sábado, 3 de novembro de 2012

MANUEL CAETANO DE SOUSA



Nasceu em S. Matias, no concelho de Beja a 23 de Fevereiro de 1891 e morreu no Hospital da Estrela em Lisboa a 13 de Abril de 1974 com 83 anos de idade. Logo aos 16 anos ingressa na vida militar como voluntário. Em 1908 foi promovido a segundo-sargento e colocado no 3º Batalhão de Infantaria nº 17 em Lagos, de onde, alguns anos depois transitou para o Regimento de Infantaria nº 4 em Faro. Casa-se com Maria Francisca Dias, que era natural de Lagos, deste casamento vão nascer três filhas.

Oferece-se como voluntário no chamado “Batalhão de Portugal”, comandado pelo major Ferreira do Amaral e combate na Iª Guerra Mundial na França e na Flandres. Regressado a Portugal após a guerra, em 1918, fixa-se em Faro onde permaneceu até 1932. Na sequência da participação na Guerra, Manuel Caetano de Sousa recebeu a condecoração de cavaleiro da Ordem de Cristo, com palma, em Julho de 1920.

Funda em 1922 o jornal Moca que foi o primeiro jornal de defesa do consumidor no Algarve e possivelmente um dos primeiros em Portugal com essa preocupação. Foi também neste jornal que encontramos um poema de António Aleixo publicado quando ele exercia a profissão de polícia em Faro no início dos anos vinte.

Em 1925 foi candidato a deputado independente pelo círculo eleitoral de Silves, mas não conseguiu ser eleito. Envolveu-se activamente na revolta de 28 de Maio de 1926 devido à admiração que tinha por Mendes Cabeçadas e Gomes da Costa, como ele próprio reconhecia, mas desiludiu-se porque nunca desejou instaurar uma ditadura em Portugal e foi o que resultou da sua colaboração.

Colaborou com diversos jornais e revistas da época entre os quais O Lusitano, O DiaboFolha de Alte, Correio Teatral, Seara Nova, Portugal e Vida Algarvia, foi poeta de inspiração chegando mesmo a publicar um livro de versos muito bem acolhido pela crítica com o título Mãos Calejadas, dedicado a João Serra, que foi seu ordenança na Grande Guerra. Sabemos que também conseguiu ver publicados alguns dos seus versos na revista Seara Nova de que era admirador e assinante.

Exerceu diversos cargos públicos no Algarve como o de Presidente da Junta Geral do Distrito, onde prestou particular atenção aos pobres e desprotegidos, nomeadamente no Asilo Esperança Freire, em 1929, onde chegou a internar mais de cem crianças a partir de 3 anos de idade; conseguiu também do Ministério da Guerra um despacho favorável ao arrendamento à Junta Geral do Distrito do antigo Quartel-General ao Alto de Santana, em Faro, para aí ser instalado um Asilo-Oficina Distrital para o sexo masculino; nessas funções realizou uma récita no Cine Teatro Farense [realizada a 17 de Julho desse ano e contou com a actuação do orfeão do asilo] tratou ainda de conseguir para Faro um Sanatório-Hospital para tuberculosos tendo a Junta Geral a que presidia dotado com 50 contos em prestações trimestrais.

Manuel Caetano de Sousa fez parte da Comissão de Iniciativa e Turismo das Caldas de Monchique e de Faro, em 1931.

Foi um dos fundadores da Mutualidade Popular em Faro.


Foi um homem do 28 de Maio, no qual participou com acção importante, em Faro. Combateu os revoltosos de Fevereiro de 1927. As acusações que, no Moca, dirigiu ao Governador Civil custaram-lhe, como militar, o desterro para Évora, de onde continuou a clamar por justiça e contra a prepotência dos políticos. Regressado a Faro, continuou a querelar e a denunciar as ilegalidades das autoridades. Com a instauração e desenvolvimento da Ditadura Militar, afastou-se do regime, que nunca quis ditatorial, e esteve ligado ao movimento reviralhista. Colaborou em vários jornais. Foi poeta, chegando a publicar um livro de versos, Mãos Calejadas, dedicado ao olhanense João Serra que fora sua ordenança na Grande Guerra.

