segunda-feira, 6 de maio de 2013

BOURBON E MENEZES (PARTE III)

No início da década de vinte, Bourbon e Menezes foi um dos subscritores da denominada “União Cívica”. Esta organização apesar de não se apresentar como um partido político chegou a esboçar um modelo de organização descentralizado. Na comissão directiva de Lisboa vamos encontrar Bourbon e Menezes, acompanhado das principais figuras do movimento: António Sérgio, Jaime Cortesão, Filomeno da Câmara, Ferreira do Amaral, Quirino de Jesus e Francisco Aragão [António Ventura, O Imaginário Seareiro. Ilustradores e Ilustrações da revista Seara Nova (1921-1927), Instituto Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1989, p. 34]. Este grupo heterogéneo de personalidades dos mais variados quadrantes e, consequentemente, uma das suas principais fragilidades. Apesar de no dia 4 de Março de 1923, na sala Algarve, da Sociedade de Geografia de Lisboa, quando o “Manifesto à Nação” foi apresentado publicamente por António Sérgio, o projecto já tinha começado a ser preparado alguns meses antes e a imprensa da época foi acompanhando e apoiando a iniciativa junto da opinião pública.

Ainda no final da década de vinte, envolve-se numa acesa polémica com Raúl Proença, como assinala o António Reis, porque Bourbon e Menezes publicou um artigo no Diário de Notícias de 4 de Dezembro de 1929 onde “equiparava a Ditadura Militar a uma simples regência tornada necessária pela renúncia prática ao poder por parte das forças civis da democracia dissociadas «no frenesi das competições partidárias sem freio»” [António Reis, Raul Proença. Biografia de um intelectual político republicano, vol. II, col. Temas Portugueses, INCM, Lisboa, 2003, p. 92-93]. Proença entende que Menezes tentava fazer uma legitimação de um regime opressivo, quando Menezes se afirmava publicamente como republicano democrata. Isto conduziu ambos os publicistas a uma controvérsia pública crescente que se arrasta entre Novembro de 1930 até Abril de 1931 (Vide Daniel Pires, Raul Proença. Polémicas, Publicações D. Quixote, Lisboa, 1988, p. 751-819], tornando muito difíceis as relações entre ambos, que até ali eram cordiais e que conduziu à publicação de um folheto por parte de Bourbon e Menezes intitulado Proença Furioso e Lastimoso ou a Megalomania de um Messias sem Juízo e a que Raúl Proença responde com a publicação de A Peste …Burbónica, que acabou por não chegar a ser editado, mas que consta no espólio do escritor na Biblioteca Nacional.

A sua faceta polémica acentua-se com a polémica que envolve a saída do Partido Socialista, liderado por Amílcar Ramada Curto. Nessa altura, concede várias entrevistas, uma ao Diário de Lisboa [14-03-1933, Ano XII, nº 3711, p. 5 e pode ser consultado AQUI] outra ao jornal República [16-03-1933, Ano XX, 2ª série, nº 839, p. 1, que pode ser consultada AQUI]

Bourbon e Menezes colaborou nas páginas de A Manhã, jornal dirigido por Mayer Garção, passando depois pelas redacções de O Agitador, O Protesto, Diário da Tarde, República, O Povo, O Mundo, Primeiro de Janeiro, Voz do Operário e Diário de Notícias, onde assinou com regularidade a coluna «Pedras soltas». Grande prosador e polemista, colaborou nas revistas Seara Nova, Ilustração entre muitas outras. Deixou também vários livros de contos e o poema Menino (1925) que Fernando Pessoa teria chegado a verter para inglês.

Em Fevereiro de 1946 foi alvo de uma homenagem por parte dos funcionários do Arquivo de Identificação de Lisboa, mas a notícia do evento foi censurada na maior parte dos jornais.

Algumas pistas apontam no sentido de que a Bourbon e Menezes teria sido oferecida a condecoração com o grau de cavaleiro de Santiago, mas ele ter-se-ia recusado a aceitar, no entanto não conseguimos recolher outras informações mais concretas sobre esta situação, para podermos aferir da sua veracidade.

Os seus pais eram Gaspar Augusto Falcão Cotta de Bourbon e Menezes e Elvira Maria do Carmo Garcia Lopes Van-Zeller. Era irmão da pintora Helena de Bourbon e Meneses, de Luísa Gonzaga Van-Zeller Fernandes e de Georgina Gonzaga Garcia Van-Zeller. Casou com Lívia de Bourbon e Menezes e teve um filho de nome Gilberto de Bourbon e Menezes que foi funcionário da Companhia dos Diamantes de Angola, onde se encontrava aquando do falecimento do pai.

