quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

REVISTA DE CULTURA LIBERTÁRIA - “A IDEIA” Nº81/83



A IDEIA. Revista de Cultura Libertária. II Série, Outono de 2017, nº 81-83 (número triplo, Dezembro 2017); Director: António Cândido Franco; Consultor Editorial: Artur Cruzeiro Seixas; Editor Gráfico: Luís Pires dos Reys; Impressão: Europress; Lisboa; 2017, 320 p.

“A Ideia regressa em 2017 reafirmando a sua marca identitária entre as publicações portuguesas, até da área em que nasceu e se situa, através da atenção que consagra ao surrealismo como “caso de estudo” mas também como prática actuante e “modo de vida”. Além dos documentos e dos textos que o leitor pode encontrar neste número que se prendem com o conhecimento activo desse movimento e das suas figuras portuguesas, republicamos na secção “Leituras & Notas” o editorial do número duplo 30/31 d’ A Ideia (Outono, 1983), consagrado à criação picto-poética e que contou com o empenho de Mário Cesariny. Escrito e publicado há 34 anos, o texto não assinado mas redigido por Miguel Serras Pereira mostra a continuidade entre o passado e o presente desta revista e ilustra a seu modo o entusiasmo que desde há muito votamos ao surrealismo e às suas aspirações indeléveis de liberdade, de amor, de imaginação e de poesia.

Um século depois da revolução russa de 1917, com certeza o evento que mais marcou o desenvolvimento da história mundial no século XX, pareceu-nos indispensável, mais ainda numa publicação que teve como referencial de origem a cultura operária, reflectir sobre este acontecimento com as perspectivas e as ideias que nos são próprias. Ao longo das várias secções deste volume apresentamos um conjunto diverso de materiais sobre o evento, uns amplamente divulgados internacionalmente, mas deficientemente conhecidos entre nós, como os respeitantes à figura de Nestor Makno e aos sucessos de Cronstadt de Março de 1921, outros quase desconhecidos, como os que documentam o impacto da revolução russa na imprensa operária portuguesa da época – e numa altura em que o jornal A Batalha ainda juntava Bakunine, Kropotkine, Lenine e Trotsky. Neste capítulo, além dos estudos de Paulo Eduardo Guimarães e Gabriel Rui Silva, chamamos a atenção para o levantamento feito por António Baião, incidindo na revista A Sementeira, barómetro afinadíssimo dos eventos russos então em curso. Cumpre destacar a figura do operário caldeireiro Hilário Marques, director da publicação, de quem se republicam alguns dos editoriais então dados à estampa. São peças notáveis de independência, de espírito crítico e de perspicácia analítica, valores aliás comuns ao escol operário da época, formado nos valores emancipadores do sindicalismo libertário e todo notavelmente auto-didacta.

Por fim queremos assinalar a republicação do texto de José Pedro Zúquete, publicado pela primeira vez na revista Análise Social (n.º 221, vol. LI, 4.º trimestre, 2016, pp. 966-989), não por estarmos de acordo com tudo o que diz – estamos longe até dalguns enfoques – mas por nos parecer que pela primeira vez, ao menos nos tempos mais recentes, um texto exterior ao movimento, escrito por um jovem politólogo, a quem agradecemos a autorização que nos deu para reproduzir e comentar o seu trabalho, mostra um genuíno interesse pela história das nossas ideias e um rico e actualizado acervo de informações sobre uma parte do anarquismo contemporâneo, podendo assim tornar-se num ponto de reflexão interna. Daí o pedido que fizemos a dois históricos da revista, João Freire e Jorge Leandro Rosa, para comentarem o texto, que levanta porém questões – nas relações do anarquismo com a violência – que os dois comentários aqui publicados, que só comprometem os autores, não esgotam. É pois possível que a ele regressemos em próximo número. Os libertários bateram-se por uma sociedade livre e sem coacções e por isso há 100 anos não puderam seguir os rumos da revolução russa. Continuam hoje a desejar uma sociedade livre e cooperante, sem coacções, sem guerras, sem violências e por isso não podem aceitar a violência – a desobediência civil como Thoreau, Gandhi e Luther King a praticaram, mesmo quando ilegal, valendo por isso aos seus autores a cadeia, é eticamente irrepreensível – como ponto de partida da sociedade a que aspiram” [in Limiar, p. 7, da revista].

[Alguns Anotações Nossas]: António Baião [A Revolução Russa na Imprensa Operária e Libertária da I República - bibliografia], António Cândido Franco [Henry David Thoreau e a Moderna Tradição Libertária], [Conversa com Cruzeiro Seixas], [Correspondência de Fernando Alves dos Santos para Cruzeiro Seixas], [Correspondência de Luiz Pacheco para Fernando de Paços], [Correspondência Mário Cesariny/Natália Correia], Dossier Portugal Surrealismo, Emma Goldman [Recordações de Kropotkine], Gabriel Rui Silva [Manuel Ribeiro, Eduardo Metzner e a Revolução Russa de 1917], [Memorial de Cronstadt], Fernando J. B. Martinho [Virgílio Martinho: Poeta], Hilário Marques [Editoriais D’A Sementeira], Jaime Brasil [A Rússia dos Sovietes], Jaime Salazar Sampaio [textos … inéditos], João Freire [A Acção Anarquista Hoje e há um Século], João de Sousa [poema], José Maria Carvalho Ferreira [Contradições e Equívocos Históricos da Revolução Russa], José Pedro Zúquete [O Anarquismo está de volta?], Manuel da Silva Ramos [Baptista-Bastos Vivo e Indispensável], Miguel Real [Virgílio Martinho entre o surrealismo e o neo-realismo], Paulo Eduardo Guimarães [O Iconoclasmo Acrata e a Crise da Consciência Revolucionária em Portugal nos Anos 20], Risoleta C. Pinto Pedro [Jaime Salazar Sampaio – O Homem Drama].
J.M.M.

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