terça-feira, 30 de maio de 2017

MANUEL VIEGAS CARRASCALÃO (PARTE I)


Poucos dias após o falecimento de um dos filhos, lembramos as origens pelo lado paterno do Mário Carrascalão e acompanhemos algum do seu percurso de vida do seu pai: Manuel Viegas Carrascalão, patriarca de uma das famílias influentes em Timor Lorosae, desde o nascimento em S. Brás de Alportel, o início das actividades políticas como elemento de destaque nos movimentos operários e anarquistas em Portugal, durante a I República Portuguesa.

Manuel Viegas Carrascalão: nasce em São Brás de Alportel, no sítio dos Machados, em 24 de Outubro de 1901, filho de Manuel Viegas e de Maria Faustina Cavaco. Tipógrafo de profissão, abraçou os ideais anarquistas e começou muito jovem a participar na propaganda operária que se fazia na região. Aos doze anos trabalhava como aprendiz de tipógrafo no jornal Ecos do Sul, que se publicou em S. Brás de Alportel. Segue depois para Lisboa, onde continua a trabalhar como tipógrafo.

Começou por fazer parte das Juventudes Sindicalistas onde ascendeu a secretário-geral. Em 1920 foi preso acusado de bombismo, situação que se volta a repetir em 1922. Libertado em Dezembro de 1924 por pressão dos sindicatos da Confederação Geral do Trabalho e da Federação das Juventudes Sindicalistas porque pertencia também à estrutura directiva de ambas as organizações.

Em 1925, no mês de Janeiro participa num comício realizado em Portimão, onde discursa. Em Março, entre os dias 22 e 30, realiza-se a 1ª Conferência Juvenil das Juventudes Sindicalistas, em Lisboa. Nessa conferência estiveram presentes delegados do Núcleo Central e cinco secções: central, Beato, Metalúrgicos, Olivais, Empregados no Comércio e Mobiliário. Estiveram pressentes dois representantes da Confederação: Manuel Joaquim de Sousa, em representação da Federação Anarquista da Região Sul e Carlos Coelho, que representava a CGT.

Ainda em 1925, no mês de Abril, demonstrando as diferenças de opinião e de concepção na luta política existentes no interior destas organizações anarquistas, o secretário adjunto da Federação das Juventudes Sindicalistas, Manuel Augusto Vasconcelos Silveira, demitia-se das funções por incompatibilidades com Manuel Viegas Carrascalão, por considerar que agia isoladamente e sem consultar as estruturas da organização.

Nas comemorações do 1º de Maio de 1925, vamos encontrar Manuel Viegas Carrascalão como representante da CGT em Castelo Branco, discursando perante os trabalhadores e operários desse distrito. Nessas comemorações encontramos representantes da CGT em actividade por todo o País, mobilizando os operários e reivindicando melhores condições.

A 15 de Maio de 1925, Manuel Viegas Carrascalão é preso sob a acusação de ser bombista e de pertencer à organização clandestina Legião Vermelha, que teria estado na base do atentado a Ferreira do Amaral, que era o comandante da Polícia Cívica de Lisboa e foi gravemente ferido nessa altura [ver aqui: https://toponimialisboa.wordpress.com/2014/02/13/a-rua-do-coronel-comandante-na-flandres-e-na-policia-civica-de-lisboa/].


Esta organização tinha sido criada em 1919, portanto ainda antes da criação do Partido Comunista Português, era uma organização armada, embora próxima do bolchevismo, não tinha ligação oficial ao partido, que actuava de forma violenta, com atentados, raptos, que funcionava como uma espécie de braço armado e radical da Confederação Geral do Trabalho. Esta organização, sobre a qual ainda pouco se sabe, mas que teve grande visibilidade no final da I República devido à quantidade de atentados realizados. Alegadamente com responsabilidades na colocação de mais de 300 engenhos explosivos, na cidade de Lisboa, entre 1920 e 1925.

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