Poucos dias após o falecimento de um dos filhos, lembramos as origens pelo lado paterno do Mário Carrascalão e acompanhemos algum do seu percurso de vida do seu pai: Manuel Viegas Carrascalão, patriarca de uma das famílias influentes em Timor Lorosae, desde o nascimento em S. Brás de Alportel, o início das actividades políticas como elemento de destaque nos movimentos operários e anarquistas em Portugal, durante a I República Portuguesa.
Manuel Viegas Carrascalão: nasce
em São Brás de Alportel, no sítio dos Machados, em 24 de Outubro de 1901, filho
de Manuel Viegas e de Maria Faustina Cavaco. Tipógrafo de profissão, abraçou os
ideais anarquistas e começou muito jovem a participar na propaganda operária
que se fazia na região. Aos doze anos trabalhava como aprendiz de tipógrafo no
jornal Ecos do Sul, que se publicou
em S. Brás de Alportel. Segue depois para Lisboa, onde continua a trabalhar
como tipógrafo.
Começou por fazer parte das
Juventudes Sindicalistas onde ascendeu a secretário-geral. Em 1920 foi preso
acusado de bombismo, situação que se volta a repetir em 1922. Libertado em
Dezembro de 1924 por pressão dos sindicatos da Confederação Geral do Trabalho e
da Federação das Juventudes Sindicalistas porque pertencia também à estrutura directiva
de ambas as organizações.
Em 1925, no mês de Janeiro
participa num comício realizado em Portimão, onde discursa. Em Março, entre os
dias 22 e 30, realiza-se a 1ª Conferência Juvenil das Juventudes Sindicalistas,
em Lisboa. Nessa conferência estiveram presentes delegados do Núcleo Central e
cinco secções: central, Beato, Metalúrgicos, Olivais, Empregados no Comércio e
Mobiliário. Estiveram pressentes dois representantes da Confederação: Manuel
Joaquim de Sousa, em representação da Federação Anarquista da Região Sul e
Carlos Coelho, que representava a CGT.
Ainda em 1925, no mês de Abril,
demonstrando as diferenças de opinião e de concepção na luta política
existentes no interior destas organizações anarquistas, o secretário adjunto da
Federação das Juventudes Sindicalistas, Manuel Augusto Vasconcelos Silveira,
demitia-se das funções por incompatibilidades com Manuel Viegas Carrascalão,
por considerar que agia isoladamente e sem consultar as estruturas da
organização.
Nas comemorações do 1º de Maio
de 1925, vamos encontrar Manuel Viegas Carrascalão como representante da CGT em
Castelo Branco, discursando perante os trabalhadores e operários desse
distrito. Nessas comemorações encontramos representantes da CGT em actividade
por todo o País, mobilizando os operários e reivindicando melhores condições.
A 15 de Maio de 1925, Manuel
Viegas Carrascalão é preso sob a acusação de ser bombista e de pertencer à
organização clandestina Legião Vermelha, que teria estado na base do atentado a
Ferreira do Amaral, que era o comandante da Polícia Cívica de Lisboa e foi gravemente
ferido nessa altura [ver aqui:
https://toponimialisboa.wordpress.com/2014/02/13/a-rua-do-coronel-comandante-na-flandres-e-na-policia-civica-de-lisboa/].
Esta organização tinha sido
criada em 1919, portanto ainda antes da criação do Partido Comunista Português,
era uma organização armada, embora próxima do bolchevismo, não tinha ligação oficial
ao partido, que actuava de forma violenta, com atentados, raptos, que
funcionava como uma espécie de braço armado e radical da Confederação Geral do
Trabalho. Esta organização, sobre a qual ainda pouco se sabe, mas que teve
grande visibilidade no final da I República devido à quantidade de atentados
realizados. Alegadamente com responsabilidades na colocação de mais de 300
engenhos explosivos, na cidade de Lisboa, entre 1920 e 1925.
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