terça-feira, 8 de abril de 2014

ARTUR INEZ (1898-1968)


Artur Lopes Inez nasceu em Lisboa, a 5 de Dezembro de 1898. Tipógrafo, tal como o seu irmão António Lopes Inês [que escrevia, com o pseudónimo de “Antero Lima”, no jornal anarquista “A Batalha” – cf. Jacinto Baptista, “Surgindo vem ao longe a Nova Aurora”, p. 188], começou a sua brilhante carreira jornalística no periódico “A Pátria” [dirigido por Nuno Simões], em 1921. E “repórter ficaria toda a vida” [cf. Diário de Lisboa, 8 de Março de 1968].
Antes mesmo de abraçar o jornalismo, colabora (1919) na revista literária “Trova Popular” [cf. Dicionário Cronológico de Autores Portugueses], publicando “crónicas, versos e letras de fado”, algumas sob o pseudónimo de “Rui de Salvaterra”. Data de 1920 a publicação do seu livro de versos, “Sol de Outono”.   

Novelista, crítico de teatro, e também poeta, foi com a paixão do jornalismo, das artes gráficas e do “jornal popular” que Artur Inez se revelou, sentindo “o jornalismo como povo que era, sem jamais renegar a sua origem e sentindo-se bem entre o povo humilde, sofredor, espezinhado muitas vezes, mas sem jamais estender a cerviz ao cutelo do algoz” [ibidem]. Foi jornalista “desportivo, noticioso, jornalista político e revistas consumiram este homem alegre, combativo, franco e lhano, atacando o adversário a que era capaz de estender a mão de amigo” [ibidem].
Jornalista democrata e republicano, pertenceu ao jornal “A Pátria”, passando, depois, para a redacção do jornal “O Século”, “A Capital”, “Rebate”, “Diário da Tarde” “Republica Portuguesa”, jornal “O Povo” (1928 – era dirigido por Ramada Curto). Foi chefe da redacção de “Os Sports” [em 1924, curiosamente teve, entre outros, como colaboradores do jornal, Henrique Galvão, João Pinto de Almeida, Artur Santos, Armando Ávila. Data de 16 de Março de 1924 uma jornada futebolística patrocinada pelos classe jornalística da capital, onde Artur Inez fez equipa com Cândido Oliveira, Belo Redondo, Felix Bermudes, enfrentando o “Carcavelos Club” – cf. Francisco Pinheiro, “História da ImprensaPeriódica Portuguesa (1875-2000)”], do “Diário Popular” e do diário “República” [em 1945, em substituição de José Ribeiro dos Santos e nesse lugar permaneceu durante 12 anos, tendo-se afastado por doença].

A sua colaboração nos jornais desportivos [cf. Francisco Pinheiro, ibidem] é vasta, estando na fundação da revista “Eco dos Sports
[nº1, 7 de Março de 1926 – refira-se que na qualidade de director e jornalista, Artur Inez, juntamente com “mais de 80 jornalistas”, esteve presente, no início de 1929, no apoio e solidariedade com Félix Correia, jornalista do Diário de Lisboa, preso por “ter desrespeitado as indicações da Censura”, conforme fotografia publicada na p. 7 do jornal do dia 10 de Fevereiro de 1929, onde se vê à entrada da cadeia, Artur Inez, Cândido de Oliveira (na altura director de “Os Sports”) e o próprio Félix Correiacf. ibidem];

colaborou no semanário “Jornal de Sports” (nº1, 1 de Maio de 1927); é o fundador e editor da revista desportiva “O Az” [nº1, 14 de Outubro de 1928]; colabora no semanário desportivo “Futebol” [nº1, 9 de Fevereiro de 1935, que tinha como director Moreira Rato e o ilustrador, Vasco].
 
Artur Inez funda e dirige [até 4 de Agosto de 1935] o importante semanário de crítica literária e artística, “O Diabo” [nº1, 2 de Junho de 1934 – ver AQUI], curiosamente um dos primeiros periódicos literários. Pertenceu à Associação dos Trabalhadores de Imprensa, foi director do Sindicato dos Profissionais da Imprensa de Lisboa, dirigente de Caixa de Previdência de Profissionais de Imprensa de Lisboa (Casa da Imprensa) .
Polemista desassombrado, publica no jornal República (1945) uma réplica ao artigo de António Ferro, "A Morte do Sebastianismo”, que foi depois editado em [raro] folheto com o título “Oiça, António Ferro” [44 p.], com carta-prefácio de Ribeiro de Carvalho [1ª e 2º ed., Imprensa Beleza, 1933; 3º ed., 1935].

… Nós não pertencemos ao número, elevado por sinal, dos que o consideram simplesmente um imbecil que passa horas trágicas e aflitivas curvado sôbre a sua secretária do Notícias, de mãos fincadas nos parietais, suando, bufando em busca dum adjectivo salvador e bonito.
Não pertencemos a êsse número, porque o sabemos razoavelmente inteligente, embora de raciocínio lento e de precária realização verbalista, ainda que os seus panegiristas imaginem ou digam o contrário.

O senhor, Ferro, é um torturado da forma, que leva duas horas para escrever um período de quatro linhas que levou quatro horas a raciocinar... E nem sequer é original! (...)
O leitor que me perdoe. Fui mais longe do que queria. Com esta facilidade de escrever com que o destino me dotou, fui por aqui fora e não consegui responder ao Ferro.

Deixá-lo. Já agora não respondo. É que entrou, neste instante, no meu gabinete, um camarada a dizer-me que o 1936, da 8.ª esquadra, sem que o chefe lhe encomendasse o sermão, estava ontem, na Baixa, de chanfalho na dextra a arrancar das paredes alguns exemplares do jornal onde lhe ferrei aquela trepa que o deixou a pão e laranjas.

Ora como posso eu responder ao amigo e correligionário do 1936 da 8.ª esquadra? Nessa não caio eu...” [in Oiça, António Ferro” - AQUI]
Publicou várias obras: “Sol de Outono” (1920), “La Intrusa” (1923), “António Luís Lopes, o Cavaleiro Ribatejano” (1930 – com o pseud. de Rui Salvaterra), “Um bodo Indecoroso. A Burla do Açúcar” (1933 – obra muito polémica na época), “Torel Norte. 5853. Reportagem de Rua” (1934 - policial), “Diário de uma Mulher Casada” (1949)

Morre em Lisboa, a 8 de Março de 1968.
J.M.M.

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