“Não há maior tortura que a solidão forçada” [Sílvio Lima –
citado por Carlos Leone]
Sílvio
Lima [Sílvio Vieira Mendes Lima] nasce em Coimbra a 5 de Fevereiro de 1904.
Depois de fazer os seus estudos secundários [escreve um livro de poemas, "Maldades", 1921] ingressa na Faculdade de Medicina
da Universidade de Coimbra, mudando posteriormente para a Faculdade de Letras,
onde se licencia (9 de Julho de 1927) em Ciências Históricas e Filosóficas, com
o seu incontornável "Ensaio sobre a ética de Guyau nas suas relações com a
crise moral contemporânea".
Segue
os estudos académicos [sob proposta do dr. Joaquim de Carvalho – de que foi
assistente - e curiosamente de Gonçalves Cerejeira, com quem polemiza mais
tarde – vide o ensaio filosófico, “Notas críticas ao livro do Sr. Cardeal
Cerejeira, A Igreja e o pensamento contemporâneo”, Livraria Cunha, 1930, livro
aliás, que, pela sua posição crítica, conduz a exoneração posterior de Sílvio
Lima da Universidade], onde atinge raro brilhantismo na área da psicologia,
estudando a “problemática da vida do inconsciente” (área pouco comum de análise
académica), frequenta estágios no estrangeiro [Paris, Genebra, Bruxelas] e
apresenta a sua dissertação para Doutor, com o tema, “O problema da recognição
– estudo teórico-experimental”, nas provas do dia 29 de Junho de 1929, com
aprovação de 19 valores. Torna-se professor auxiliar de Ciências Filosóficas
[onde rege a cadeira de Psicologia Escolar e Medidas Mentais, na secção de
Ciências Pedagógicas] em 1931. O ex-estrangeirado Sílvio Lima irá marcar o
estudo e o ensino das ciências sociais em Portugal. O seu livro (raríssimo),
logo apreendido pela censura, “O Amor Místico. Noção e Valor da Experiência
Religiosa” (vol I) [Impr. U. Coimbra, 1935] trouxe ao debate anti-dogmático [temerário,
diga-se, pelo impacto que teve na época] que manteve com o cardeal Cerejeira
[seu antigo proponente, à iniciação académica] o inefável cónego Trindade
Salgueiro [na altura professor de teologia no Seminário e mais tarde bispo de Elvas], que, de imediato [na revista "Estudos", do CADC, nº 93-96] condenou a obra ["invectivando o racionalismo" e sugerindo uma pretensa filiação maçónica de Sílvio Lima - cf. Miguel Real, Sílvio Lima - Filósofo sem Filosofia] e o autor [como todos os do meio católico fizeram], tornando-o objecto da
repressão do regime.
Republicano [“libertário, na sua perspectiva intelectual e
sergiana, de tipo social e reformista” - cf. Luís Reis Torgal, “Estados novos,
estado novo: ensaios de história política e cultural”, vol I] colabora no
jornal “Gente Nova” [1927-28], órgão do Centro Académico de Coimbra (sob edição
de Carlos Cal Brandão, e colaboração de Vitorino Nemésio e Paulo Quintela).
Opositor ao regime da ditadura saída do 28 de Maio de 1926, é demitido – com
base do Decreto-Lei nº 25317, como aconteceu a outros
professores e intelectuais – pelo Estado Novo, do seu lugar da Faculdade, em 13
de Maio de 1935. Afastado de toda a vida escolar e universitária, escreve nos periódicos [O Primeiro de Janeiro, Diário de
Lisboa], publica diversos ensaios sobre educação cívica e desporto, sempre numa
abordagem filosófica.
É reintegrado [pelo então ministro Mário de Figueiredo, estando
na pasta da Justiça o seu cunhado Adriano Vaz Serra] na Universidade a 22 de Janeiro
de 1942, aí regendo a cadeira de “Teoria da História” [lições que circulam via
sebentas, porque nunca foram publicadas], tendo-se aposentando em 1961. Durante
esse período de regresso à Universidade a sua produção teórica na psicologia, pedagogia
e teoria da história manifesta-se profícua, com a publicação de novas obras,
intervenções em conferências e congressos, revelando mesmo uma curiosa atenção
à produção literária nacional, com diversas recensões aos novos escritores.
Democrata, integra em 1945 o MUD, assina petições de oposicionistas
presos (caso de Ruy Luís Gomes), fez parte da Comissão Nacional de Defesa da
Liberdade de Expressão [cf. Luís Reis Torgal, ibidem], apoia em 1962 a luta dos
estudantes da Universidade de Coimbra, participa nas comemorações do 5 de
Outubro. Em 1975 (1 6de Abril) é reintegrado como professor catedrático,
aposentado, no que foi uma homenagem “ainda em vida” ao professor e
intelectual.
Morre a 6 de Janeiro de 1993.
[A CONSULTAR]: Biblos, vol IV, Coimbra, 1979 | Paulo Archer de
Carvalho, “Sílvio Lima, um místico da razão crítica (Da incondicionalidade do
amor intellectualis”, Impr. U.Coimbra, 2009 | Obras Completas de Sílvio Lima, II
vols, FCG, 2002 | Sílvio Lima, por Carlos Leone | Sobre Sílvio Lima, de EduardoLourenço | Sílvio Lima - Filósofo sem Filosofia, de Miguel Real
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