sexta-feira, 13 de maio de 2016

USOS DO PASSADO - SEMINÁRIO DE INVESTIGAÇÃO

Realiza-se no dias 13 de Maio de 2016, na Sala de Formação da Biblioteca Nacional, em Lisboa, a partir das 9.50h,  o seminário de investigação subordinado ao tema: Usos do Passado.
Pode ler-se na nota de divulgação:
Este seminário pretende colocar em discussão formas diversas de fazer sentido do passado e de a ele ser sensível. Atendendo a diferenças e continuidades entre os modos de usar o passado, na primeira parte do seminário discutiremos práticas comemorativas que vão das celebrações da 
data da abolição da escravidão no Brasil à comemoração - corria o ano de 1946 - pelo Império Português da “descoberta” da Guiné. E discutiremos ainda o lugar da Idade Média nas políticas de comemoração e patrimonialização do Portugal Contemporâneo. Na segunda parte, o debate concentrar-se-á nas práticas de representação historiográfica e cinematográfica do passado, focando-se questões que vão dos estilos de escrita dos historiadores nos primórdios do Estado Novo às operações de apropriação de imagens de arquivo pelo cinema que hoje se tem interessado pela história contemporânea de Portugal. Analisaremos ainda a prática historiográfica de actuais apologistas portugueses da história política.
PROGRAMA 9h50 | Abertura, por José Neves e Pedro Martins 10h | POLÍTICAS DE COMEMORAÇÃO “Antes, a gente ouvia falar. Hoje, a gente está falando”: História, memória e a construção de formas de se contar a escravidão e a abolição no Brasil.Matheus Serva Pereira (Unicamp) Medievalismo, romantismo e nacionalismo: as origens da nacionalidade portuguesa entre a historiografia e as políticas de memória (séculos XIX  e XX)Pedro Martins (IHC-FCSH/UNL e Universidade de Lucerna) As comemorações públicas e a invenção da mitologia imperial nas colóniasVíctor Barros (CEIS20 – Universidade de Coimbra) 13h: pausa para almoço 14H30 | HISTÓRIA E METAHISTÓRIA Histórias em tempos de fascismoAntónio da Silva Rêgo (Birkbeck College – Universidade de Londres) Tempo, história e política em Fátima Bonifácio e Rui RamosJosé Neves (IHC-FCSH/UNL) O filme de apropriação e a (re)escrita da históriaTiago Baptista (Cinemateca, IHC-FCSH/UNL) ------------------------------------------  RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES - “Antes, a gente ouvia falar. Hoje, a gente está falando”: História, memória e a construção de formas de se contar a escravidão e a abolição no Brasil. A apresentação terá como objetivo investigar os esforços para a construção de uma memória sobre a abolição da escravidão no Brasil (13 de maio de 1888) nos dez anos seguintes ao ocorrido. Em seguida, pretende comparar essa construção com outras formas de contar a escravidão e a abolição no país, especialmente aquelas emergidas a partir dos anos 1980, quando de transformações na historiografia brasileira sobre a abolição da escravidão e da ascensão de movimentos sociais que pautavam suas reivindicações em políticas públicas sobre a memória do passado escravista brasileiro. Matheus Serva Pereira realiza doutoramento em História Social da África, na Unicamp (Campinas-Brasil), com pesquisa financiada pela FAPESP. Graduado e Mestre em História Social pela UFF (Niterói-Brasil). -
Medievalismo, Romantismo e Nacionalismo: as origens da nacionalidade portuguesa entre a historiografia e as políticas de memória (séculos XIX e XX)
Identificada pelos românticos como uma das épocas de ouro das nações europeias, a Idade Média assumiu um importante papel na cultura histórica portuguesa dos séculos XIX e XX. Figuras como Afonso Henriques ou monumentos como o Castelo de Guimarães e a Sé de Lisboa tornaram-se 
símbolos de uma medievalidade que, à luz do conceito de Estado-nação, importava estudar, recuperar e comemorar. Nesta comunicação, iremos analisar como o tema das origens da nacionalidade foi narrado, discutido e celebrado neste período, partindo de três exemplos: a História de Portugal de Alexandre Herculano (1846-1854), os debates em torno do restauro da sé de Lisboa (1902-1940) e as comemorações centenárias de 1940. Pretender-se-á demonstrar a importância de estudar a relação entre historiografia e as chamadas “políticas de memória”, a fim de melhor compreender a representação e divulgação de uma imagem romantizada da Idade Média em Portugal.
Pedro Martins é investigador do IHC. Entregou recentemente a sua tese de doutoramento sobre as representações da Idade Média no Portugal contemporâneo, realizada na Universidade Nova de Lisboa e na Universidade de Lucerna, tendo para o efeito beneficiado de uma bolsa de 
doutoramento da FCT.
- As comemorações públicas e a invenção da mitologia imperial nas colónias
Em 1946, as autoridades coloniais do Estado Novo decidem comemorar o quinto centenário do‘descobrimento’ da Guiné. Perante a precariedade de conclusões assertivas que permitissem aceitar com grande plausibilidade a problemática histórica da chegada dos portugueses à costa Ocidental africana (então designada de Guiné), os prosélitos do salazarismo instauram uma comemoração e, com ela, inventam a colónia. Propõem-se então nesta comunicação colocar em evidência a forma como os usos públicos da história em contexto colonial operam na fabricação de imaginários e no manuseamento de narrativas destinadas a inventar uma história para as colónias.
Víctor Barros é bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian e investigador colaborador do CEIS 20 (Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX – Universidade de Coimbra). - Histórias em tempos de fascismo
Nas décadas de 1930 e de 1940, todas as histórias institucionalizadas em Portugal eram caucionadas pelo regime do Estado novo. Contudo, importa verificar a pluralidade dessas abordagens, das mais conservadoras e ultramontanas às mais radicais e fascistas. Nesta comunicação, vamos olhar para as virtudes, hábitos, desiderata e competências que caracterizavam os historiadores “do regime”, tal como os distintos estilos de escrita por eles usados, de forma a perceber os principais conflitos e confluências da historiografia do começo do 
Estado Novo.
António da Silva Rêgo é actualmente doutorando no Birkbeck College, Universidade de Londres. Licenciou-se na FCSH em 2012 e concluiu em 2015 o Mestrado (RMa) na Universidade de Leiden, escrevendo a tese History in times of Fascism. Discipline and Practices of History during the 
beginning of the Portuguese New State.
- Tempo, história e política em Fátima Bonifácio e Rui Ramos
A produção historiográfica de Fátima Bonifácio e de Rui Ramos constitui-se um objecto de referência no domínio da história contemporânea. Na presente comunicação, começo por analisar a consistência de um projecto intelectual que – a caminho de uma cultura histórica liberal – abraçou numa mesma filosofia uma ideia de história, um ideal de historiografia e uma tradição político-ideológica. Em seguida, veremos como os efeitos desta unificação se exprimem tanto a 
nível da escrita historiadora de Ramos e Bonifácio como a nível dos sujeitos que se tornam protagonistas das suas histórias. Finalmente, elaborarei algumas críticas tanto à prática historiográfica de ambos os autores como a certas críticas que lhes são dirigidas.
José Neves é professor auxiliar no departamento de História da FCSH-UNL e dirige actualmente a revista Práticas da História – Journal on Theory, Historiography and Uses of the Past. - O filme de apropriação e a (re)escrita da história.

