Henrique José dos Santos Cardoso
Henrique
José dos Santos Cardoso nasceu em Santa Comba de Vilariça, concelho de Vila Flor
(distrito de Bragança) a 21 de Abril de 1842 [cf. Memórias do Abade de Baçal,
tomo VII, p. 78; no Portugal Diccionario Historico, de Esteves Pereira e
Guilherme Rodrigues, vol VI, p. 651, é referido o ano de 1843]. Era filho de João José dos Santos Cardoso e Teresa de Jesus,
proprietários, naturais de Castro (concelho de Chaves).
Teve Santos Cardoso um filho [Henrique José dos Santos Cardoso], nascido
no Porto a 3 de Novembro de 1870 e assassinado em Lisboa [“atingido pelas
costas” por um tiro disparado quase em frente ao teatro de S. Carlos, na rua
Paiva de Andrade, por elementos hostis ao Partido Republicano Português
(refira-se que um dos presos, presumível coautor do crime, o operário do
Arsenal Francisco Henrique de Morais, se suicidou na esquadra da travessa das
Almas) quando se dirigia (juntamente com Alexandre Braga e Artur Costa) para a
sede do PRP, para uma reunião do Diretório] em 28 de Fevereiro de 1915 [o seu
funeral decorreu na cidade do Porto, estando presentes, na imponentíssima manifestação
fúnebre para o cemitério do Repouso, inúmeros centros e grémios republicanos, vultos
republicanos nacionais, entre eles o dr. Afonso Costa e Alexandre Braga]. Foi
assistente de Química no Instituo Comercial e Industrial do Porto, desempenhou diversos
cargos públicos e era deputado do PRP (eleito por Vila Nova de Gaia) na data do
seu assassinato. Como seu pai, era um vigoroso republicano, jornalista (no
jornal A Pátria), notável polemista e estimado bibliófilo.
Henrique José dos Santos Cardoso (pai) foi barbeiro na sua terra natal
antes de partir para o Porto, onde fixa residência [cf. Memórias do Abade de
Baçal, ibidem] e estabelece o seu negócio, ao mesmo tempo que se torna um dos
mais vigorosos jornalistas populares. De “hercúlea corpulência, as suas barbas
infinitamente compridas, o seu grosso bengalão e, sobretudo, a virulência dos
seus escritos, trouxeram por muito tempo aterrada a cidade do Porto” [ibidem].
Republicano
(foi eleito para o Diretório do Centro Eleitoral Republicano do Porto, em 1878;
participa, publicamente nas manifestações republicanas, presidindo mesmo a um
comício anti-jesuítico no ano de 1888) e jacobino, é proprietário, fundador e
redactor do periódico “A Justiça Portuguesa” [nº
espécimen, 2 de Agosto de 1880 ao nº 727, de 25 de Junho de 1894 – suspendeu a
publicação entre 16 de Janeiro de 1891 a Outubro de 1893; impresso na Typ.
Alliança, depois na Typ Occidental, Porto], onde escreveu as mais “tenazes
campanhas contra as instituições monárquicas” [Portugal Diccionario Historico,
ibidem]. Tal atitude carreou-lhe inúmeros inimigos e a fama dos que professavam
as “ideias avançadas” do republicanismo, apesar da maledicência e truculência
que exercia nos seus escritos e na acção política [sobre esta questão em torno
de Santos Cardoso, ver João Chagas & Ex-Tenente Coelho, “História da
Revolta do Porto de 31 de Janeiro de 1891”, 1978, reed., p. 67-83; consultar,
também, as diversas referências a Santos Cardoso em Guilherme Martins Rodrigues
Sampaio, “A ideia federalista em Augusto Manuel Alves da Veiga 1850-1924”, obra
de mestrado em História Contemporânea, FLUL, 2009), principalmente p.70 e ss.; consultar,
ainda, o trabalho de Fernando de Sousa, A revolta de 31 de Janeiro de 1981]
Foi Santos
Cardoso o “braço direito” de [Augusto Manuel] Alves da Veiga
[advogado,
publicista, militante republicano federalista, fundador da primeira agremiação
republicana do Porto (1876: trata-se do Centro Republicano Democrático do
Porto, com sede na rua de S. Bento da Vitória, curiosamente no rés-do-chão da
