EXPOSIÇÃO: 29 de Abril a 4 de Junho de 2017;
LOCAL: Galeria O Rastro (Rua da Liberdade, nº 14), Figueira da Foz;
CATÁLOGO (luxuoso) da Exposição de Pintura de mestre Cruzeiro Seixas, profusamente
ilustrado (e falado), contém textos [memórias] de Ernesto Sampaio [“As mãos ao
nível de nós mesmos”, de Março de 1995], Mário Cesariny [“Os Estados Gerais. Tentativas
de interpretação do quadro do mesmo título de Cruzeiro Seixas”] e um belíssimo (iluminado)
texto de Cruzeiro Seixas, “Dos que lerem este texto …”, datado de Março de
1991.
► “…. Setenta anos
passam afinal como um longo minuto. Por exemplo, não li metade do que devia ter
lido. Sou assim um muito mau exemplo. Mas tudo o que escreveu um Dostoievski ou
um Borges, ou a obra de um Miguel Ângelo ou de um Gustave Moreau, não cabem realmente
no percurso de uma vida! Trata-se de miraculados, porque não acredito
exclusivamente nas virtudes do trabalho. Dias e noites a trabalhar, não deixam
tempo para olhar, e menos ainda para imaginar. Tudo o que aconteceu na vida foi
tão rápido, que mal tive tempo para o reter na memória, e discernir; e no
entanto tudo foi excessivo, em relação às minhas forças. Nem tempo tive para construir
o cipreste que tanto queria sobre a minha sepultura, todo em vidro, para se poder
ver os movimentos do seu coração cipreste...
Seremos nós, portugueses, excepcionalmente dados a desencontros? Parece
que, quando chegámos à Índia, ela já não estava ...
Mas os grandes problemas, resolvem-se ou adiam-se por si mesmos. Tudo o
resto é ilusão, ou vaidade (…)
De facto amar e ser amado, com igual intensidade, é ainda muito mais fácil
do que escrever um belíssimo poema. E se me revolto por me quererem impor isto
ou aquilo, como posso eu impor isto ou aquilo aos outros? Além disso não faltam
“artistas” que querem condecorações, ruas com o seu nome, o Prémio Nobel, como
se as forças que os movem fossem egoísmos, orgulhosos, vaidades, certezas
absurdas. Contorcem-se até ao mais possível impossível, como se isso tivesse algo
a ver com a verdadeira imaginação, com a verdadeira criatividade, com a
verdadeira liberdade. O “Nu” de Marcel Duchamp, sobe agora, em vez de descer,
uma escada de degraus perigosamente gastos. E espera-se que da boca lhe saiam
coisas indizíveis.
Os que fizeram revoluções, são mais revolucionários do que por exemplo o
foi a pintura de Goya ou de Kandinsky? E não esqueçamos, que Salazar foi morto
por uma simples cadeira! Iremos assistir á revolta das cadeiras perante os
ditadores do futuro? A despropósito, cito Saint-Jus; "Ceux qui font les
révolutions à moitié, ne font que creuser leur propre tombeau ... ".
J.M.M.
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