sábado, 26 de março de 2016

O CASO DOS “DIVODIGNOS” E AS LUTAS ENTRE LIBERAIS E ABSOLUTISTAS



LIVRO: O caso dos “Divodignos” e as lutas entres liberais e  absolutistas. História. Memória e Ideologia;
Autor: Luís Reis Torgal;
EDIÇÃO: Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova, 2016.

A Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova promoveu o lançamento do livro 'O Caso dos ‘Divodignos’ e as Lutas Entre Liberais e Absolutistas: História, Memória e Ideologia”, de Luís Reis Torgal, com o objectivo de documentar, preservar e divulgar a importância deste acontecimento histórico, segundo anunciou, hoje, a autarquia.




O lançamento da obra coincidiu com a inauguração de um memorial, na sexta-feira, no lugar do Cartaxinho, freguesia de Ega, uma vez que nesse lugar, a 18 de Março de 1828, deu-se o recontro entre estudantes liberais da associação secreta designada por “Divodignos” e uma comitiva universitária e eclesiástica que ia a Lisboa prestar homenagem ao proclamado “Rei Absoluto” D. Miguel, que se opusera à Carta Constitucional.

Nesse acontecimento morreram dois lentes da Universidade de Coimbra, tendo sido posteriormente executados nove estudantes, em 20 de Junho de 1828, no cais do Tojo, em Lisboa.

 

Com esta inauguração e com a apresentação do livro, o executivo da Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova 'pretende colocar em prática uma das mais nobres missões do poder autárquico, que é estar ao serviço da preservação e divulgação da micro-história local, que consiste muitas vezes em pequenos episódios e acontecimentos cujo alcance, se não têm repercussão fora de portas, falam todavia no íntimo à comunidade autóctone', justifica a vereadora Liliana Pimentel no prefácio da obra.

O caso dos 'Divodignos', nomeadamente, o recontro entre a associação secreta dos estudantes liberais e a comitiva universitária e eclesiástica, acontecimento vulgarmente conhecido por 'assassinato dos lentes', tem sido fortemente divulgado pela literatura, pois os acontecimentos subjacentes ao drama atingiram notoriedade nacional, tanto assim que despertaram imediato interesse literário, sob a forma de ficção literária, cénica, telenovelística e popular', refere a autarquia condeixense”

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FOTOS via Pró-Associação 8 de Maio, com a devida vénia

 

Sociedade dos Divodignos" [Divodigus] ou Divodis (1828) - Era composta, na quase totalidade, por estudantes liberais - o seu presidente era Francisco Cesario Rodrigues Moacho -, e de onde saíram os estudantes que participaram nos assassinatos e ferimentos aos lentes e cónegos [Jeronymo Joaquim de Figueiredo e Mattheus de Sousa Coutinho, foram os lentes mortos], no dia 18 de Março de 1828, além de Condeixa [sítio do Cartaxinho]. Tinham as reuniões na Rua do Loureiro, em umas casas pequenas do lado esquerdo logo acima do Arco de D. Jacintha" [in, Apontamentos para a História Contemporânea, p. 93]. Tinham os Divodignos "uma constituição, uma lei orgânica, que prescrevia a obrigação de actos violentos, e nestes, até o assassinato" [cf. Alberto de Sousa Lamy, A Academia de Coimbra 1537-1990].

Segundo um elemento pertencendo à sociedade [conta Joaquim Martins de Carvalho] faziam os Divodigus as assembleias num casarão quase subterrâneo, sito nos Palácios Confusos. Foi, aí, que se resolveu a trama de Condeixa, isto é, o cumprimento da deliberação de tirar do caminho de Lisboa os "membros das duas deputações " que levavam felicitações ao rei d. Miguel.

Assistiram a essa sessão dos Divodignos, 200 académicos liberais, tendo sido sorteados 13 deles para o cumprimento da missão. Segundo Joaquim Martins de Carvalho [op. cit], os membros dos Divodignos que "desfecharam as armas" foram: Delfino Antonio de Miranda e Mattos [de Barcelos], Bento Adjuto Soares Couceiro e Antonio Correia Megre.

Perante a descoberta ocasional do crime ocorreram populares e uma força de Cavalaria, que ali passava, pondo em debandada os Divodignos. Foram presos e enforcados [cf. Joaquim de Carvalho, op. cit, p. 96] nove deles [Bento Adjuto Soares Couceiro, Delfino Antonio de Miranda e Mattos, Antonio Correia Megre, Domingos Barata Delgado, Carlos Lidoro de Sousa Pinto Bandeira, Urbano de Figueiredo, Francisco do Amor Ferreira Rocha, Domingos Joaquim dos Reis e Manuel Inocêncio  de Araújo Mansilha]. Foram conduzidos para Lisboa e do processo resultou na sentença [muito contestada juridicamente] de morte por "enforcamento" no dia 20 de Junho de 1828, no "cais do Tejo, a Santa Apolónia" [cf. Lamy, op. cit].

Ainda segundo J. Martins de Carvalho evadiram-se os quatro restantes [diga-se que José Germano da Cunha, nos "Apontamentos para história do Concelho do Fundão" (Lisboa, 1892) diz-nos que foram enforcados 10 dos membros dos Divodignos e que escaparam 3, referindo: Bernardo Nunes, o padre Bernardo Antonio Ferreira e Francisco Sedano Bento de Mello], registando Martins de Carvalho os seguintes:

Antonio Maria das Neves Carneiro (do Fundão, e que acabou por ser enforcado em 1830), Francisco Sedano Bento de Mello (Caldas da Rainha), José Joaquim de Azevedo e Silva (Lisboa) e Manuel do Nascimento Serpa (falecido na Misericórdia de Lagos, com o nome de "Fresca Ribeira"- ver obra citada e, principalmente, o Capitulo XII, "Sentença  que condenou à morte os 9 estudantes enforcados a 20 de Junho de 1828"; do mesmo modo, consultar os "Grande Dramas Judiciários", de Sousa e Costa; idem para Oliveira Martins, in Portugal Contemporâneo, vol I.; ou Teófilo Braga, "História da Universidade de Coimbra", tomo IV; tb Camilo Castelo-Branco, in "O Retrato de Ricardina.”

[texto nosso, publicado no Almocreve das Petas (ver Associações de Coimbra), a 24 de Novembro de 2003 | outra Anotação nossa]

J.M.M.

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