Bourbon e Menezes sofria de problemas cardíacos, tendo a sua situação de saúde sofrido complicações com uma tuberculose pulmonar, a que se juntaram depois outros problemas que culminaram com a sua morte.

Morreu em Lisboa, na rua de S. Mamede, ao Caldas, 15, em 8 de Setembro de 1948 (quarta-feira), contando 58 anos.

No seu funeral participaram muitas personalidades onde se destacam: Boavida Portugal, Francisco José Rocha Martins, Julião Quintinha, o general Ferreira Martins, general Rui Fragoso Ribeiro, coronel Henrique de Sousa Guerra, Ricardo Covões, Bernardino Machado Júnior, Manuel Serras, Alexandre Ferreira, António Lazano, Mário Portocarrero Casimiro, Norberto de Araújo, Cristiano Lima, Herculano Nunes, Matos Sequeira, Artur Portela, Pinto Quartim, David Lopes, António Lopes Ribeiro, António Luís Gomes, João de Deus Ramos, António Joyce, Henrique de Vilhena, Barbosa Soeiro, Ramon la Féria, Jacinto Simões, Feliciano Fernandes, Jaime de Figueiredo, José Pinto Serra, Grácio Ramos, Alfredo Brochado, Augusto Bandeira, Alfredo Cândido, Jacob Levy, Euclides da Costa, entre muitos outros [“O Funeral de Bourbon e Meneses”, República, Lisboa, 09-09-1948, Ano XXXVIII, 2ª Série, nº 6413, p. 5, col.3 e 4].

Alguns dias após o seu falecimento, o jornalista e escritor Julião Quintinha, numa das suas crónicas no jornal República, afirmava sobre Bourbon e Menezes “a sua grande tristeza por ter o filho ausente, e não se poder despedir, ele a soube disfarçar, com exemplar estoicismo. Por certo, muito no íntimo devia ter pena de partir, porque amava a vida. Mas pelo esforço da sua inteligência soube ser superior às sedutoras ilusões, naturalmente, sem os menores sintomas de necrofobia. Acho admirável a maneira natural como Bourbon e Menezes resolveu para si esse antigo e doloroso problema do Homem e a Morte, conseguindo encará-lo com relativa simplicidade” [Julião Quintinha, “Crónica: O Homem e a Morte”, República, Lisboa, 20-09-1948, Ano XXXVIII, 2ª Série, nº 6424, p. 4, col. 2 e 3].

Foi secretário particular de Bernardino Machado, tendo a propósito disso publicado, aquando do falecimento do ex-presidente da República, uma carta que foi enviada sob a forma de artigo para publicação no jornal Notícias da Huíla em 26 de Junho de 1944.

Colaboração na Seara Nova, ver por exemplo aqui:

Sobre a colaboração na Atlântida ver AQUI.

Bourbon e Meneses reconhecia no início de 1920, algo que podemos continuar a apontar aos aparelhos político partidários, mesmo nos dias actuais:
«Sem o contacto popular, que dia a dia vão perdendo, os partidos estão hoje fechados de mais nos seus centros. Direi até: nos seus directórios [...] Mas, sobretudo, do que eles carecem é de um idealismo austero, da comunhão sincera com os anseios do país, de, numa palavra, se mobilizarem para o bem público, democratizando-se genuinamente.»
in A Manhã, 7-3-1920

Publicou na imprensa, entre muitas centenas de artigos:
O NORTE, Porto,
- “Oiro do Reno”, 26-05-1918

CAPITAL, Lisboa (1910-1938)
- “Sobre uma sepultura”, 08-02-1918, nº 2680, p. 2, col. 3 e 4;
- “À Margem da política… Impressões do «Front» Entrevista com o alferes Sr. Bernardino Machado, Filho”, 25-02-1918, nº 2697, p. 1

DIÁRIO DE NOTÍCIAS (1938-1973), NEW BEDFORD:
- “Pedras Soltas: Novos e Velhos,” Jan. 16, 1942, p. 3;
-  “Pedras Soltas: Como Trabalham os Escritores,” Sept. 3, 1942, p. 3.
  
