“Os maçons nesta primeira centúria do séc. XXI confrontam-se com um novo paradigma da sociedade global e com as consequências que tal induz no plano do movimento de ideias, da política, da economia e dos comportamentos individuais e sociais.
A queda do muro de Berlim e do comunismo, que
se desvaneceu numa questão de dias, desencadeou um crescimento exponencial da
economia subterrânea com a subsequente desregulamentação dos mercados
financeiros internacionais, originando uma gigantesca injecção de dinheiro na economia
global. Os negócios vasculharam aceleradamente o globo em busca de
oportunidades mais lucrativas, procurando taxas de rentabilidade máxima.
A brutal geração de riqueza então criada é
distribuída de forma desigual a nível mundial e origina grandes oportunidades
de negócios, mas também suscita o desenvolvimento de conflitos regionais, do
crime organizado e da escalada do terrorismo internacional.
Entram artificialmente triliões de dólares no
sistema financeiro mundial que origina negócios especulativos dos mais variados
e cria a base da emergência da corrupção à escala planetária.
A eclosão da crise imobiliária das hipotecas
dos créditos subprime nos EUA arrasta vários bancos para a insolvência, o que
se repercute nas bolsas de valores de todo o mundo. Para evitar que esta crise
se transforme numa crise sistémica e temendo que tocasse a esfera da economia
real, os Bancos Centrais injectam liquidez no mercado interbancário, para
evitar o efeito dominó, com a quebra em cadeia de outros bancos, tentando,
assim, evitar que a crise se ampliasse à escala mundial.
Esta situação gera uma crise de liquidez e de
retracção de crédito que ocasiona uma depressão económica sem precedentes, com
a consequente crise de desregulação económica nos vários países e com a
consequente onda de desemprego que atinge a Europa e Portugal.
A primavera árabe varre o mediterrâneo, berço
da nossa civilização, o que determina novos equilíbrios geoestratégicos, mas
simultaneamente também cria novas oportunidades, falando-se já do mediterrâneo
como “motor da economia global”. O mediterrâneo, no plano maçónico, é palco da
emergência da Confederação das Grandes Lojas do Mediterrâneo e da Europa do Sul
e da União Maçónica do Mediterrâneo, patrocinada pelas maçonarias laicas e
adogmáticas.
Reordena-se a economia, o tecido empresarial,
cultural, ambiental e social, com reflexos, entre outros, no aumento do
desemprego, na precarização do trabalho, na aceleração dos fluxos migratórios,
na destruturação das famílias, na fragilização das economias familiares mais
precárias, … São duramente atingidas as franjas mais frágeis da sociedade,
incluso os jovens e os velhos. O aumento da esperança de vida na Europa,
associado ao desemprego, cria novos problemas na sustentabilidade dos sistemas
de segurança social.
Surgem contestações internacionais a este
quadro político, económico e social, emerge o movimento dos indignados
(Manhattan, Wall Streeet, …), instala-se a insatisfação, quando não pior, o
medo – o medo da perda do emprego, o medo da perda da casa, o medo da perda de
… .
Muscula-se o sistema fiscal, judicial e
policial.
Emergem na geoestratégia internacional novos
blocos internacionais, os BRIC, em que se assiste ao envelhecimento e declínio
da maçonaria nos EUA e Inglaterra, mas, por outro lado, ao forte crescimento da
maçonaria nas democracias do Brasil e da Índia.
Na Europa assiste-se ao despoletar e
crescimento de movimentos nacionalistas e xenófobos. Assiste-se ao
questionamento por via económica e financeira de vitórias arduamente
conquistadas ao longo de anos, incluso de liberdades, direitos e garantias,
chegando a ferir-se, por via da marginalização económica, a dignidade da pessoa
humana.
Esta situação reflecte-se na organização da
maçonaria a nível do mediterrâneo, do espaço ibero-americano e, sobretudo da
maçonaria laica e agnóstica, nomeadamente em França, em que se desencadeiam
novos quadros organizativos e de relacionamento inter-institucional e desta com
a sociedade em geral.
A afirmação da via atlântica do
movimento da lusofonia, em complementaridade com a convivência da via da
integração europeista, gera igualmente novas oportunidades e novos desafios,
quer à sociedade, quer à maçonaria em Portugal.
A Maçonaria em Portugal, perante este quadro,
é confrontada a questionar novos caminhos, oportunidades e desafios, na
afirmação do trajecto da sua história multissecular.
A riqueza das implicações que este tema
suscita incita-nos a partilhar as fronteiras do debate que
seguramente esta conferência, que encerra o ciclo dos “Novos Paradigmas e
Maçonaria”, nos poderá proporcionar"
J.M.M.
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