José Afonso Palla [mas faz todo o sentido actualizar-se a grafia para Pala], era
filho de Francisco Afonso Pala e Antónia Dias Pala; neto paterno de Francisco Pala
e Isabel Renca e materno de José Gomes da Rosa e de Maria Dias, nasceu na
freguesia de Malhada Sorda, concelho de Almeida, distrito da Guarda em 21 de
Fevereiro de 1861, conforme se pode ver no documento disponível AQUI.
No seu percurso militar encontram-se as seguintes referências:
Em 26 de Março de 1883, assentou praça como
recrutado, sendo incorporado no Regimento de Infantaria 12. Fez o curso preparatório para a Arma de Artilharia na Escola Politécnica e depois o respectivo curso. Foi promovido a segundo tenente em 10 de Janeiro de 1890, tendo sido colocado no Regimento de Artilharia nº 3.
Em 31 de Março de 1892 promovido a 1º Tenente
do mesmo Regimento por Decreto.
Em 21 de Janeiro de 1893 passou ao Estado Maior de Artilharia.
Em 31 de Outubro de 1893 adjunto à Fábrica de Pólvora do Comando Geral de
Artilharia.
Em 10 de Novembro de 1984 passou ao Regimento de Artilharia nº 3.
Em 30 de Junho de 1897 passou à inatividade temporária por ter sido julgado
incapaz de serviço pela Junta Hospitalar de Inspecção.
Em 23 de Dezembro de 1897 colocado no Regimento de Artilharia nº 3.
Em 11 de Setembro de 1899 passou a Tenente.
Em 30 de Setembro de 1901, 1 de Novembro de 1902 e 8 de Agosto de 1903; tem o
Curso Prático de Tiro para Tenente da Escola Prática de Artilharia
e Professor do 2º Curso da Escola Regimental, respectivamente.
Em 29 de Dezembro de 1906, promovido a Capitão por Decreto.
Em 24 de Janeiro de 1907 colocado no Grupo de Artilharia de Guarnição.
Em 18 de Outubro de 1908 Director da Escola do Grupo.
Em 15 de Dezembro de 1910, por Decreto de Ordem do Exército nº 11, foi louvado pela
patriótica dedicação, coragem, fé, inteligência e entusiasmo com que colaborou
para a implantação da República Portuguesa.
Desde 1881 que se assumia como republicano tendo participado de forma activa na propaganda a favor da República. Colaborava com regularidade no jornal O Século, entre outros órgãos da imprensa. Com o desenvolvimento da conspiração que visava o derrube da Monarquia, Afonso Pala integra o núcleo da organização que preparava o golpe, sendo um dos elementos do Comité Militar Revolucionário. Foi durante o período da ditadura franquista, sobretudo a partir de Novembro de 1907, desencadeou todo um conjunto de contactos com Fontes Pereira de Melo, Cândido dos Reis e Machado Santos. Como comandante de uma das baterias do Regimento de Artilharia nº 1 foi um dos participantes na revolta dos militares contra regime monárquico. Juntamente com Ramos da Costa e Fontes Pereira de Melo foi responsável pela elaboração do plano revolucionário dos militares. Na noite de 4 para 5 de Outubro de 1910, quando muitos militares julgaram a causa republicana perdida foi um dos que retiraram da Rotunda, sendo por isso muito criticado por Machado Santos, tendo surgido entre eles uma polémica que se prolongou durante o regime republicano, tendo Afonso Pala, no Parlamento, votado contra a promoção daquele oficial.
Na descrição de Afonso Pala, que nos chega do escritor Rocha Martins, dizia-se:
Militar provinciano, tostado, teimoso, um beirão rijo, sem lavores no dizer, sem talento, mas persistente, o capitão de artilharia, desde a Escola do Exército [...]. Sabiam-no republicano, e em 1891, quando da tentativa do Porto, fora procurado em Viana do Castelo, afim de auxiliar os revolucionários.
Falara com Alves da Veiga, no Hotel Central, um conciliábulo pelo qual se comprometera a levantar a guarnição em Santarém, para onde devia ser transferido [Cf. Rocha Martins, D. Manuel II (Memórias para a História do seu reinado), vol II, Sociedade Editora José Bastos, Lisboa, s.d., p. 206]. O relato que José Afonso Pala deixou escrito e que foi publicado pode ser consultado AQUI.
Foi deputado à Assembleia Constituinte de 1911 pelo círculo de Lisboa, tendo sido o oitavo da lista do Partido Republicano tendo obtido 16068 votos [Cf. António Ventura, Magalhães Lima. Um Idealista Impenitente, Col. Parlamento, Assembleia da República, Lisboa, 2011, p. 35].
