terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

MARIA LAMAS (Parte II)

A escritora dirige, a partir de 1928, a convite de Ferreira de Castro, a secção “O Reino dos Miúdos”, da Civilização Magazine, que se publica até 1932. Nesse mesmo ano surge também a possibilidade de assegurar a direcção da publicação Modas & Bordados, ligada ao jornal O Século, conquistando nessa fase visibilidade e reputação enquanto escritora e jornalista, além de que lhe permitir algum desafogo económico. Manteve-se ligada a esta revista até Junho de 1947, sob a acusação de ser um dos elementos mais activos do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas. Renova a publicação, conquista novos públicos e consegue transformar a publicação, cuja exploração era deficitária numa publicação lucrativa, entretanto altera-lhe o subtítulo que passa a ser Vida Feminina. Prepara, organiza e divulga a exposição Mulheres Portuguesas – Exposição da obra Feminina Antiga e Moderna de Carácter Literário, Artístico e Científico que fica conhecido como O Certame das Mulheres Portuguesas.

Realizou várias reportagens para O Século, viajando pelo estrangeiro como os escritos que fez sobre Marrocos, Argélia, Gibraltar, mas também sobre a Madeira, entre outros.

Participou também em diversas palestras pelo País, com destaque para as que realizou no Porto, Lisboa, na ilha de São Miguel. Realiza, ainda em 1934, a conferência A Viagem do Espírito nas tardes artísticas de O Século. Torna-se sócia do Sindicato dos Jornalistas, com carteira profissional também neste ano. Organizou várias exposições de arte regional, por exemplo em Lisboa, Porto (no Ateneu Comercial); a exposição de livros escritos por mulheres de todo o mundo realizada na Sociedade Nacional de Belas Artes, em 1947.

Recebe em 1934 a condecoração de Oficial da Ordem de Santiago de Espada atribuída pelo então Presidente da República, Óscar Fragoso Carmona, pelo seu papel em prol das mulheres. No ano seguinte desloca-se à Madeira e aos Açores, onde realiza reportagens, profere conferências. Responde ao Inquérito às Mulheres Portuguesas, organizado por O Diabo em 1936. Nesse ano divorcia-se também pela segunda vez e, novamente, fica com a filha Maria Cândida a seu cargo. Manifesta a sua adesão à Associação Feminina Portuguesa para a Paz e assume a direcção da secção de Educação do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (CNMP).

Em 1937, assume a responsabilidade de organizar um ciclo de conferências nos salões do jornal O Século. Leva a efeito também uma exposição de tapetes de Arraiolos, elaborados pelas reclusas na cadeia das Mónicas.

Maria Lamas inicia a sua vida política, em 1945, assinando as listas de apoio à constituição do MUD – Movimento de Unidade Democrática. Nessa mesma época inicia a sua actividade junto à direcção do Comissão Nacional das Mulheres Portuguesas. No ano seguinte é eleita Presidente do CNMP. Em conjunto com Sara Beirão apresenta uma representação à Assembleia Nacional sobre a capacidade eleitoral feminina, prejudicada pelo decreto-lei n.º 35 426, de 31 de Dezembro de 1945. Participa também no primeiro congresso da Federação Democrática Internacional das Mulheres (FDIM). No ano seguinte assiste ao encerramento da sede da Comissão Nacional das Mulheres Portuguesas por despacho do Governador Civil de Lisboa. Nesse mesmo período organiza, em sociedade com mais dois elementos, a Editora Actuális, onde virá a publicar As Mulheres do Meu País. Participa no II Congresso da Federação Internacional das Mulheres, realizado em Budapeste. Envolve-se de forma decidida na campanha presidencial de Norton de Matos, tendo nessa ocasião participado num comício onde denunciava a política do Estado Novo em relação à mulher e à família.



Em 1949 passa a integrar a Comissão Central do Movimento Nacional Democrático (MND). Nesse mesmo ano foi detida passando algum tempo na cadeia de Caxias e dirige a revista As Quatro Estações. Submetida a julgamento em 1950 acaba por ser condenada juntamente com os restantes elementos da Comissão Central do Movimento Nacional Democrático acabando por ser amnistiada. Realiza a conferência A Paz e Vida. A Polícia Internacional de Defesa do Estado descobre novos envolvimentos de Maria Lamas nas actividades oposicionistas e volta a ser detida em Caxias, onde se manifestam alguns problemas de saúde. Envia correspondência a Oliveira Salazar onde protesta contra a detenção dos elementos dirigentes do Movimento Nacional Democrático. Enquanto dura esta detenção começa a escrever um diário em que narra as condições quotidianas experienciadas na cadeia. Devido a razões de saúde acaba por ser transferida, ainda sob prisão, para o Hospital de Santo António dos Capuchos. No ano seguinte, volta à liberdade e dedica-se à tradução das obras da Condessa de Ségur, João que Chora, João que Ri.

[EM CONTINUAÇÃO]

A.A.B.M.

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