Realizou-se em Coimbra, ao longo
de dois dias (4 e 5 de Outubro) um importante e interessante colóquio dedicado
à temática da República e do Republicanismo, resultante da parceria de dois
centros de investigação: o Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da
Universidade de Coimbra e o Instituto de História Contemporânea, da Faculdade
de Ciências Sociais de Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
A organização do evento foi assegurada pelos seguintes
investigadores do CEIS 20: António Rafael Amaro, João Paulo Avelãs Nunes e
Vítor Neto. E pelo IHC estavam presentes: Luís Farinha, Maria Fernanda Rollo e
Ana Paula Pires.
Com alguns investigadores
estrangeiros como Ángel Duarte, Jon Penche, Sergio Sánchez Collantes, Unai
Belaustegi, Gilda Nicolai, Àngels Carles-Pomar e Maurizio Ridolfi que
suscitaram problemáticas interessantes, apresentando perspectivas novas e
fontes menos acessíveis aos investigadores portugueses.
Das sessões a que nos foi
possível assistir, iniciamos no dia 4 de Outubro, com a conferência do Prof.
Luís Reis Torgal sobre a questão dos feriados, em especial a questão da
“ressurreição” do 5 de Outubro, depois da morte imposta por decreto, como foi
dito “por omissão”, porque deixaram de constar nos feriados nacionais
obrigatórios. No entanto, o professor Torgal chamava a atenção para as várias
alterações que foi sendo necessário introduzir para se chegar ao modelo que
esteve em vigor até agora e que, este ano, sofreu as alterações que se
conhecem. Em especial as de 1948 e as de 1952, sendo que neste ano surgem as
festividades claramente religiosas e desaparecem alguns feriados cívicos.
Depois de algumas intervenções,
comentários e questões, prosseguiram os trabalhos com a reflexão de João
Esteves, sobre a questão “Mulheres, República e Republicanismo”. Uma
intervenção marcada pela análise das recentes publicações que abordam o
universo feminino e a sua intervenção em eventos políticos, sociais e
económicos durante a I República, estudos que por vezes se apresentam como se
fossem estudos pioneiros quando, na verdade, demonstram um conhecimento
diminuto sobre aquilo que já se publicou sobre o tema. As mulheres, na opinião
deste historiador do universo feminino, sempre estiveram presentes em todos os
eventos, mas por vezes a sua participação não foi devidamente valorizada. Hoje
assiste-se ao problema de se recorrer de forma quase sistemática às mesmas
fontes, falar sobre as mesmas personalidades e as mesmas ideias. Elas foram
determinantes em alguns aspectos do regime republicano, mas não se pode
esquecer que eram fortemente minoritárias, letradas e urbanas (por ex. as
professoras primárias).
De seguida, a Professora Fátima
Nunes e Quintino Lopes apresentaram um contributo com base nos “congressos,
republicanismo e construção de identidades”, partindo sobretudo o papel de
Mendes Correia nesse período. Referem-se alguns dos congressos que se realizam
nessa época e o papel que desempenharam no contacto com o conhecimento
científico do estrangeiro e na vulgarização de algumas descobertas feitas pelos
investigadores portugueses. Nesta altura, a atenção tem sido muito centrada nos
congressos de antropologia e arqueologia (mas não o eram em exclusivo) que
recebiam apoios da Junta de Educação Nacional para viagens ao estrangeiro.
O Professor António José Queirós
apresentou uma investigação em curso sobre “O Republicanismo Português em
meados do século XX”, focado em particular na figura de José Domingues dos
Santos. Começa por explicar a questão do anticomunismo entre os republicanos
portugueses que, nos anos trinta, passaram por França e, sobretudo, à falência
da tentativa de dinamizar a Frente Popular Portuguesa em França. A esse
propósito esclareceu uma citação que por vezes aparece, na sua opinião,
erroneamente citada, quando Salazar afirma que realizaria “eleições livres em
Portugal, tão livres como na livre Inglaterra”. Afirmação feita numa entrevista
que concedeu a O Século e ao Diário de Notícias. Porque esta
afirmação foi feita a quatro dias da realização de eleições (14 de Novembro de
1945) quando Salazar já sabia que toda a oposição tinha desistido de ir a
eleições. Refere-se ainda a todo um conjunto de organizações criadas ou
participadas por republicanos em meados do século XX.
