LIVRO:
Visconde de Seabra. Autor do primeiro Código Civil Português - Biografia;
Autor: Manuel M. Cardoso Leal;
EDIÇÃO: Alêtheia Editores, Abril de 2018.
Autor: Manuel M. Cardoso Leal;
EDIÇÃO: Alêtheia Editores, Abril de 2018.
LANÇAMENTO:
DIA:
14 de Abril (15,30 horas);
LOCAL: Biblioteca Municipal de Anadia (Auditório);
ORADOR: Luís Bigotte Chorão;
LOCAL: Biblioteca Municipal de Anadia (Auditório);
ORADOR: Luís Bigotte Chorão;
“Resultado de uma pesquisa realizada a propósito dos 150 anos do
primeiro Código Civil português, cuja entrada em vigor ocorreu em março de
1868, este estudo recupera aspetos menos divulgados da vida e da obra de
António Luís de Seabra, figura eminente do concelho de Anadia.
Para além do trabalho como jurisconsulto, onde se destaca a
autoria do projeto do referido Código Civil, Manuel Cardoso Leal dedicou
particular atenção à atividade política do magistrado, pouco conhecida, mas não
menos relevante, e ainda a muitos outros factos de uma vida aventurosa de quase
cem anos, que ocupou praticamente todo o século XIX.
O prefácio da obra é assinado por António dos Santos Justo,
catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. A edição, a
cargo de Alêtheia Editores, tem o apoio do Município de Anadia.
Manuel Cardoso Leal é doutorado em História Contemporânea, pela
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, sendo da sua autoria a obra “José
Luciano de Castro – Um homem de Estado (1834-1914)”, editada em 2013, no
arranque do ciclo de eventos que a Câmara Municipal de Anadia dedicou ao
conselheiro no centenário da sua morte.”
► António
Luís de Seabra e Sousa (1795-1898) ou Visconde de Seabra nasceu em 2 de
Dezembro de 1798, a bordo da nau Santa Cruz (quando navegava perto de Cabo
Verde), quando os seus pais se dirigiam para o Rio de Janeiro [cf. Esteves
Pereira, “Portugal. Diccionario Historico, ...”, 1912, vol. VI, p. 772 e ss;
ver, ainda, A. A. Teixeira de Vasconcelos, Revista Contemporânea de Portugal e
Brazil, Vol. IV, 1862-1863, n.º 8, pp.
385-392]. O seu pai era António de Seabra da Motta e Silva - nascido em
Mogofores (Anadia), foi magistrado, cavaleiro da Ordem de Cristo, Ouvidor na
Vila de Príncipe (Minas Gerais), corregedor da comarca de Moncorvo – e sua mãe
Doroteia Bernardina de Sousa Lobo Barreto.
Veio para Portugal, com a família, para fazer os estudos
preparatórios, inscrevendo-se depois (1815) na Universidade de Coimbra, em
Leis, formando-se em 1820. Data dessa época o seu fervor ao liberalismo, que
irrompia na Universidade, frequentando as tertúlias intelectuais de Coimbra – e
entre elas a Sociedade dos Amigos das Letras [fundado por António Feliciano de Castilho
e instalada no Pátio de Castilho; curioso lugar onde funcionou quase que ininterruptamente
diversas associações políticas, culturais, de operários e de instrução popular
e, até mesmo, uma loja maçónica, em 1821] - tendo dado à estampa por alturas da
revolução de 24 de Agosto de 1820, e como exaltação, um curioso e raro soneto
[edição da Imprensa da Universidade]. No princípio do ano de 1821 funda [com
José Pinto Rebello de Carvalho e Manuel Ferreira de Seabra] o periódico local, “Cidadão Literato, Periódico de Política e Literatura” [Nº1 (Janeiro de 1821) ao nº4 (Abril
de 1821); foi impresso o nº1 na Nova Impressão da Viúva Neves e Filhos (Lisboa)
e os números seguintes pela Imprensa da Universidade de Coimbra].
A 7 de Maio de 1821 parte para Alfandega da Fé, para tomar o
lugar de Juiz de Fora, ingressando na magistratura judicial, tendo recebido os “maiores
louvores” [Vasconcelos, ibidem], testemunho que, aliás, se pode ler na portaria
de 3 de Dezembro de 1821, assinada pelo ministro da Justiça, José da Silva
Carvalho.
Na queda do governo liberal
de Junho de 1823 (pela denominada Vila Francada, sublevação de D. Miguel), António
Luís de Seabra, “fiel ao [seu] juramento constitucional”, pede a exoneração do cargo
em Alfandega da Fé, o que veio a verificar-se a 30 de Julho desse ano [cf.
Vasconcelos, ibidem]. Parte então para a sua casa paterna, em Vila Flor, onde
permanece até ao ano de 1825, ocupando-se na tradução das Sátiras e Epistolas
de Horácio. Data de 1826 a sua publicação, em Coimbra, do poema de Cândido
Lusitano, intitulado “O Mentor de Philander: epistolas a um escriptor
principiante”, a “Ode heroica á sereníssima infanta D. Isabel Maria”, (Coimbra,
Imprensa da Universidade) e funda o periódico Observador (II numrs).
