segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

À MINHA LOJA MÃE – RUDYARD KIPLING


À Minha Loja Mãe”, de Rudyard Kipling, s/l (Figueira da Foz), s/d (Janeiro de 2016), p. 32

Trata-se de uma curiosa e esmerada edição, de tiragem reduzida, do apreciado poema “À Minha Loja Mãe” de Rudyard Kipling, evocando o 80.º aniversário da sua morte (18 de Janeiro de 1936). O poema é apresentado em inglês e português e vem ornado com nove desenhos, originais e a cores, a todo o tamanho das páginas, que o ilustram e lhe “dão mais beleza”. Tem um curioso posfácio e é acompanhado de textos de Fernando Lima (Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano), de “Alexandre Herculano" (n.s.) e de António Lopes. De muito apreço.

"Rudyard Kipling, poeta, romancista e contista, O Livro da Selva e Kim, entre outros, laureado com o Prémio Nobel em 1908,foi iniciado na maçonaria, com dispensa de idade, na loja Hope and Perserverance de Lahore,da multifacetada Índia, e, posteriormente, membro de várias lojas maçónicas..

Kipling escrevia com a convicção que as ideias e valores maçónicos, transmitidos nas suas histórias, eram aceites e partilhados pelos seus leitores, como em "0 homem que queria ser rei", "Com a guarda"ou a "Viúva em Windsor". O poema "A minha pedra cúbica" é a oração de um obreiro Maçom; O trabalho, o esforço e a perseverança espelham-se no poema "O palácio", a maçonaria operativa está no conto "A coisa errada", que contém o célebre "Se". Mas é na recolha "Sete mares" que se encontra o seu comovente e mais conhecido poema maçónico, "Loja Mãe", dedicado à memória da sua primeira loja, lugar inesquecível da iniciação em todo o seu significado.

A diversidade da composição humana da Loja, o reconhecimento e o respeito pelo outro, a tolerância e o sentimento de pertença sublinham aí valores maçónicos universais que subjazem em toda a espiritualidade, filosofia e prática maçónica de uma actualidade que nunca é demais sublinhar, em tempos de barbárie, fundamentalismos e exclusão.

Este humanismo nunca é demais sublinhar e recordar em tempos difíceis. servindo de exemplo e guia para todos nós. Kipling não será nisto nunca esquecido”. [Fernando Lima, Grão-Mestre do GOL - sublinhados nossos]



“A poesia é mais verdadeira do que a história. Porque não é a história que faz o homem, mas o homem que faz a história, mesmo sem saber que história vai fazendo. Daí que o paradoxo ainda continue a ser a melhor forma de acedermos à verdade, porque esse é o conteúdo da fé, pelo qual o eterno vem ao tempo, como salientava Kierkegaard. A poesia é, assim, mais verdadeira do que a história, a que não é causa, provocada pelos teóricos do processo histórico, sob a forma de ideologias, mas antes o simples produto das ações dos homens e não das respetivas intenções e planeamentos, porque são mesmo os poetas que movem a humanidade, sentindo as correntes profundas. Daí, a maçonaria, porque faz conviver a história com o mistério e apenas ascende quando se torna poesia. Como a de Rudyard Kipling, quando tentava elevar o imperialismo britânico na Índia, onde nasceu, em esforço de civilização, agregando cristãos, muçulmanos, hindus, sikhs e judeus. Até estava inserido naquele movimento de criação do movimento scout, de Baden Powell, procurando um método educativo para uma nova forma de vida. Aliás, quatro anos depois do lançamento de tal movimento, um jovem oficial português, Álvaro de Melo Machado, iniciado maçom desde 1907, fundava, em Macau, o primeiro grupo de escoteiros em território português, quando já era bastante ativa a loja Luís de Camões, que mobilizava personalidades como Camilo Pessanha e o jornalista Francisco Hermenegildo Fernandes. O poema de Kipling, sem qualquer cedência ao cientificismo, chame-se futurologia ou prospetiva, supera, em plenitude, as próprias vulgatas esotéricas, revelando o essencial dos homens de boa vontade que querem ser homens livres, conforme o berço do estoicismo, do judaísmo, do cristianismo e do islamismo, bem contrário aos totalitarismos grupais e aos respetivos fundamentalismos (…) [“Alexandre Herculano” (n.s.) - sublinhados nossos]

“ (…) Na Loja, a Igualdade é o resultado da harmonia que deve reinar, constituindo a força da união entre os Irmãos. A igualdade é lembrada ao neófito logo no seu primeiro contacto com a Loja, quando ele se apresenta perante esta “nem nu, nem vestido”. Significa que qualquer  diferenciação social derivada do seu modo de vestir não tem qualquer valor e que a sua primeira roupa são os paramentos maçónicos, neste caso o avental que lhe será entregue. Com ele coloca-se em plano de igualdade perante os Irmãos e com ele é-lhe lembrado o valor do trabalho em Loja. Por seu lado, a fraternidade, que a Maçonaria elege como outro dos seus pilares,  encontra assim expressão na ligação à realidade cívica de cada cidadão.

É a igualdade plena que impede que um indivíduo se sobreponha ou domine outro, transformando-se por isso e naturalmente em fraternidade. A esta nova realidade associam-se o cosmopolitismo e a tolerância. Sendo o primeiro um ideal antigo - Sócrates já se considerava um cidadão do mundo - o cosmopolitismo é um estado de espírito e um modo de viver que constituem uma referência intimamente associada à Liberdade e à Igualdade, mas que pressupõe uma atitude fraterna para com o outro (…) [António Lopes - sublinhados nossos]

J.M.M.

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