domingo, 10 de janeiro de 2021

LUIS ESPINHA DA SILVEIRA (1954-2021) - IN MEMORIAM


Luís Espinha da Silveira nasceu em Lisboa em 14 de Dezembro de 1954.

Professor Associado com Agregação de História, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa e investigador do Instituto de História Contemporânea. Fundador do Instituto de História Contemporânea, defendeu a sua dissertação de doutoramento em 1988 subordinada ao tema Revolução Liberal e Propriedade: a venda dos bens nacionais no distrito de Évora (1834-1852).

Os trabalhos e o currículo podem ser consultados AQUI.

Desta vez porém, porque os testemunhos pessoais também são importantes para se conhecer melhor as pessoas, deixamos o apontamento que Leonardo Aboim Pires, deixou no seu mural do Facebook, cuja disponibilidade agradecemos:

LUÍS ESPINHA DA SILVEIRA (1954-2021)
Foi hoje que recebemos a triste notícia do falecimento do Prof. Luís Nuno Espinha da Silveira.
Tive o privilégio de ter sido seu aluno na licenciatura em História e no mestrado em História Contemporânea. Originalidade e rigor, quanto a mim, serão as duas palavras que melhor o definem como historiador.
A sua forma de lecionar recordo-a em dois momentos particulares. O primeiro foi na opção livre de investigação «Territórios e Sociedades», onde também se encontravam os professores
Daniel Alves
e
Paulo Fernandes
, em que nos demonstrou a importância da leitura e compreensão das mudanças na paisagem. Como exemplo, escolheu a cidade de Lisboa e o espanto foi geral ao mostrar fotos da zona de Monsanto antes e depois da florestação.... Outro deles ocorreu numa aula de História de Portugal Contemporâneo (século XIX) em que, com base na toponímia das Avenidas Novas, explicou grande parte da história política oitocentista. O entusiasmo foi, igualmente, notório.
A importância que dava à literatura e à música como espelho da sociedade portuguesa do liberalismo também marcava. Ramalho Ortigão ou Domingos Bomtempo entravam assim na sala de aula.
O seu percurso de investigador esteve norteado por temas que a historiografia teimava em deixar para trás. Uma primeira fase ficou marcada pelo seu interesse na problemática da história agrária em Portugal no século XIX, com especial incidência na questão dos agentes sociais envolvidos no processo de desamortização. Esse tema seria desenvolvido na sua tese de doutoramento «Revolução Liberal e Propriedade: a venda dos bens nacionais no distrito de Évora (1834-1852)», defendida em 1988, além de vários artigos.
Posteriormente, temas como a construção do Estado liberal, as relações entre o território e o poder, as elites e os poderes locais e o municipalismo foram estruturantes, de que também resultaram várias teses de mestrado e doutoramento sobre estas questões. O livro «Território e Poder. Nas Origens do Estado Contemporâneo em Portugal» (1997), ainda hoje uma referência, congregou muita dessa investigação.
O seu pioneirismo ficou demonstrado no trabalho desenvolvido sobre as potencialidades da informática aplicada à investigação histórica e, em particular, a aplicação dos sistemas de informação geográfica (SIG), de que os projetos Atlas - Cartografia Histórica (http://atlas.fcsh.unl.pt/) e Memórias Paroquiais de 1758 (http://www.fcsh.unl.pt/memorias/) são alguns exemplos entre vários.
Recentemente, a história ambiental também estava presente nas suas preocupações científicas. Sendo este um dos temas também do meu interesse, quando lhe referi isso numa aula de mestrado, prontamente disse: «Não me diga que também quer estudar gafanhotos?». Uma pergunta que tanto demonstrou um certo espanto como uma notória e genuína recetividade a quem quisesse estudar tais temas. Curiosamente, mais tarde, acabei mesmo por estudar gafanhotos com a
Ana Isabel Queiroz
.
De referir ainda que foi investigador fundador do
Instituto de História Contemporânea
, em 1990.
Aqui fica a minha modesta e sincera homenagem a um professor que com os seus estudos científicos, o seu exemplo como docente, o particular cuidado e exigência com que nos guiava os trabalhos, permanecerá na memória da
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas - NOVA FCSH
e da historiografia portuguesa.
Leonardo Aboim Pires

O Professor Luís Espinha da Silveira faleceu hoje, 10 de Janeiro de 2021.

Fica a obra que publicou, os projectos que desenvolveu, os trabalhos que acompanhou orientando mestrando e doutorandos ao longo do tempo.

As condolências à família, aos amigos e aos colegas que com ele compartilharam trabalhos e conhecimentos.

A.A.B.M.

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