casa de habitação de Sampaio Bruno; refira-se que o Centro mudou de nome,
passando a denominar-se Centro Eleitoral Republicano Democrático do Porto, em
1877, onde passou a pontificar Rodrigues de Feitas; aliás, Alves da Veiga foi o
autor do seu “Manifesto” – sobre Alves da Veiga e o Centro Republicano,
consultar, ainda, Guilherme Martins Rodrigues Sampaio, ob. cit.), importante
maçon portuense e o chefe civil da revolta republicana do 31 de Janeiro de 1891],
tendo
entrado com ele, no dia 31 de Janeiro de 1891, no edifico da Câmara Municipal, onde Alves da Veiga declara
deposta a monarquia. Na verdade, foi (a partir de Agosto de 1890) na casa
comercial do Santos Cardoso que muitos elementos da guarda-fiscal foram instruídos
para a revolta republicana do Porto, aliciados pelo jornal “O Sargento” [Órgão
dos Oficiais Inferiores do Exercito Português]. Diga-se que por detrás desse
movimento republicano conspirativo estava João Chagas - que cedo compreendeu a
importância moral e cívica de Alves da Veiga para coordenar a revolta - e o seu
jornal “A Republica Portuguesa”. Por último, diga-se que terá sido o próprio
João Chagas que “teve a ideia em Setembro (1890) de encarregar Santos Cardoso
da agremiação dos sargentos – vide Guilherme Martins Rodrigues Sampaio, op.
cit., p. 72].
Foi,
portanto, Santos Cardoso um dos instigadores da revolta, um elemento valioso
num certo período de tempo, muito embora com as limitações, demagogia, erros e a
postura pouco moral - que lhe foi apontada por João Chagas, in História da
Revolta do Porto de 31 de Janeiro de 1891, ibidem - e passe os termos
depreciativos com que o virulento [Francisco] Homem Cristo [então tenente e
chefe do Diretório Republicano de Lisboa, aliás líder da facção conservadora
dos republicanos; Homem Cristo, que era contra a tentativa de rebelião do
Porto, inclusive considerava-a como uma “provocação monárquica”, ao ponto de
publicar no jornal “Debates” de 27 de Janeiro de 1891 um artigo em que atacava
Alves da Veiga e Santos Cardoso, pedindo aos republicanos para que não dessem
créditos aos dois – citado por Guilherme Martins Rodrigues Sampaio, op. cit.,
p. 79; idem por Fernando Sousa, ob. cit.] o apodou - como ter praticado actos cobardes
e denunciando camaradas -, no seu livro “Os Acontecimentos de 31 de Janeiro e a
minha prisão, Lisboa, 1891, que aliás carecem de ser confirmados.
Na
brutal “ressaca” da revolta frustrada do 31 de Janeiro de 1891, de que resultou
inúmeros mortos e estropiados entre os revoltosos, tendo que os melhores quadros
republicanos sofrido pesadas humilhações entre o exílio (caso de Alves da
Veiga, António Claro, Basílio Teles, Sampaio Bruno), a prisão e o degredo (João
Chagas, Santos Cardoso, capitão Leitão, tenente Coelho e outros mais).
Santos Cardoso foi condenado, no conselho de guerra de
Leixões a uma pena de prisão maior celular, por quatro anos, seguidos de
degredo por oito. Pela amnistia de Fevereiro de 1893 regressou a Portugal e
retomou o seu jornal, A Justiça Portugueza, agora fustigando os antigos
correligionários.
Escreveu Santos Cardoso: “Verdades de Sangue, com dois juízos críticos pelos Exmos Snrs. Drs Alves da Veiga e Pedro Amorim Viana (tem o retrato do autor), Porto, Tip. Ocidental, 1877, p. 92; “Verdades de Sangue. Escândalo Bancário, história dos acontecimentos da crise monetária e bancária de 1875 a 1877. Porto, Tip. de Alexandre da Fonseca Vasconcelos, 1878, p. 128 [ um anunciado 3º volume, não saiu].
Henrique
José dos Santos Cardoso viveu algum tempo em Lisboa, regressando ao Porto
quando a doença o atingiu. Morreu em Vizela, a 5 de Agosto de 1899.
J.M.M.
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