[EXTRACTO] “Os Estados Peninsulares
e as Sociedades Patrióticas” - (A propósito do discurso de
José Liberato Freire de Carvalho na noite de 24 de Julho de 1822)”
José Manuel Martins[1]
NOTA
PRÉVIA: Trata-se aqui de reproduzir, com a devida vénia, extractos do prefácio
ao livro “Memória da Liberdade e do Constitucionalismo. Madrid-Lisboa / 1822”,
com textos de José Liberato Freire de Carvalho e João Baptista da S. L. de
Almeida Garrett, que em boa hora a Comissão Liberato (com assento em terras do
Mondego) publicou, a 7 de Julho de 2016, em Coimbra. O assunto sobre as SOCIEDADES
PATRIÓTICAS, de algum modo esquecido, tem ali, ao longo do prefácio (e notas de
pé-de-página) um pequeno e modesto contributo nosso, que, pela sugestão de muitos dos
nossos leitores, gostosamente republicamos [em vários posts] nas suas partes
mais importantes. Um agradecimento à Comissão Liberato pela autorização da sua
partilha.
► “a
luta e os combates entre a servidão e a liberdade têm sido tão eternos como o mundo”
- José Liberato Freire de Carvalho
O
discurso proferido por José Liberato Freire de Carvalho[2] na noite de 24 de Julho de 1822 na Sociedade
Literária Patriótica de Lisboa (…) é uma magnífica peça de oratória vintista, num exaltante texto
de regeneração nacional e da liberdade da pátria, contra o realismo e o terror
do despotismo. Na verdade, José Liberato, que era um espírito culto e um
combativo pregador da causa liberal, utiliza sabiamente os elementos clássicos
da oratória - instruir, seduzir e mobilizar - como instrumento político da
retórica oficial do vintismo.
O mundo
novo, que ecoava de Espanha e de além Pirenéus, fizera ressoar, como uma arma
política, vocábulos[4]
como liberdade, honra, pátria, homem livre, escravo, justiça, virtude,
despotismo, regeneração, soberania, amor da pátria, irmãos na liberdade,
servidão, patriotismo, ignorância, razão, tirania, constituição. Assim, a
produção e difusão de signos nacionais, principalmente a partir das sociedades patrióticas e dos periódicos constitucionalistas, tornam-se um
importante veículo da difusão do liberalismo, ajudando a consolidar e ampliar a
nova situação política[5].
[A CONTINUAR] - sublinhados nossos
J.M.M.
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J.M.M.
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[1] Professor do Ensino Secundário e co-autor do blog Almanaque Republicano.
[3] Cf. Joel Serrão, Liberalismo, Socialismo, Republicanismo, Horizonte, 1979, pp.
13-14.
[4] As palavras da revolução e do constitucionalismo de
1820 mereceram um apurado estudo de Telmo dos Santos Verdelho, As Palavras e as ideias na revolução Liberal
de 1820, INIC, 1981.
[5] Como é evidente, a corrente contra-revolucionária, via
imprensa católica e realista, foi agitando de igual modo o espírito da tradição
anti-revolucionária, tentando destroçar o movimento liberal e regenerador.
Alguns desses publicistas e panfletários corcundáticos, como o padre José
Agostinho de Macedo, frei Fortunato de São Boaventura (decerto o mais
importante fundibulário da época), Faustino José da Madre de Deus (curiosamente
foi ele próprio maçon), D. Luís António Carlos Furtado de Mendonça, Zacarias
Alves Faca, José Luís Coelho Monteiro, João Duarte Beltrão, como mais tarde
José da Gama e Castro, foram impiedosos nas suas críticas ao filosofismo, à
Constituição de 1822, ao francesismo, aos “ímpios” liberais e a todos aqueles
que denominavam de malhados ou pedreiros-livres, “destruidores de toda a
religião e dos bons costumes”, do trono e do altar.[6] Não deixa de ser curioso que entre alguns dos homens de 1820 exista já a ideia de “eflúvios republicanizantes”, como seria o caso de José Bernardo da Rocha Loureiro, o general Marinho ou Feliciano de Castilho – cf. Fernando Catroga, O Republicanismo em Portugal, Casa das Letras, 2010 (3º ed.), p. 107
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