Manuel Deniz-Jacinto nasceu em Condeixa-a-Nova a 8 de Janeiro de 1915. Assinalando amanhã o centenário do seu nascimento, organiza-se no próximo dia 10 de Janeiro, sábado, uma homenagem no Cine-Teatro de Condeixa, conforme se pode ver no cartaz abaixo.
Manuel Deniz-Jacinto frequentou as licenciaturas em
Ciências Matemáticas, Engenharia Geográfica e Ciências Pedagógicas, entre 1933
e 1943. Num dos livros de curso é possível encontrar uma curiosa caricatura desta personalidade conforme podemos ver abaixo.
Apaixonado pelo teatro, começou
por ingressar no Grupo Cénico do Fado Académico da Universidade de Coimbra e,
algum tempo depois (1938), fundou com o Professor Paulo Quintela o Teatro dos
Estudantes da Universidade (TEUC), onde ainda se recordam as suas
representações de Diabo nas peças
vicentinas e os cenários desenhados por Tossan. Enquanto estudante foi ainda
Presidente do Orfeon Académico de Coimbra e Presidente da Associação Académica
de Coimbra.
Terminados os estudos
universitários e terminada a II Guerra Mundial envolve-se com as actividades
oposicionistas e adere ao MUD Juvenil, facto que lhe provou logo problemas com
a polícia política. Foi ainda membro do MUNAF (Movimento de Unidade Nacional Antifascista) e do Partido Comunista
Português onde passou a integrar o sector intelectual do PCP na região de
Coimbra.
Em 1945 assume temporariamente
funções como director do Diário de
Coimbra, onde permanece entre 2 de Fevereiro e 4 de Julho, tendo o jornal
sido suspenso de publicação entre 7 de Julho de 1945 e 4 de Julho de 1946. Tudo
indica que o motivo desta suspensão foi a publicação em 29 de Junho de 1945 de
um artigo sobre a história de um trapezista de nome Max, que já com idade
avançada e depois de já ter deixado o trapézio quis regressar à actividade,
contrariando todas as indicações que lhe davam. No entanto, o episódio terminou
de forma trágica já que o trapezista morre. Esta história aparentemente
inocente e aceite para publicação pelos serviços de Censura acaba por ser
associada à figura do reitor da Universidade, Maximino Correia. Visado na
história seria também o próprio chefe de Governo da época (Salazar), facto que
acabou por conduzir à suspensão que atrás fizemos referência [Mário Matos e
Lemos, Jornais Diários Portugueses do século XX. Um Dicionário,
Coimbra, Ariadne Editora/CEIS 20, 2006, p. 248-252]. Porém, a publicação de
alguns artigos polémicos levou a que os Serviços de Censura do Estado Novo o
suspendessem do cargo e posteriormente o demitissem das funções que tinha
assumido.
No ano seguinte foi identificado
pela PIDE como elemento com actividade política que interessava vigiar e acaba
por ser preso na Figueira da Foz em 30 de Setembro de 1949 tendo cumprido pena
até 1953 na Cadeia do Aljube e no Forte/Prisão de Caxias. Nessa ocasião foram
presos também Mário Temido, Albano Cunha, Brito Amaral, António Júdice e Pinto
Loureiro, facto que representou o desmantelamento quase total do Sector
Intelectual do Partido Comunista na região de Coimbra (José Pacheco Pereira, Álvaro Cunhal. Uma Biografia Política. O
Prisioneiro [1949-1960], vol. 3, Círculo de
Leitores, Lisboa, 2005, p. 53). Na sequência destas prisões conhece
a tortura e diversos castigos físicos.
Estabelece-se na cidade do Porto, em 1953, onde desenvolve a sua ligação ao
teatro, aprofundado os seus conhecimentos. Nessa época ingressa no Teatro
Experimental do Porto (TEP), onde desempenhou as funções de director da Escola
de Teatro do TEP. Paralelamente foi leccionando as disciplinas de História do
Teatro e Arte de Dizer. As tarefas pedagógicas e do ensino foram
uma constante na sua vida. Dedicou-se à encenação e procurou transmitir aos
actores que dirigia os ensinamentos que foi recolhendo ao longo dos tempos. O
reconhecimento da sua actividade na cidade invicta levou-o a ser convidado para
dirigir o Curso de Teatro da Escola Superior Artística do Porto (ESAP), desde o
momento da sua criação.
[em continuação]
A.A.B.M.
2 comentários:
Realço a personalidade fascinante que foi Dinis Jacinto na academia de Coimbra enquanto presidente do Orfeon Académico de Coimbra e de presidente da Associação Académica de Coimbra.
Foi com o Professor Paulo Quintela, co-fundador do T.E.U.C ( Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra).
Tive conhecimento de que o meu avô paterno, médico e professor de Medicina na Universidade de Coimbra,foi uma das testemunhas de defesa de Dinis Jacinto, aquando do seu julgamento muito provavelmente em meados dos anos 40 do século XX, num tristemente famoso tribunal plenário.
Até janeiro de 2025, há uma exposição sobre o Deniz Jacinto, o meu avô, na casa dos Arcos de Condeixa-a-Nova. É muito boa. O pai e eu fizemos doação duma parte do seu espólio à Câmara municipal. Gilles Jacinto
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