quinta-feira, 25 de agosto de 2016

[TEXTO] NA HOMENAGEM A MANUEL FERNANDES TOMÁS – FIGUEIRA DA FOZ


 
DISCURSO PROFERIDO NA HOMENAGEM A MANUEL FERNANDES TOMÁS NO DIA 24 DE AGOSTO DE 2016, NA FIGUEIRA DA FOZ, pela Associação Cívica e Cultural 24 de Agosto

Vão decorridos 196 anos que um punhado de heróis – à frente dos quais estava o nosso patrício Manuel Fernandes Tomás - ajustou o ideal da santa liberdade à obra legislativa constitucional de um Portugal que se queria novo e regenerado, tão cioso estavam da sua independência e da sua liberdade.
Na verdade, o movimento libertador de 24 de Agosto de 1820 na cidade do Porto, grito memorável da regeneração da Pátria livre e facto glorioso da nossa história, pôs fim à pesada grilheta da opressão férrea do estrangeiro, tirana e absurda, e lançou as sementes da reforma jurídico-constitucional, contra o arbítrio do Estado e os privilégios sociais, enchendo de júbilo o coração dos portugueses.

Cumpre-nos, portanto, a todos e cada um de nós, em preito de homenagem, respeito e gratidão pública, honrar a memória desses cidadãos que bem souberam irradiar a liberdade e redimir a Pátria. E, de entre eles, a veneranda figura do mais ilustre dos figueirenses, do mais instruído dos magistrados, o primeiro dos regeneradores da Pátria, o cidadão e o homem de bem, Manuel Fernandes Tomás.

A Associação Cívica e Cultural 24 de Agosto tem – e terá sempre - o grato prazer de evocar esse auspicioso dia e laurear o nosso patrício, o Patriarca da Liberdade, associando-se à sua Homenagem, relembrando o seu exemplo benemérito e civilizador, honrando as suas virtudes morais e cívicas, perpetuando e iluminando a sua memória.



Minhas Senhoras e Meus Senhores
Rememorar acções heróicas dos nossos melhores, expondo os seus contributos, virtudes e acções pelo bem público, não é apenas ecoar o clamor da epopeia ou venerar lembranças do passado, mas, outrossim, ao enaltecer os seus talentos, colher os seus ensinamentos, dignificar as suas palavras, semear os seus exemplos.

Manuel Fernandes Tomás, pela probidade e integridade do seu pensamento político e obra pública, acrescentou “uma página à história das idades”, legando-nos um património cívico admirável que persistiu – e persiste – nesta alumiada terra figueirense. O reconhecimento e a ventura do seu ideário passaram, de facto, testemunho à geração vindoura, que ousou ser depositária fiel da sua alma, coragem e luta.
Sim, os ideais liberais e progressivos da revolução vintista deixaram sempre a sua semente luminosa entre a nossa gente, nesta nossa terra. Do Liberalismo à República, do Estado Novo à instauração do Regime Democrático, foram muitos e admiráveis aqueles cidadãos que tão bem souberam materializar os grandes ideais do humanismo, da liberdade, da fraternidade e justiça e que, deste modo, se vêem alistar ao lado de Manuel Fernandes Tomás, a que muito devem e em quem se revêem.

Entre eles, permitam-me lembrar com estremecido júbilo, os seguintes:
José Maria de Lemos (1805-1886), António Roberto de Oliveira Lopes Branco (1806-1889), Fernando Augusto Soares (1838-1918), José Joaquim Alves Fernandes Águas (1840-1919), Ernesto Fernandes Tomás (1848-1902), António dos Santos Rocha (1853-1910), Joaquim da Silva Cortesão (1853), Pedro Fernandes Tomás (1853-1927), Fortunato Augusto da Silva (1856-1926), Augusto Goltz de Carvalho (1858-1913), general Alfredo Augusto Freire de Andrade (1859-1929); José da Silva Fonseca (1863-1936), Manuel Gomes Cruz (1866-1943), Joaquim José Cerqueira da Rocha (1870-1928), João da Silva Rascão (1971-1950), Henrique Raimundo de Barros (1873-1929), José Gomes Cruz (1873-1941), Manuel Gaspar de Lemos (1874-1967), Frutuoso Abel dos Santos (1878-1928), António Mesquita de Figueiredo (1880-1954), Manuel Jorge Cruz (1880-1941), João de Barros (1881-19160), Manuel Cardoso Martha (1882-1958), António Augusto da Gama (1885-1966), Augusto dos Santos Pinto (1888-1979), José dos Santos Alves (1888-1958), António da Silva Biscaia (1892-1970), Raymundo Esteves (1892-1946), Albano Correia Neves Duque (1894-1963), António Augusto Esteves (Carlos Sombrio) (1894-1949), Maurício Augusto Águas Pinto (1884-1958), Adelino Ferreira Mesquita (1890-1977), Cristina Torres (1891-1975), Joaquim de Carvalho (1892-1958), José Rafael Sampaio (1892-1981), José da Silva Ribeiro (1894-1990), Frutuoso Soares Coronel Pessoa (1906-1980).

Assim, na história da vida figueirense, esta plêiade de notáveis cidadãos deixou-nos uma contínua (e difícil) utopia da cidadania e de serviço da causa pública, realizada através de uma fecundidade cívica e cultural exemplar, na animação da vida política, económica e associativa local, na conquista da liberdade e da democracia – o que é, afinal, o mais belo legado que prosseguiu e consolida a obra luminosa de Manuel Fernandes Tomás.
Esse é - Senhoras e Senhores – o maior tributo que se poderá prestar aos heróis dessa alvorada patriótica de 24 de Agosto (e, bem assim, ao nosso patrício Fernandes Tomás): avocar as virtudes sociais do combate cívico levado a cabo por várias gerações que nos precederam, homens e mulheres que irmanados no espírito e consciência do seu tempo nos souberam transmitir, fraterna e solidariamente, os valores da Liberdade, Justiça, Verdade, Honra e Progresso.

Nesse mesmo sentido se referiu Manuel Fernandes Tomás, no dizer do seu Relatório sobre o Estado e a Administração do Reino (3 de Fevereiro de 1821):
“Os homens mais dignos de servir a Pátria viviam no retiro e na obscuridade. Para os conhecer devia passar tempo”.

Tempo passado, é a hora de evocar na nossa memória, e para os vindouros, os traços luminosos que moveram à acção de gerações passadas, tempos históricos, sempre generosos e arrebatados, que deram alma e sonho na vinculação à polis e alento ao abraço de todos os homens como irmãos.
Por tudo isso dizemos bem alto:

Honra a Manuel Fernandes Tomás!
Viva a Liberdade!

[Associação Cívica e Cultural 24 de Agosto, 24 de Agosto de 2016]

FOTO de F. Teixeira, com a devida vénia | sublinhados nossos

J.M.M.

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