Publicou:

Ás Armas! Versos Patrióticos, Livraria das Novidades, Lisboa, 1916;
Saudades, Lisboa, Livraria das Novidades, 1916;
Versos, Faro, Livraria das Novidades, Faro, 1920;
Sacrifício de Enfermeira, Tip. Regional, Faro, 1922 [Peça de teatro de um acto em verso];
Rosa Maria (Novela), Livraria das Novidades, Faro, s.d., [1923];
Sinfonia Dolorosa, Livraria das Novidades, Faro, 1923;
- Amor e Dinheiro, s.n., Lisboa, s.d.,[1924?]; [Drama, em quatro actos]
- A Enxurrada, col. Amanhã, Lisboa, 1938; [Romance]
- Quem Canta..., Livraria Palma e Fazenda Ldª., Faro, s. d.[1924]; [Versos, com ilustrações de Raul Carneiro];
- Instruções necessárias aos que procuram organizar grupos espíritas, para trabalhos experimentais, Federação Espírita Portuguesa, Lisboa, 1943.

Na imprensa fica só uma amostra, já que são muitas as referências:
- “As tropas algarvias no dois de Março”, Correio do Sul, Faro, 05-02-1922, Ano III, nº 100, p. 12, col. 1 a 3.
- “Poetas do Algarve: Cantigas só para as almas que amarem a minha terra. Á Mocidade das Escolas”, Correio Teatral, Faro, 05-04-1923, Ano I, nº 6, p. 2, col. 2 e 3. [poesia do livro a publicar “Quem Canta…”].
- “A Fonte e a Alma das Coisas”, Revista de Metapsicologia. Boletim Oficial da Federação Espírita Portuguesa [FEP], Ano III, Nov.1951, nº11, p. 596-602.
[Congressos Espíritas Regionais só se realizaram no Algarve, idem, Agosto 1951, nº 8, organizados por influência de José Francisco Cabrita e Manuel Caetano de Sousa que tiveram influência na difusão do espiritismo no Algarve (Junho 1952, nº6). Em 1951-1953, existia a Sociedade Espírita de Lagos.]
- “«Novidades» ataca o espiritismo – o espiritismo defende-se”, Revista de Metapsicologia. Boletim Oficial da Federação Espírita Portuguesa [FEP], nº 3, Março 1953, p. 65-66, 104. [Trata-se de uma réplica a um artigo publicado no jornal Novidades, de 29 de Março de 1953]

Pertenceu à Maçonaria.
Foi um dos responsáveis pela “Revista de Espiritismo”, da Federação Espírita Portuguesa, e chegou a abrilhantar a lista dos Corpos Sociais da Federação, da qual fazia parte aquando do seu encerramento. Publicou inúmeros artigos baseados em fenómenos mediúnicos, com que enriqueceu as páginas daquela Revista. Destacamos entre eles: “Estranha Entrevista”, Viagem Inesperada”, “A Arte e os Artistas”, “A Fonte e a Alma das Coisas”, “Luz nas Trevas”, “Os fenómenos Supranormais da Universidade Portuguesa”, “Deus e o Conhecimento Humano”… Mas também poemas como “Luz no Natal”, “Ao mais pobre dos meus Irmãos Pobrezinhos…”, ou “Auto da Vida e de Jesus” (Teatro Espiritualista), “Homem!”, mostram bem a sua diversidade intelectual e de como, em prosa ou em verso, ele procurava sempre chamar a atenção para o Divino, para Deus! 

Este militar, combatente na Grande Guerra, foi este ano recordado com a atribuição do seu nome à toponímia farense, em reunião de 22 de Fevereiro de 2012.

A.A.B.M.

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