“A natureza diz a todos os homens: Fiz todos
vós nascerem fracos e ignorantes, para vegetarem alguns minutos na terra e
adubarem-na com vossos cadáveres. Já que sois fracos, auxiliai-vos; já que sois
ignorantes, instruí-vos e tolerai-vos. Ainda que fôsseis todos da mesma
opinião, o que certamente jamais acontecerá, ainda que só houvesse um único
homem com opinião contrária, deveríeis perdoá-lo, pois sou eu que o faço pensar
como ele pensa. Eu vos dei braços para cultivar a terra e um pequeno lume de
razão para vos guiar; pus em vossos corações um germe de compaixão para que uns
ajudem os outros a suportar a vida. Não sufoqueis esse germe, não o corrompais,
compreendei que ele é divino e não troqueis a voz da natureza pelos miseráveis
furores da escola.
(…) Com
minhas mãos plantei os alicerces de um prédio imenso; ele era sólido e simples,
todos os homens nele podiam entrar com segurança; quiseram acrescentar os
ornamentos mais bizarros, mais grosseiros e mais inúteis; e o prédio começa a
desmoronar por todos os lados; os homens pegam as pedras e as atiram uns contra
os outros; grito-lhes: Parai, afastai esses escombros funestos que são vossa
obra e habitai comigo em paz no prédio inabalável que é o meu.”
VOLTAIRE, in Tratado Sobre a Tolerância, Ed. Martins Fontes, S. Paulo, pp.
136-137
J.M.M.
Sem comentários:
Enviar um comentário