Foi durante o debate parlamentar, em 16 de Outubro de 1911, que se utiliza no Parlamento a expressão "jovens turcos" referindo-se a um grupo de militares republicanos indefectíveis que vão marcar quase toda a I República Portuguesa, sempre colocados na facção mais à esquerda do Partido Democrático. Este grupo contava entre outros com António Xavier Correia Barreto, Álvaro de Castro, Alfredo Sá Cardoso, Freitas Ribeiro, Vitorino Godinho, Maia Magalhães, Hélder Ribeiro e Afonso Pala, entre outros. Todos eles ocuparam posições de destaque no regime, como ministros, governadores coloniais, chefes de estado maior, chefes de gabinete, entre outras funções.
Voltou a ser novamente eleito em 1915, pelo denominado Partido Republicano Português ou Partido Democrático, pelo círculo de Lisboa Ocidental, mas não chegou a tomar posse do lugar, pois tinha sido enviado para África durante a ditadura de Pimenta de Castro onde depois foi enviado para África, onde participou nos combates durante a Grande Guerra que tiveram lugar no sul de Angola. Foi precisamente aí que foi gravemente ferido em combate tendo sido promovido a major em 26 de Dezembro de 1914, foi transferido para Angola em 8 de Março de 1915 tendo desembarcado em Moçâmedes em 7 de Abril. Ferido gravemente no combate frente aos Cuanhamas, em Môngua, que acabaram por conduzir à sua morte.
Foi iniciado na Maçonaria, na Loja Simpatia nº 4, do Rito Escocês Antigo e Aceite, com o nome simbólico Afonso de Albuquerque, no ano seguinte passou para a Loja Portugal, nº 178, exclusivamente constituída por militares republicanos. Ficou a coberto a partir de 12 de Dezembro de 1895, regularizando a situação em 24 de Outubro de 1904, na Loja Liberdade, nº 247, do rito francês, na cidade de Santarém. Foi irradiado com toda a loja em 1913, na sequência da cisão que se registou no Grande Oriente Lusitano Unido. Integrou também ainda a loja Elias Garcia nº 184, de Lisboa, onde foi orador. Atingiu o grau 6, na Maçonaria.
No dia 20 de Agosto de 1915, o ministro das colónias, Rodrigues Gaspar informava o Parlamento que tinha recebido do governador geral de Angola a notícia de que o exército português tinha sido atacado "com muita violência pela gente do Cuanhama, no Mongre [sic], a 45 quilómetros de N'Giva e a 60 quilómetros do Humbe, pelas 9.30 horas de 18, durando o fogo duas horas e meia, sendo o inimigo repelido e perseguido pela cavalaria.Tivemos 30 feridos, dos quais 6 oficiais e 6 praças europeus e outras tantas indígenas mortas. A muita violência do fogo originou grande consumo de munições que, reunido à falta de água e à dificuldade de abastecimento, me coloca em situação grave, exigindo demora na Môngua para poder prosseguir. É urgentíssimo que venha tudo quanto tenho pedido, para automóveis, sob pena da situação ser desesperada"[No Sul de Angola. O Cuanhama é derrotado pelas tropas portuguesas, Vanguarda, Lisboa, 21-08-1915, Ano IV, nº 921, p. 2, col. 3. ou notícia em tudo semelhante publicada no jornal, A Capital, Lisboa, 20-08-1915, Ano 6, nº 1811, p. 1, col. 2].
Faleceu em Angola a 18 de Agosto de 1915.
Bibliografia consultada:
- LEMOS, Eduardo Rodrigues Cardoso de, As constituintes de 1911 e os seus deputados / obra compilada e dirigida por um antigo official da Secretaria do Parlamento, Livr. Ferreira, Lisboa, 1911 [Disponível AQUI]
- Marques, A. H. Oliveira (coord.), Parlamentares e Ministros da 1ª República, col. Parlamento, Assembleia da República/Edições Afrontamento, Lisboa, 2000.
- Martins, Rocha, D. Manuel II (Memórias para a História do seu reinado), vol II, Sociedade Editora José Bastos, Lisboa, s.d.
- Ventura, António, Os Constituintes de 1911 e a Maçonaria, Temas e Debates/Círculo de Leitores, Lisboa, 2011.
- Ventura, António, Os Homens do 5 de Outubro. Nos bastidores da Revolução, Edições Público, Lisboa, 2010.
A.A.B.M.
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