Na última sessão de dia 4 de
Outubro, a que tivemos oportunidade de assistir, apresentaram as suas
comunicações a Doutora Teresa Nunes que analisou “A questão da propriedade na
Assembleia Constituinte de 1911” .
A este propósito analisou os diferentes documentos que deram entrada no período
de discussão da Assembleia Constituinte referindo-se em particular aos
projectos de Brito Camacho, de Sebastião de Magalhães Lima, de Fernão de Boto
Machado, António Macieira, José Barbosa, Ezequiel de Campos e Tomás Cabreira.
Procedeu a uma análise e leitura comparativa e analítica dos diferentes
projectos, procurando encontrar traços comuns e principais pontos de
divergência entre os múltiplos autores. Por último, procurou perceber os traços
fundamentais em cada um dos autores quanto ao problema da fiscalidade sobre a
terra e, também, as diversas formas de conseguir o aumento da área cultivada.
Falou de seguida, Daniela dos
Santos Silva sobre a questão da política assistencial da I República Portuguesa
perante um problema preexistente. Sobre a questão da interferência do Estado na
esfera de acção das Misericórdias. Analisa a produção legislativa sobre o tema
e as várias repartições que vão interferir na assistência à população. Por fim,
chega a algumas conclusões sobre a questão como a questão da tentativa de
interferência do poder político sobre as Misericórdias, mas a sua eficácia foi
muito reduzida. Estas instituições continuaram com a sua autonomia, embora com
alguma supervisão por parte do Estado, mas sempre algo limitada.
Apresentou também a sua
comunicação João Lázaro, abordando o desenvolvimento das ideias republicanas na
Póvoa de Santa Iria. Explicando os vários contextos administrativos por onde
passou a freguesia ao longo do tempo. Aborda as iniciativas republicanas e da
propaganda republicana que tiveram lugar na localidade bem como as ligações que
existiram entre alguns dos líderes locais do partido com figuras de âmbito
nacional. Refere-se ainda à ascensão social e política de algumas
personalidades políticas locais ao plano administrativo concelhio.
Por último, David Luna de
Carvalho alertou para a importância dos números das revoltas que ocorreram
durante a I República. Recolhendo cerca de um milhar de referências de “alevantes”
que se desenvolveram pelo País, em especial no período entre 1910 e 1917. Com
esses dados foi possível fazer um tratamento estatístico claro sobre as
preocupações que dominavam essas revoltas. Por outro lado, alertou ainda para a
necessidade de aprofundamento deste trabalho para o período final da República
para se perceber se as razões apresentadas seriam as mesmas que na fase
inicial, onde se chega à conclusão que não razões fundamentadas para se falar
em “guerra religiosa” no País. Houve alguns episódios, mas não foi um problema
generalizado, nem atingiu dimensões tão alarmantes como a questão social ou política.
[em continuação]
A.A.B.M.
2 comentários:
Falta a referência ao A. Barracosa Fernandes, pois esteve neste painel!
Artur Barracosa Mendonça não registou neste post a sua própria intervenção neste colóquio, pois não quis, naturalmente, fazer a sua própria apreciação. Deixarei eu, então, um pequeno apontamento sobre a sua intervenção, importante por se debruçar sobre um assunto pouco investigado, as associações operárias.
A comunicação de Artur Ângelo Barracosa de Mendonça incidiu sobre as Associações Operárias do Algarve durante a I República. Artur Barracosa de Mendonça catalogou-as por concelho, quantificando-as e registando o seu cariz sócioprofissional. Debruçou-se ainda o autor sobre os acervos de fontes para este estudo, salientando a sua escassez e referindo os casos existentes,
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