Nos últimos dez anos, verificou-se uma multiplicação de filmes portugueses feitos com recurso parcial ou total a imagens de arquivo como, por exemplo, Kuxa Kanema: o nascimento do cinema (Margarida Cardoso, 2003), Natureza Morta (Susana de Sousa Dias, 2005), Fantasia 
Lusitana (João Canijo, 2010), ou Linha Vermelha (José Filipe Costa, 2012). Estes filmes tiram partido da grande massa de imagens preservadas e disponibilizadas pelos arquivos audiovisuais nos últimos 20 anos, de novas tecnologias de visionamento e montagem digital, e de transformações nas interpretações historiográficas do salazarismo e do PREC. O trabalho de apropriação e ressignificação de imagens de arquivo analisa o papel do cinema naqueles períodos históricos ao mesmo tempo que proporciona lições importantes sobre o próprio funcionamento da imagem cinematográfica. Os filmes de apropriação sublinham, assim, o papel mediador das imagens de arquivo, que deixam de ser entendidas como representações transparentes do passado para serem vistas, antes, como construções audiovisuais desse mesmo passado.
Tiago Baptista trabalha como conservador e investigador na Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema desde 2002. Desenvolve actualmente o seu doutoramento na Universidade de Londres sobre a prática do ensaio audiovisual digital.


A informação sobre este evento pode ser obtida AQUI.

A entrada é gratuita.

A.A.B.M.

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