segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O FASCISMO CATEDRÁTICO DE SALAZAR


Foi recentemente publicado o resultado da investigação realizada por Jorge Pais de Sousa sobre a instalação do regime salazarista. A obra foi editada pela Imprensa da Universidade de Coimbra.

Ao longo de mais de quinhentas páginas o autor analisa e procura compreender a ascensão de um conjunto de professores universitários, onde se destaca António de Oliveira Salazar, mas não só, que empreendem uma conquista do poder político num contexto de crise e falência do regime republicano. As razões dessa falência foram aproveitadas e acabaram por conduzir a um largo período de ditadura, conhecido por salazarismo ou Estado Novo.

A parte essencial do livro concentra-se nas várias razões que ao longo do tempo da República vão contribuindo para se encontrar uma resposta política para as fraquezas desse mesmo regime. A análise do processo centra-se muito na fase da 1ª República Portuguesa quando algumas das principais figuras do Estado Novo se vão afirmando, tomando posições criticas em relação ao poder político existente e estabelecendo relações de maior proximidade entre si.

Pode ler-se na nota de abertura da obra:
A investigação incide sobre um período particularmente fecundo da historiografia portuguesa acerca do regime que dominou quase inteiramente a sua história do século XX. Num quadro de atenta reconstrução da vida política nacional, em cujo âmbito se tem vindo progressivamente a consolidar a afirmação de Salazar e do seu regime político, é de maneira convincente que o autor estabelece uma relação entre a afirmação do fascismo, em Portugal, e as rupturas epocais produzidas pela Grande Guerra, apesar da escolha de neutralidade feita pelas suas elites políticas. Não é, de facto, por acaso, que a elaboração teórica do futuro ditador, que o levou a assumir um papel significativo na cena política, decorreu dos seus estudos sobre a economia de guerra (...)

Para delinear as características específicas desta variante lusitana do fascismo continental, Jorge Pais de Sousa retoma e valoriza a definição de “fascismo de cátedra”, proposta nos anos trinta pelo poeta e filósofo espanhol Miguel de Unamuno para definir o Estado Novo, na tentativa de superar o dualismo interpretativo entre aqueles historiadores (Torgal, Rosas, Collotti, Loff) que colocaram a tónica sobre as características plenamente fascistas do regime português, e outros investigadores que, na senda das taxionomias elaboradas pela politologia americana sobre o totalitarismo (Costa Pinto, Payne, Nolte, Gentile), o situaram no campo do tradicional autoritarismo. A obra não se exime, pois, à questão metodológica central do actual debate historiográfico, tendo o mérito de enfrentar uma contraposição que dividiu a historiografia portuguesa, no intento de fornecer uma abordagem original capaz de a superar, para libertar a pesquisa histórica da vinculação a um debate que se arriscava arrastá-la para uma linha morta.

Alberto De Bernardi
Universidade de Bolonha


Sobre o autor pode ler-se:
Fez o Doutoramento e o Mestrado em História Contemporânea, a Especialização em Ciências Documentais, e a Licenciatura em Filosofia, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Bibliotecário de profissão, quando não é bolseiro de investigação. Membro do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS20). Integra o grupo de investigação Intelectuais e Poder no Mundo Ibero-Americano, com sede na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Obteve, em 2011, uma Bolsa de Pós-Doutoramento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).

Publicou os livros Bissaya Barreto: Ordem e Progresso (Coimbra, 1999), que foi tese de mestrado e se encontra esgotado, e Uma Biblioteca Fascista em Portugal (Coimbra, 2007). O livro O Fascismo Catedrático de Salazar, que foi tese de doutoramento, culmina a publicação de uma constelação de estudos dedicada aos seguintes temas: A Presença de Santo Agostinho na Obra de Hannah Arendt (Coimbra, 2004); La Prima guerra mondiale e le origini ideologiche dello Estado Novo (Roma, 2006); O Estado Novo perante o 28 de Maio e o Fascismo (Coimbra, 2006); O Estado Novo de Salazar como um Fascismo de Cátedra (Bolonha, 2009); Jaime Cortesão (Coimbra, 2010); Fascismo de Cátedra, Violência e Intolerância (São Paulo, 2010) – ensaio que integra o livro de actas Tempos de Fascismo que foi no Brasil, em 2011, 2.º Prémio Jabuti de Ciências Humanas; O Estado Novo de Salazar como um Fascismo Catedrático: Fundamentação Histórica de uma Categoria Política (Ponta Delgada, 2011); e Os Futuristas e a República (Coimbra, 2011).


Uma interessante obra que recomendamos aos nossos ledores.

A.A.B.M.

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