A 17 de Agosto de 1825 é nomeado Juiz de Fora em
Montemor-o-Velho, tomando só posse a 14 de Janeiro de 1827, esperando que o seu
antecessor acabasse o tempo de serviço. O período da usurpação do governo por
D. Miguel (1828) encontra-o em terras do Mondego, tendo participado activa e
vigorosamente na defesa do regime constitucional-liberal: em Montemor-o-Velho,
organiza uma “corpo de cavalaria” e foi “encarregado da defesa da margem
direita do Vouga”. É demitido a 4 de Julho de 1828. Face ao fracasso da “Belfastada”
(sublevação miliar contra o usurpador D. Miguel) refugia-se na Galiza, partindo
de lá para o exílio em Inglaterra, Bélgica e França, onde vive em Saint-Servan,
obtendo subsídios do governo francês. Publica diversos folhetos políticos,
entre eles a “Exposição apologética dos portuguezes emigrados que recusaram
prestar o juramento d’elles exigido no dia 26 de Agosto de 1830, Impr. de C. de
Moor, Bruges, 1830.
E é em Saint-Servan que, possivelmente em 1831, integra a loja
maçónica 14 de Rennes, atingindo o grau 4 do Rito Francês, nesse mesmo ano
[vide A. H. de Oliveira Marques, História da Maçonaria em Portugal, 2ª parte,
p. 356]
Regressa a Portugal em 1833, tendo sido nomeado Procurador Régio
junto da Relação de Castelo Branco (Decreto de 25 de Outubro de 1833) e corregedor
interino de Alcobaça, pelo regente D. Pedro. Nesta última função, António Luís
de Seabra, foi “acusado com violência de factos culposos acerca dos bens dos
religiosos de S. Bernardo naquela vila” [Vasconcelos, ibidem]. Responde, mais
tarde, com o curioso folheto “Observações do ex-corregedor de Alcobaça ….”,
Lisboa, 1835. Já então era deputado – eleito, por Trás-os-Montes, nas eleições de
15 de Agosto de 1834 -, facto que o levou a intervir no parlamento (e a
publicar em sua defesa o folheto atrás referido), perante as acusações e
calúnias contra si e que foram, curiosamente, todas ilibadas pela própria oposição,
na pessoa de José da Silva Carvalho (sessão da Câmara de 21 de Outubro de
1834).
António Luís de Seabra fez um percurso longo e brilhante, quer como
magistrado, procurador régio, deputado (os seus discursos são importantes), jurista ou jornalista.
Foi presidente da Junta do Depósito Público
(Setembro de 1835),
funda o semanário Independente (Lisboa, 1836), é deputado por Penafiel (1837), pelo
Porto (1840), é nomeado juiz desembargador (1840), funda o jornal Estrela do
Norte (Porto, 1846), membro da Junta do Porto (organizada por José Passos em 1846-7;
Patuleia), publica (Lisboa, 1849) o valioso opusculo “Observações sobre o
artigo 630º da Novissima Reforma Judiciária”, em Coimbra é editado (1850) o I
volume de “A Propriedade, Philosophia do Direito” [curiosa e polémica resposta
ao livro de Proudhon, acerca da propriedade; nunca saiu a lume o seu II volume],
por decreto de 8 de Agosto de 1850 foi encarregado da missão de organizar o
projecto do Código Civil Português, é deputado por Aveiro (1851), exerce as
funções de presidente do Tribunal da Relação do Porto (1852), foi
ministro da Justiça e dos Negócios Eclesiásticos (1852, governo de Saldanha;
foi Seabra substituído, depois, por Rodrigo da Fonseca Magalhães), publica a I
parte do seu projecto do Código Civil (1857), conclui o seu projecto do Código
Civil (1859), foi presidente da Câmara dos Deputados (1859 e 1862), é deputado
pela Anadia (1861), em 1865 recebe “a mercê” do título de Visconde, é nomeado reitor
da Universidade (1866), é aprovado e promulgado o [seu] Código Civil pela lei
de 1 de Julho de 1867, é juiz conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça, publica “A
Colombiada ou a fé levada ao novo mundo …” (1893). Cego, há muitos anos, deixou
por concluir, entre os seus numerosos escritos publicados, um romance
prometedor, “António Homem ou Mestre Infeliz”.
António Luís de Seabra era comendador da Ordem de Cristo, tinha sido
agraciado com a cruz de S. Maurício e de S. Lázaro (Itália), cruz da Rosa
(Brasil); era cadete honorário dos dragões de Minas Gerais; era sócio da
Academia Real das Ciências de Lisboa. Foi casado por duas vezes, a primeira com
Doroteia Honorata Ferreira de Seabra da Mota e Silva, e a sua segunda esposa
foi Ana de Jesus Teixeira. Deixou descendência.
J.M.M.
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