domingo, 6 de abril de 2014

A REVOLUÇÃO NA ILHA DA MADEIRA


LAVRADOR (José) — A REVOLUÇÃO NA ILHA DA MADEIRA. Depoimento para a história da política portuguesa. Editorial Alba (2ª ed.), Rio de Janeiro, 1931, 176 p.
"Refere-se o Autor – cônsul do Brasil – a acontecimentos ocorridos na vila de Machico, na Madeira, entre Fevereiro e Abril de 1931. Foi assim: quando a banca deixa de cumprir as suas obrigações perante os depositantes, por “falta de liquidez”, e quando os monopólios cerealíferos transformam o comércio em pura extorsão das populações, brota o desespero amotinado, com seus confrontos policiais, o saque de lojas e armazéns, etc... Mas uma ilha é como um barco! – Uma ratoeira sem saída, onde ganha o mais forte, aquele que estiver armado até aos dentes. E como o governo salazarista se achou pouco, ainda fez apelo à armada inglesa, a “invencível”.

Das condições pré-revolucionárias existentes na altura diz-nos, a certo passo, o Lavrador:

«[...] O Governo da Dictadura agglomerava de deportados a Ilha da Madeira. Era para ahi, que, depois de ligeiras estadias pelas possessões africanas portuguezas, seguiam, mais por um acto de benevolencia do proprio Governo, todos os chefes de goradas conspirações, de movimentos abortados ou revoluções vencidas.
Havia, entre os deportados, homens publicos notaveis pelo seu saber e de certo renome no paiz, altas patentes do exercito e da marinha, e tambem jornalistas e alguns funccionarios publicos.


É preciso ter estudado a psychologia das multidões para se poder comprehender o vulto que essas figuras tomavam na imaginação do povo madeirense. Ellas evidenciaram-se como verdadeiros martyres, sacrificadas por um ideal, sendo, assim, acolhidas com admiração, não só na intimidade das familias como tambem – principalmente os officiaes deportados – em fraternal camaradagem pelas forças aquarteladas na Madeira.

Deu-se o que era inevitavel. As idéas anti-situacionistas foram-se alastrando e, creando profundas raizes no espirito da collectividade, diffundiram-se por todas as classes. E o povo ficou completamente empolgado por essas idéas, convencido que nellas estava a sua propria redempção.

O espirito da revolta, que condensou todo o movimento militar, foi inspirado em amistoso convivio numa pensão da rua dos Netos, em Funchal, entre officiaes deportados e especialmente vindos com as tropas do Continente para manter a ordem. [...]»

via FRENESI
 
J.M.M.

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