Augusto de Castro] e o Jornal do Comércio e das Colónias. Casou com a filha de Ramalho Ortigão [a correspondência epistolar com Ramalho é acervo importante, alguma de importância queirosiana], Maria Feliciana Ortigão. Em 1886 foi a Paris, para acompanhar o processo Pasteur da luta contra a raiva [juntamente com Eduardo de Abreu, com quem manteve uma acesa polémica sobre a validade dos métodos de Pasteur] e representou Portugal no Congresso Internacional de Medicina de Madrid, em 1893. Fez parte da Comissão das Comemorações do II Centenário de Lavoisier. Publicou vários opúsculos, de interesse científico (em revistas de Coimbra e Lisboa) e literário ["Um retrato de José Agostinho de Macedo"; “In Memoriam a Sousa Martins” (1904); “Elogio histórico do Conde de Ficalho” (1906); “O Doutor Manuel Dias Ortigão” (1922; sep. Instituto); “O Conde de Castel-Melhor: as suas presumidas relações com os alquimistas, mágicos, filósofos, moedeiros-falsos e envenenadores do século XVII” (1923, sep. Instituto)]. Homem do mundo, foi dos primeiros a ter automóvel, ao mesmo tempo que era tido como grande coleccionador de arte. Curiosamente, aparece caricaturado no romance célebre, porque escandaloso na época, "Marquês da Bacalhoa" [por António de Albuquerque, 1908], como a figura do Silveirinha ["degenerado cínico" – cf. José- Augusto França, in "Marques da Bacalhoa", INCM, 2002, p. 15].

Era irmão [cf. Enc. Luso-Brasileira] do importante e influente financeiro Henrique Burnay ou "o senhor Milhão"

[Henrique Burnay (1838-1909), ou 1º Conde de Burnay (1886, conferido por D. Luís I), empregado do banqueiro Carlos Krus (com cuja filha casou), fundador da casa bancária Henry Burnay & C.ª (1875; mais tarde, em 1939, Banco Burnay), notável empresário e hábil especulador e investidor em vastas actividades comerciais, industriais e financeiras (os seus empréstimos para cobrir os défices orçamentais são bem curiosos de se seguir): como a exploração dos caminhos-de-ferro e das redes marítimas (1884), na Companhia dos Tabacos, em companhias mineiras e distintas fábricas (vidros na Marinha Grande, p.ex.), dono dos Armazéns Hermínios, da casa Havaneza, do Casino ou do Jornal do Comércio, deputado em 1894 pelo circulo de Pombal e em 1900 por Setúbal; foi um curioso filantropo e a ele se deve a construção do bairro Camões, aliás escritor que tinha em boa conta, de tal modo que participa e preside às Comemorações do Centenário de Camões em 1880 (bem como contribui para o do Marquês de Pombal (1882)), tendo ainda fundado várias escolas e albergues e sendo um dos patrocinadores do Jardim Zoológico de Lisboa (na ocasião cedeu o parque do seu palácio das Laranjeiras, para o efeito), coleccionador compulsivo (e desordenado) de obras arte e pintura, que manteve no seu palácio da Junqueira (antigo palácio do Patriarca); a sua copiosa colecção e o recheio do palácio foi vendido em leilão pelos herdeiros (1936), tendo o Estado adquirido parte, agora depositada no Museu Nacional de Arte Antiga].

FOTOS: retrato de Eduardo Burnay (esquerda) e do Conde de Burnay (Henrique Burnay)

J.M.M.

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