LIVRO:
Assim
cantava um cidadão do Mundo;
AUTOR:
Roberto das Neves (1907-1981);
EDIÇÃO:
Hora de Ler (reed. da obra publicada em 1952 pela Germinal do Rio de Janeiro – livro
proibido pelo Estado Novo), 2022, 160 p.
PEDIDOS: horadelercf@gmail.com
Trata-se da reedição do livro de poemas, de forte
inspiração libertária e anticlerical, de autoria do ilustríssimo pedroguense e
cidadão do Mundo, Roberto
das Neves, anarquista individualista,
poeta, espiritualista, maçon (o Irmão Satã, iniciado na Loja Rebeldia, em 29 de Fevereiro de 1930), grafólogo, esperantista, vegetariano,
naturista, jornalista e editor [ver, AQUI]. Preso pela polícia política, em
1926 em Coimbra (pela publicação e distribuição de poemas político-satíricos –
como o Espectro de Buiça, curiosamente dedicado aos seus amigos e camarada anarquistas como Arnaldo Januário, Afonso
de Moura, Mário Castelhano, Lomelino
Lentes e José de Almeida), continuou a ser alvo de intensas perseguições políticas desde o inicio
do Estado Novo, tendo passado por inúmeras prisões e algumas rocambolescas fugas,
empenhado desde sempre no movimento libertário, anarquista e anticlerical. Em
1942 parte para o Rio de Janeiro, falecendo aí a 28 de Setembro de 1981
[consultar, com proveito, esta 2ª ed. do “Assim
cantava um cidadão do mundo”, Aires
B. Henriques, pp. 17-35].
► UMA PÁTRIA PLANETÁRIA
Natural de Pedrógão Grande, ROBERTO DAS NEVES é uma daquelas
personalidades cuja vida e obra se fundem. A sua vida (1907-1981) desenrolou-se
num tempo pródigo em acontecimentos mundiais de forte impacto global (duas
guerras mundiais, a guerra civil de Espanha e, mais próximo, o 25 de abril de
1974). Sem dúvida um tempo pródigo em mudanças globais, mas também em 'debates
políticos, culturais, espirituais e artísticos' muito intensos.
ROBERTO DAS NEVES foi um devotado anarquista. Sendo, ainda, esperantista; maçon; ateu; vegetarianista; pacifista; jornalista; anticlerical; antissalazarista e anticomunista (recusando o caráter concentracionário do socialismo real). Foi, sem dúvida, um incansável lutador pela liberdade em todas as suas vertentes.
Depois de conhecer, por diversas vezes, o cárcere salazarista, escolheu o Brasil como terra para tentar realizar os seus sonhos e ideais. Digamos que nessa escolha mostrou muito do seu apego à Língua Portuguesa que tanto amava e que tanto cultivou. ROBERTO DAS NEVES foi um escritor de vasta e multifacetada obra e foi poeta. Alguém lhe chamou de poeta maçónico.
Os tempos de hoje precisam de mulheres e de homens que defendam uma Pátria Planetária como ROBERTO DAS NEVES militantemente defendeu no seu tempo.
[MÁRIO MÁXIMO, Escritor e poeta Ex-Presidente da Associação Fernando Pessoa/ Gestor de Assuntos Lusófonas – in contracapa do livro]
► RAZÕES DE UMA EDIÇÃO
Jornalista e escritor, maçon,
homem culto e de causas, Roberto Barreto
Pedras das Neves é porventura um dos cidadãos que em Portugal mais viveu
intensamente o curso dos diferentes períodos da política nacional, ao ponto de,
pela acção e pelo verbo, nelas pretender intervir a bem dos valores da paz, da
livre convivência e do progresso.
Por isso, Roberto das Neves foi lembrado pela Casa (regional) de Pedrógão Grande em Lisboa em 2006, quando se celebrava o centenário do seu nascimento, decorrido a 7 de Setembro de 1907, e quando então presidíamos à sua Direcção.
Com a colaboração do seu genro, o coronel Manuel Pedroso Marques, também ele refugiado no Brasil, e que com Roberto mais de perto convivera, tivemos a oportunidade de publicar uma primeira nota biográfica sobre o homem e o cidadão, as suas convicções, as suas lutas e os seus desfechos, que o forçaram a procurar refúgio no Brasil após o período dramático da Guerra Civil de Espanha e o início da II Guerra Mundial em que a repressão policial mais se agudizava em Portugal.
Ora, que se celebram 40
anos sobre a data do falecimento de Roberto
das Neves no Rio de Janeiro, não podemos deixar de mais uma vez o
relembrar, encontrando na reedição deste seu livro de poemas - "Assim
Cantava um Cidadão do Mundo" - porventura a mais grata forma de o
fazer, homenageando o cidadão e o escritor, enquanto fazemos prova do seu
imenso talento, imbuído de ardentes palavras de paz e amor às comunidades por
quem, não escusando a liça, sempre se empenhou.
Irmanado dos mesmos propósitos cívicos de muitos outros concidadãos amigos e de ideal - como Tomás da Fonseca, Francisco Barata Dias, o Padre Joaquim Alves Coreia e Vasco da Gama Fernandes -, Roberto das Neves esmerou-se ao longo de toda a sua vida por que o trabalho de burilamento do seu ser - a sua pedra “milheira" beirã – se convertesse numa imensidão de reluzentes "grãos” ou tocantes partículas capazes de iluminar o mundo à sua volta, de preferência sem iníquas fronteiras e falando urna só língua universal.
A leitura da sua obra e mensagem é para nós por demais gratificante. Por isso, depois de "Pestana Júnior, Profeta Republicano" (2010) e de "Leiria no Reviralho - João Lopes Soares às Avessas" (2020), o Museu da República e Maçonaria não poderia deixar de promover mais uma honrosa edição que verdadeiramente atesta do melhor que a nossa "História & Memória" colectiva do republicanismo tem para nos presentear. E que com ela, ora 70 anos após a edição brasileira, bem possamos ainda sublinhar os dotes poéticos de Roberto das Neves a iluminar um caminho mais fraterno, de esperança, justiça, tolerância e paz, inspirador dos cidadãos de boa vontade.
Dotes poéticos esses que o também poeta Tomaz da Fonseca sublinha ao caracterizar o "Assim Cantava um Cidadão do Mundo" como "um livro que esmaga quem o lé", pois "jamais se escreveu em língua portuguesa nada mais arrasador contra os privilégios e os preconceitos", como "um grito a favor dos humilhados"; como um livro a que está "destinado um lugar inconfundível na história da literatura mundial e, particularmente, na da literatura libertária e da resistência ao totalitarismo em Portugal, que encontrou em (Roberto das Neves) o seu épico".
[O Editor (Aires B. Henriques), Villa Isaura, 7 de Dezembro de 2021, pp.7-8]
J.M.M.
Sem comentários:
Enviar um comentário