Uma das personalidades recorrentes que surgem quando se fala da República é o escritor, jornalista e polemista Bourbon e Menezes. Porém, curiosamente, não conseguimos encontrar uma nota biográfica de conjunto com os dados mais importantes e decidimos reunir alguns elementos para traçar a que se segue.
Afonso Augusto Falcão Cotta de Bourbon e Menezes, nasceu em Lisboa, no Chiado, no 3º andar direito do nº 48, a 20 de Fevereiro de 1890 e ficou, sobretudo, ligado ao jornalismo republicano. O pai era monárquico, católico e de princípios conservadores, era amanuense no Ministério das Obras Públicas, onde trabalhou durante cerca de trinta anos.
Em 1910, com pouco mais de 20 anos, participava nos trabalhos de propaganda e demolição do regime monárquico e andava próximo das ideias anarquistas. Participou em algumas reuniões clandestinas como o próprio descreveria mais tarde, onde o seu jacobinismo e radicalismo lhe permitiram conhecer algumas das personalidades curiosas do seu tempo, como João Borges, o célebre carbonário bombista que foi capa da revista Ilustração Portuguesa com José do Vale ou Henrique Trindade Coelho [cf. Bourbon e Menezes, “Autobiografia (Fragmento)”, Ilustração, Lisboa, 16-01-1926, p. 18, que pode ser consultada aqui: http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/Ilustracao/1926/N2/N2_master/N2.pdf]. Segundo ele nessa altura terá também conhecido o Dr. Bernardino Machado. Na véspera do 5 de Outubro de 1910, realizou uma conferência no Círio Civil do Monte, em Lisboa. Teria sido nessa altura que Bourbon e Menezes afirmaria: Como vai ser a República? Não se sabe. O que é preciso é fazê-la.
No ano seguinte assumiu, ainda que por curto período de tempo, a direcção do jornal semanário anarco-sindicalista Germinal, de Setúbal, facto que depois lhe valeu algumas polémicas com o jornal A Sementeira, pois, entretanto, Bourbon e Menezes adere de forma clara ao republicanismo e os seus antigos reagem de forma agressiva [João Freire, “A Sementeira do arsenalista Hilário Marques”, Análise Social, Lisboa, vol. XVII (67-68), 1981-3.°-4.º, p. 778 consultada aqui: http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1224069124O3yAI0xs9Hd74FP0.pdf]
Ingressou na função pública com funcionário do Arquivo de Identificação Civil de Lisboa, tendo chegado a 2º oficial na referida repartição pública e recebido em 1927 um diploma por funções públicas conferido por Cancela de Abreu, enquanto Director Geral do Ministério da Justiça [ver aqui: http://acpc.bn.pt/imagens/colecoes/n13_meneses_bourbon.jpg]
Foi administrador do Concelho de Viana do Castelo após a implantação da República, onde adoptou uma postura repressiva face aos movimentos grevistas que se desencadearam na cidade. Tendo sido o responsável pela prisão de Aurélio Quintanilha, em Viana do Castelo, em 1914, bem como de outras personalidades de relevo da cidade. O próprio Bourbon e Menezes relata que esta experiência como administrador do concelho minhoto foi a sua “desgraça” e foi acusado de se ter vendido à burguesia e de se ter aderido à causa da República.
[em continuação]
A.A.B.M.
[em continuação]
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