quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

VITORINO NEMÉSIO – UMA EVOCAÇÃO [TERTÚLIA EM COIMBRA]


TERTÚLIA: O VERBO E A MEMÓRIA / "Vitorino Nemésio – Uma Evocação”;
DIA: 20 de Fevereiro 2015 (21,00 horas);
LOCAL: Café Santa Cruz (Coimbra);
ORGANIZAÇÃO: Pro Associação 8 de Maio & Café Santa Cruz.

PARTICIPAÇÃO: Orfeão Académico de Coimbra | Manuel Freire | Ana Loureiro (soprano) | Tiago Nunes (teclas) | António Vilhena | Carlos Santarém Andrade | Emília Nave | José Garrucho | Pires de Carvalho | Ricardo Kalash | Francisco Paz

DIA 21 DE FEVEREIRO de 2015 (12,00 horas) – Descerramento de uma lápide na campa de Vitorino Nemésio, Cemitério dos Olivais (Coimbra)

Vitorino Nemésio (1901-1978), aliás Vitorino Nemésio Mendes Pinheiro da Silva, nasceu na Praia da Vitória (Terceira, Açores) a 19 de Dezembro de 1901. Estudou no liceu de Angra (de onde foi “expulso”), terra, aliás, onde o ideário republicano (e libertário) o iluminou. Fez posteriormente os exames como externo no Liceu Nacional da Horta, concluindo esses estudos preliminares em Julho de 1918 [conclui o curso do liceu já em Coimbra, em 1921]. Antes (1916) publica o seu primeiro livro, “Canto Matinal”. Em 1919 serve a arma de infantaria, pelo que saiu por esses mares adiante, descansando da intriga do “mau tempo no canal”. 

 
Em Coimbra, matricula-se em Direito, mas três anos depois endereça os seus estudos para o curso de Histórico-Filosóficas e em 1925 em Filologia Românica.

O ano de 1923 foi-lhe particularmente benéfico: conhece Miguel de Unamuno (com quem não deixará de trocar correspondência pela vida fora) e é iniciado na Loja “A Revolta”, nº 336, do GOLU, com o n.s. de “Manuel Bernardes”. Em 1924 atinge o grau de Mestre. O maçon “Manuel Bernardes” teve afastado da actividade maçónica durante alguns anos, mas “comportou-se sempre como um verdadeiro maçon” [cf. António Ventura, “Uma História da Maçonaria em Portugal”, p. 830] e já depois do 25 de Abril de 1974 o seu processo de regularização na Loja “Liberdade e Justiça” estava em fase de conclusão [ibidem], o que não se verificou pelo seu falecimento.

Em 1924 é um dos fundadores da revista coimbrã “Tríptico”, juntamente com Afonso Duarte, António de Sousa, Branquinho da Fonseca e João Gaspar Simões. No ano seguinte (15 de Março de 1925) é o director do curioso jornal “Humanidade”, jornal quinzenal dos estudantes de Coimbra [fundado em 1912 pelas lojas maçónicas de Coimbra].

Em 1927, com actividade intensa no Centro Republicano Académico de Coimbra, Vitorino Nemésio e Carlos Cal Brandão, ambos obreiros da Loja “A Revolta”, iniciam a publicação do jornal republicano académico “Gente Nova” [com Paulo Quintela e Sílvio Lima]. Em 1928 termina Filosofia na Universidade de Coimbra com a tese, “O problema da recognição” e começa a escrever na “Seara Nova”. Em 1930, já na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, conclui Filologia Românica e lecciona (1931) nessa Universidade, literatura italiana e espanhola. Colabora poeticamente na revista “Presença” (1930). O ano de 1934 encontra-o doutorado com a tese (de que saiu livro) “A Mocidade de Herculano até à volta do Exílio”.

Entre 1937-1939 dirige a “Revista de Portugal” (Coimbra) e lecciona na Universidade Livre de Bruxelas, tendo regressado em 1939 à Faculdade de Letras de Lisboa, onde se jubilou a 12 de Setembro de 1971.


Romancista, escritor e poeta, Vitorino Nemésio deixou obra farta e primorosa, tendo colaborado em diversos jornais e revistas literárias. Assim, já em 1916, funda a revista literária “Estrela d’Alva”, colabora na revista “Bizãncio” (Coimbra, 1922), “Cadernos de Poesia”, revista “Aventura”, revista “Litoral”, na revista “Vértice”; é redactor do jornal “A Pátria” (1920), “A Imprensa de Lisboa” (1921), “Última Hora” (1921), no jornal “O Diabo” (1935), “Diário Popular (1946), revista “Observador” (1971) e é director do jornal “O Dia” (1975 – que abandona depois por não aceitar as “graves acusações [feitas por Henrique Cerqueira] a vários antifascistas” no caso Henrique Delgado].

A sua obra de perfeição, "O Mau Tempo no Canal” data de 1944, mas antes publicou "Paço do Milhafre" (1924), "Varanda de Pilatos" (1926), "A Casa Fechada" (1937). A sua bibliografia poética é extensa e valiosa: "Canto Matinal" (1916), "Nave Etérea" (1922), "O Bicho Harmonioso" (1938), "Eu, Comovido a Oeste" (1940), "Nem Toda a Noite a Vida" (1953), “O Pão e a Culpa" (1955), "O Verbo e a Morte" (1959), "O Cavalo Encantado" (1963), "Andamento Holandês e Poemas Graves" (1964), "Violão do Morro. Seguido de Nove Romances da Bahia" (1968), "Limite de Idade" (1972), "Sapateia Açoriana" (1976), entre outros.

Morre a 20 de Fevereiro de 1978, no hospital da CUF e será sepultado, a seu pedido, no cemitério de Santo António dos Olivais de Coimbra.  

Vitorino Nemésio foi um homem das letras, um poeta com génio, e mesmo que a história (datada de 1979) nunca totalmente esclarecida de uma sua putativa (e escandalosa) adesão ao separatismo açoriano (via FLA), de uma republica insular, e que o estigmatiza [tanto quanto o “indigna” – s/ o assunto ver Manuel Ferreira, "Vitorino Nemésio e a sapateia açoriana loucura ou traição”, 1988] no pós Abril de 1974, nada fará esquecer essa figura impar da nossa portugalidade. E bem estão aqueles que sabem que “em terra onde há ritos, tem que haver quem celebre” (V.N.). Como no dia 20 de Coimbra se cumprirá.
 
J.M.M.

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