TERTÚLIA: O
VERBO E A MEMÓRIA / "Vitorino Nemésio – Uma Evocação”;
DIA: 20
de Fevereiro 2015 (21,00 horas);LOCAL: Café Santa Cruz (Coimbra);
ORGANIZAÇÃO: Pro Associação 8 de Maio & Café Santa Cruz.
PARTICIPAÇÃO: Orfeão
Académico de Coimbra | Manuel Freire | Ana Loureiro (soprano) | Tiago Nunes
(teclas) | António Vilhena | Carlos Santarém Andrade | Emília Nave | José
Garrucho | Pires de Carvalho | Ricardo Kalash | Francisco Paz
DIA
21 DE FEVEREIRO de 2015 (12,00 horas) – Descerramento de uma lápide na campa de
Vitorino Nemésio, Cemitério dos Olivais (Coimbra)
Vitorino Nemésio (1901-1978), aliás Vitorino Nemésio Mendes
Pinheiro da Silva, nasceu na Praia da Vitória (Terceira, Açores) a 19 de
Dezembro de 1901. Estudou no liceu de Angra (de onde foi “expulso”), terra,
aliás, onde o ideário republicano (e libertário) o iluminou. Fez posteriormente
os exames como externo no Liceu Nacional da Horta, concluindo esses estudos
preliminares em Julho de 1918 [conclui o curso do liceu já em Coimbra, em 1921].
Antes (1916) publica o seu primeiro livro, “Canto Matinal”. Em 1919 serve a
arma de infantaria, pelo que saiu por esses mares adiante, descansando da
intriga do “mau tempo no canal”.
Em Coimbra, matricula-se em Direito, mas três anos depois
endereça os seus estudos para o curso de Histórico-Filosóficas e em 1925 em
Filologia Românica.
O ano de 1923 foi-lhe particularmente benéfico: conhece Miguel
de Unamuno (com quem não deixará de trocar correspondência pela vida fora) e é
iniciado na Loja “A Revolta”, nº 336, do GOLU, com o n.s. de “Manuel Bernardes”.
Em 1924 atinge o grau de Mestre. O maçon “Manuel Bernardes” teve afastado da
actividade maçónica durante alguns anos, mas “comportou-se sempre como um verdadeiro
maçon” [cf. António Ventura, “Uma História da Maçonaria em Portugal”, p. 830] e
já depois do 25 de Abril de 1974 o seu processo de regularização na Loja “Liberdade
e Justiça” estava em fase de conclusão [ibidem], o que não se verificou pelo
seu falecimento.
Em 1924 é um dos fundadores da revista coimbrã “Tríptico”,
juntamente com Afonso Duarte, António de Sousa, Branquinho da Fonseca e João
Gaspar Simões. No ano seguinte (15 de Março de 1925) é o director do curioso
jornal “Humanidade”, jornal quinzenal dos estudantes de Coimbra [fundado em
1912 pelas lojas maçónicas de Coimbra].
Em 1927, com actividade intensa no Centro Republicano Académico
de Coimbra, Vitorino Nemésio e Carlos Cal Brandão, ambos obreiros da Loja “A Revolta”,
iniciam a publicação do jornal republicano académico “Gente Nova” [com Paulo Quintela
e Sílvio Lima]. Em 1928 termina Filosofia na Universidade de Coimbra com a
tese, “O problema da recognição” e começa a escrever na “Seara Nova”. Em 1930,
já na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, conclui Filologia Românica
e lecciona (1931) nessa Universidade, literatura italiana e espanhola. Colabora
poeticamente na revista “Presença” (1930). O ano de 1934 encontra-o doutorado
com a tese (de que saiu livro) “A Mocidade de Herculano até à volta do Exílio”.
Entre 1937-1939 dirige a “Revista de Portugal” (Coimbra) e lecciona
na Universidade Livre de Bruxelas, tendo regressado em 1939 à Faculdade de
Letras de Lisboa, onde se jubilou a 12 de Setembro de 1971.
Romancista, escritor e poeta, Vitorino Nemésio deixou obra farta
e primorosa, tendo colaborado em diversos jornais e revistas literárias. Assim,
já em 1916, funda a revista literária “Estrela d’Alva”, colabora na revista “Bizãncio”
(Coimbra, 1922), “Cadernos de Poesia”, revista “Aventura”, revista “Litoral”,
na revista “Vértice”; é redactor do jornal “A Pátria” (1920), “A Imprensa de
Lisboa” (1921), “Última Hora” (1921), no jornal “O Diabo” (1935), “Diário
Popular (1946), revista “Observador” (1971) e é director do jornal “O Dia”
(1975 – que abandona depois por não aceitar as “graves acusações [feitas por
Henrique Cerqueira] a vários antifascistas” no caso Henrique Delgado].
A sua obra de perfeição, "O Mau Tempo no Canal” data de 1944, mas
antes publicou "Paço do Milhafre" (1924), "Varanda de
Pilatos" (1926), "A Casa Fechada" (1937). A sua bibliografia poética
é extensa e valiosa: "Canto Matinal" (1916), "Nave Etérea"
(1922), "O Bicho Harmonioso" (1938), "Eu, Comovido a Oeste"
(1940), "Nem Toda a Noite a Vida" (1953), “O Pão e a Culpa" (1955),
"O Verbo e a Morte" (1959), "O Cavalo Encantado" (1963), "Andamento
Holandês e Poemas Graves" (1964), "Violão do Morro. Seguido de Nove
Romances da Bahia" (1968), "Limite de Idade" (1972), "Sapateia
Açoriana" (1976), entre outros.
Morre a 20 de Fevereiro de 1978, no hospital da CUF e será
sepultado, a seu pedido, no cemitério de Santo António dos Olivais de Coimbra.
Vitorino Nemésio foi um homem das letras, um poeta com génio, e
mesmo que a história (datada de 1979) nunca totalmente esclarecida de uma sua
putativa (e escandalosa) adesão ao separatismo açoriano (via FLA), de uma republica
insular, e que o estigmatiza [tanto quanto o “indigna” – s/ o assunto ver
Manuel Ferreira, "Vitorino Nemésio e a sapateia açoriana loucura ou traição”,
1988] no pós Abril de 1974, nada fará esquecer essa figura impar da nossa
portugalidade. E bem estão aqueles que sabem que “em terra onde há ritos, tem
que haver quem celebre” (V.N.). Como no dia 20 de Coimbra se cumprirá.
J.M.M.
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