“… Vivemos governados por um excesso de estímulos, amplificados por uma
sociedade que encontra na permanente exposição a melhor forma de se esconder,
isto é, de não se pensar. Estranho modo de vida, este, que nos leva de ruído em
ruído, preferindo o 'aborrecimento de viver' à 'alegria de pensar' (Gaston
Bachelard).
Precisa-se, neste 'tempo detergente', de um pacto de silêncio, de uma
pausa que permita ver para além da poeira dos dias que correm. Pensar exige
tranquilidade, persistência, seriedade, exigência, método, ciência …
O futuro ainda demora muito tempo? Nada mudou? Tudo mudou? Estamos num momento de transição. Pressentimos o fim de um ciclo histórico, iniciado em meados do século XIX, quando se inventou a modernidade escolar e pedagógica. Mas temos dificuldade em abrir caminho à contemporaneidade …”
[António Sampaio da
Nóvoa - Evidentemente. Histórias da Educação]
“ … Os economistas, especialistas e comentaristas “decretaram” (é esta a
palavra certa) que se gasta de mais na educação. A ideia é falsa, mas toda a gente
parece aceitá-la sem discussão. Estranho e medíocre consenso! É verdade que,
durante um curtíssimo período de tempo, Portugal se aproximou, por volta do ano
2000, da média dos então 15 países da União Europeia... depois de séculos de atraso.
Eu digo, se aproximou, porque, em termos de despesa total por aluno, só havia
um país que gastava menos do que Portugal, que era a Grécia; e em termos de
percentagem da despesa com a educação e formação em percentagem do produto interno
bruto, Portugal continuava abaixo da média europeia. Claro que eu junto, como
não podia deixar de ser, as três parcelas dos relatórios da União Europeia
(despesa pública, despesa privada e despesa das empresas). É assim que se fazem
as contas. É assim que se definem os objectivos estratégicos dos países.
Mas os nossos economistas, que gostam de torturar os dados até que eles
confessem, limitam-se a citar a primeira parcela (despesa pública) e partem daí
para um raciocínio que está todo ele errado. Desenganemo-nos. É urgente um
maior esforço do Estado, e um maior esforço das famílias, e um maior esforço
das empresas. Não queiramos colher aquilo que não semeámos! …”
[António Sampaio da
Nóvoa – in Entrevista. Pela
Educação]
“… Disse, e repito, prefiro um mundo imperfeito, com liberdade, do que um
plano perfeito, sem ela. Estou disposto a renunciar a tudo, menos à liberdade.
Sei bem que, nos tempos que correm, não podemos perder tempo com
pessimismos. Fala-se das universidades como instituições com um grande passado
(em Portugal, nascemos há mais de 700 anos) e com um glorioso futuro (dizem-nos
que somos as instituições centrais das 'sociedades do conhecimento').
Um grande passado e um glorioso futuro. E o presente? Parece que o
presente “desapareceu” no meio de tanto passado e de tanto futuro. A mim,
interessa-me o presente, o presente futuro certamente, o presente como futuro.
O futuro? Mas o futuro não existe, exclamou um dia António Sérgio!
Existe, sim. Existe o futuro como ideia. O que constitui uma nação não é uma
causa eficiente: é sempre sim uma causa final: um projecto, um plano,
uma ideia do que há-de ser …”
[António Sampaio da
Nóvoa]
J.M.M.
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