quinta-feira, 9 de abril de 2015

"OS ULTIMOS DIAS DA PIDE" - DOCUMENTÁRIO DE JACINTO GODINHO: ANTE-ESTREIA NA FUNDAÇÃO MANUEL VIEGAS GUERREIRO



Realiza-se no próximo sábado, dia 11 de Abril de 2015, pelas 16 horas, no Auditório da Fundação Manuel Viegas Guerreiro, em Querença, concelho de Loulé, a ante-estreia do documentário realizado pelo jornalista e investigador Jacinto Godinho.

Na mesma ocasião vai também ser apresentada a obra de Luísa Tiago de Oliveira, Os Militares e o 25 de Abril que já aqui se divulgou.

O tema é, como o título sugere, polémico mas aliciante para uma visita à Fundação Manuel Viegas Guerreiro e conhecer o excelente espaço para estas iniciativas fora dos grandes centros urbanos.

Pode ler-se na nota de divulgação do evento:

Em Portugal, no dia 25 de Abril de 1974, os homens da camaras cinematográficas e fotográficas convergiram para dois locais que se tornaram os palcos mediáticos da revolução militar. Ao longo de 40 anos a narrativa histórica oficial concentrou-se nesses dois locais de Lisboa -Terreiro do Paço e Largo do Carmo - privilegiando a história do capitão Salgueiro Maia. Maia tornou-se no herói romântico do 25 de Abril desde manhã quando pôs em fuga os Ministros do Terreiro do Paço até tarde quando obteve a rendição do presidente do Conselho Marcelo Caetano no Largo do Carmo por volta das 18 horas. Ao longo de 40 anos a memória comemorativa dos média e a historiografia oficial não só não fugiram desta narrativa como a ainda a foram aprofundaram tornando-a icónica da revolução.

Mas uma investigação alternativa da historiadora Luísa Tiago Oliveira realizada por alturas dos 40 anos do 25 Abril mostra que houve outros acontecimentos tão os mais decisivos para a revolução e cujo conhecimento altera a história conhecida.

Assim os homens fieis ao Estado Novo quando se renderam aos revoltosos, entregaram-se ao general Spínola. Para eles o regime não caia apenas mudava de mãos.

-A verdadeira revolução não foi planeada, iniciou-se no próprio 25 de Abril, fora dos locais mediáticos. Aconteceu na Rua António Maria Cardoso, a sede da Pide/Dgs a temida policia politica do Estado Novo, apenas a 500 metros do Largo do Carmo, onde estavam os militares e se concentravam praticamente todas as objectivas de filmar e fotografar .

Na rua António Maria Cardoso, desde a madrugada do dia 24 até ao fim do dia 26, aconteceram inúmeros casos dramáticos mas para espanto actual não ficaram praticamente registadas em filmes e fotos apesar de nesse dia todos os profissionais credenciados estarem na rua a filmar e fotografar sem censura.

Houve duas tentativas de ocupação da sede da PIDE/DGS por parte das forças de fuzileiros. Aconteceram três manifestações populares que terminaram num massacre com 5 mortos e 45 feridos. Naquela rua revolução não foi dos cravos. O vermelho era mesmo do sangue que escorreu nas ruas e da muita violência exercida pela polícia. No entanto contam-se pelos dedos de uma mão as fotos que registam de forma fugaz estes incidentes.

Esta investigação colocou-se perante o seguinte dilema. Podem as mesmas imagens do arquivo audiovisual e fotográfico contar uma narrativa diferente e ajudarem a desvelar a história oculta do 25 de Abril?

Esta investigação decidiu usar e cruzar todas as fontes possíveis para recolher o máximo de informações. Isto só foi possível devido aos recentes processos de digitalização no arquivo audiovisual da RTP, tanto de televisão como de rádio. Recorreu-se também ao espólio digitalizado dos fotógrafos que se destacaram no 25 de Abril. Usámos também os jornais e revista da época digitalizados. Só assim foi possível fazer este trabalho inédito de cruzar imagens, fotos, reportagens radiofónicas, páginas de jornais, documentos recolhidos por historiadores e testemunhos dos protagonistas.

No interface do computador foi possível cruzar imagens e fotos para reconhecer protagonistas. Imagens e sons para afinar horas melhor em que ocorreram efectivamente os acontecimentos e resolver dilemas da memória pessoal.

Descobriram-se imagens inéditas dos mortos momentos antes dos massacres, identificaram-se manifestantes feridos, desconhecidos durante 40 anos. Refez-se uma história oculta que permite interpretar os acontecimentos do 25 de Abril através de novas linhas de interpretação. Percebe-se todo o processo que foi de um golpe militar e acabou numa revolução se deve à inesperada queda dos serviços secretos portugueses e especialmente a tomada dos seus preciosos arquivos.

Com os votos do maior sucesso para esta iniciativa que com todo o gosto divulgamos a todos os amigos que nos visitam.

A.A.B.M.

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