domingo, 30 de abril de 2017

[FIGUEIRA DA FOZ – EXPOSIÇÃO] CRUZEIRO SEIXAS DE 1940 A 2017



EXPOSIÇÃO: 29 de Abril a 4 de Junho de 2017;
LOCAL: Galeria O Rastro (Rua da Liberdade, nº 14), Figueira da Foz;

CATÁLOGO (luxuoso) da Exposição de Pintura de mestre Cruzeiro Seixas, profusamente ilustrado (e falado), contém textos [memórias] de Ernesto Sampaio [“As mãos ao nível de nós mesmos”, de Março de 1995], Mário Cesariny [“Os Estados Gerais. Tentativas de interpretação do quadro do mesmo título de Cruzeiro Seixas”] e um belíssimo (iluminado) texto de Cruzeiro Seixas, “Dos que lerem este texto …”, datado de Março de 1991.  
 
 

“…. Setenta anos passam afinal como um longo minuto. Por exemplo, não li metade do que devia ter lido. Sou assim um muito mau exemplo. Mas tudo o que escreveu um Dostoievski ou um Borges, ou a obra de um Miguel Ângelo ou de um Gustave Moreau, não cabem realmente no percurso de uma vida! Trata-se de miraculados, porque não acredito exclusivamente nas virtudes do trabalho. Dias e noites a trabalhar, não deixam tempo para olhar, e menos ainda para imaginar. Tudo o que aconteceu na vida foi tão rápido, que mal tive tempo para o reter na memória, e discernir; e no entanto tudo foi excessivo, em relação às minhas forças. Nem tempo tive para construir o cipreste que tanto queria sobre a minha sepultura, todo em vidro, para se poder ver os movimentos do seu coração cipreste...

Seremos nós, portugueses, excepcionalmente dados a desencontros? Parece que, quando chegámos à Índia, ela já não estava ...

Mas os grandes problemas, resolvem-se ou adiam-se por si mesmos. Tudo o resto é ilusão, ou vaidade (…)
 
 

De facto amar e ser amado, com igual intensidade, é ainda muito mais fácil do que escrever um belíssimo poema. E se me revolto por me quererem impor isto ou aquilo, como posso eu impor isto ou aquilo aos outros? Além disso não faltam “artistas” que querem condecorações, ruas com o seu nome, o Prémio Nobel, como se as forças que os movem fossem egoísmos, orgulhosos, vaidades, certezas absurdas. Contorcem-se até ao mais possível impossível, como se isso tivesse algo a ver com a verdadeira imaginação, com a verdadeira criatividade, com a verdadeira liberdade. O “Nu” de Marcel Duchamp, sobe agora, em vez de descer, uma escada de degraus perigosamente gastos. E espera-se que da boca lhe saiam coisas indizíveis.

Os que fizeram revoluções, são mais revolucionários do que por exemplo o foi a pintura de Goya ou de Kandinsky? E não esqueçamos, que Salazar foi morto por uma simples cadeira! Iremos assistir á revolta das cadeiras perante os ditadores do futuro? A despropósito, cito Saint-Jus; "Ceux qui font les révolutions à moitié, ne font que creuser leur propre tombeau ... ".
 
 
Há de facto feridas do tamanho de países! E aqui, onde nascemos, é precisamente o local onde o mar se afogou. Mas será por acaso que dois dos quadros mais importantes do imaginário e do mistério estão em Portugal? Refiro-me ao Bosch, e também ao Nuno Gonçalves. Ainda quero acreditar que tudo tem um sentido, evidentemente oculto …” [Cruzeiro Seixas, in Catálogo, pp. 18-26]

J.M.M.

Sem comentários: