domingo, 1 de dezembro de 2013

1º DE DEZEMBRO – FESTA DA AUTONOMIA DA PÁTRIA PORTUGUESA


“A Europa jaz, posta nos cotovellos:
De Oriente a Occidente jaz, fitando,
E toldam-lhe romanticos cabellos
Olhos gregos, lembrando.

O cotovello esquerdo é recuado;
O direito é em angulo disposto.
Aquelle diz Italia onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se appoia o rosto.

Fita, com olhar sphyingico e fatal,
O Occidente, futuro do passado.

O rosto com que fita é Portugal”
 
[Fernando Pessoa, O Dos Castellos]
 

… Na verdade, a reacção, política e moral, que vem seguindo seus tramites neste país parece que não está cerce ainda do término do impulso de seu movimento primário; antes a todos se prefigura que ela continuará a desenrolar-se por âmbito ainda longo também. De dia para dia, os governantes vão desgastando, com efeito, em todas as regalias liberais.
 
O que há de mais desanimador neste painel de uma retrogação constante é a indiferença com que uma população inerte assiste a semelhante progressiva usurpação dos seus direitos. Se o movimento descensional não encontrasse os embargos de causas exteriores, poderíamos, mesmo, supor que na ordem política se regressaria ao puro governo absoluto e na ordem moral á extrema intolerância religiosa. Não seria, pois, inteiramente abusiva a hipóteses de que em Portugal se reintegrassem as instituições de períodos históricos ultrapassados e supostos, logicamente, extintos. Em Lisboa voltar-se-ia a acender as fogueiras dos autos-de-fé da Inquisição; e, no Porto, volver-se-ia a montar as forcas das execuções da Alçada. Se hoje há corregedores, breve haveria também sargentos da ordenança; e uma turba embrutecida gritaria novamente: ‘Viva o senhor capitão-mor, que já nos pode mandar enforcar!
 
[Sampaio Bruno, in O Encoberto]
 


"O novo mundo é todo uma alma nova,
Um homem novo, um Deus desconhecido!
Tronos, tiaras, cetros, potestade,
Que pesam na balança da Verdade?
 
É a Revolução! a mão que parte
Coroas e tiaras!
É a Luz! a Razão, é a Justiça!
É o olho da Verdade!"
 
[Antero de Quental]
 
J.M.M.
 


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