O MUNDO (1900-1926)
- “A Arrábida e o Mar”, 01-01-1923, Ano XXIII, nº 7593, p. 3, col. 3 a 5;
- “O Ensino Religioso e a Constituição”, 08-01-1923, Ano XXIII, nº 7599, p. 1, col. 3 a 5;
- “Uma carta. O Sr. Dr. Germano Martins e a Cerimónia da Ajuda”, 10-01-1923, Ano XXIII, nº 7610, p. 2, col. 1 e 2;
- “A Besta Humana”, 15-01-1923, Ano XXIII, nº 7606, p. 1, col. 2 a 4;
- “Memórias (Apontamentos para um dos capítulos do primeiro volume)”, 20-01-1923, Ano XXIII, nº 7611, p. 1, col. 6 e 7;
- “A Conversão de Junqueiro é uma torpe mistificação da imprensa monárquica”, 29-01-1923, Ano XXIII, nº 7626, p. 1, col. 1 e 2;
- “O que falhou na Revolução Russa”, 05-02-1923, Ano XXIII, nº 7626, p. 1, col. 4 a 6;
(artigo critico em relação a Carlos Rates e ao comunismo que estava a organizar-se nessa altura);
- “A Ocupação do Ruhr. De coração com a França”, 12-02-1923, Ano XXIII, nº 7633, p. 1, col. 3 a 5;
- “As teias de aranha do sr. Conselheiro”, 19-02-1923, Ano XXIII, nº 7639, p. 1, col. 1 e 2 (artigo muito critico sobre Fernando de Sousa – Nemo);
- “Renan”, 26-02-1923, Ano XXIII, nº 7646, p. 1, col. 1 a 3;
- “Verdades escandalosas/ À margem do Apelo à Nação”, 08-03-1923, p. 1 e 2;
 A MANHÃ
- “Seara Nova – uma revista política que não é feita por políticos”, 18-10-1921, p. 1;
SEARA NOVA, Lisboa (1922-  )
- As mães desnaturadas, nº 130 (1928), p. 192-193.

Publicou ainda os seguintes folhetos, capítulos de livros e livros:
- Os Paradoxos de Ademe, Lisboa, 1917;
- Soliloquios Espirituais, Lisboa, 1922;
- Menino (poema em prosa), Lisboa, 1925;
- Diamantes Negros (Pref. e Comp. de poemas de Eduardo Metzner), Lisboa, 1925;
- “Deixando falar a saudade”, À Memória de Luís Derouet. Palavras Justas, Imprensa Nacional, Lisboa, 1928, p. 41-44
- Os Crimes de 19 de Outubro - Revelações & Interrogações Sensacionais, Lisboa, 1929;
- O Diário de João Chagas - A Obra e o Homem, Lisboa, 1931;
- Os Intelectuais e a Causa Operária (Conferência), Porto, 1932;
- Grandeza e Fatalidade do Socialismo (Conferência), Porto, 1932;
- Almas deste Mundo (Contos e Novelas), Lisboa, 1934;
- O Génio e o Coração de Antero, Lisboa, 1934;
- A Ronda da Noite (Contos), Lisboa, 1936;
- Páginas de Combate. Crítica & Doutrina, Lisboa, 1933;
- Figuras Históricas de Portugal, Porto, 1933;
- Sua Graça é Lisboa, Lisboa, 1944 [Digitalizado, mas em cópia interna da BNP];
- A Significação do Anti-Judaísmo Contemporâneo, s.l., 1940;
- Os Portugueses perante a aliança inglesa, Lisboa, 1941;
- Luiz, Pepe, Fado, Mulheres e Toiros, (Pref. Bourbon e Menezes), Lisboa, 1945.
Aproveitamos também para agradecer a referência feita ao Almanaque Republicano no blogue do Dr. Manuel Sá Marques AQUI e AQUI, onde se recorda também a figura de Bourbon e Menezes.

Bibliografia Consultada:
- Pires, Daniel  Raul Proença. Polémicas, Publicações D. Quixote, Lisboa, 1988;
- Quem é Alguém, Lisboa, 1947;
- Reis, António, Raul Proença. Biografia de um intelectual político republicano, vol. II, col. Temas Portugueses, INCM, Lisboa, 2003;
- Ventura, António  O Imaginário Seareiro. Ilustradores e Ilustrações da revista Seara Nova (1921-1927), Instituto Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1989.

A.A.B.M.

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