terça-feira, 22 de novembro de 2022

[GRANDE ORIENTE LUSITANO – MAÇONARIA PORTUGUESA] BICENTENÁRIO DA MORTE DE MANUEL FERNANDES TOMÁS

 


A PERENIDADE DE MANUEL FERNANDES TOMÁS (1771 – 1822)

«A afirmação de Ortega & Gasset: “Eu sou eu e a minha circunstância” é um convite à interpelação, ao que de mais profundo resiste dentro de nós, aos exemplos daqueles que fizeram o caminho para estarmos aqui. Muitos o fizeram antes, somos herdeiros da cultura Greco-Latina a que devemos juntar a matriz judaico-cristã.

Agora que a Universidade de Coimbra vai ter um polo na Figueira da Foz faz todo o sentido lembrar que Manuel Fernandes Tomás frequentou a Universidade de Coimbra entre 1785 e 1791, tendo-se formado em Cânones. Talvez tenha recebido aí o seu primeiro banho de dialética, a reforma pombalina trouxe a Coimbra o melhor de uma Europa que se exprimia no pensamento e nas artes.

Sabemos que trabalhou cerca de cinco anos no município da Figueira da Foz, que passou por Arganil, Coimbra e Porto (1816), onde foi um dos militantes mais convictos das causas liberais, tendo fundado o Sinédrio (1818), com José Ferreira Borges, João Ferreira Viana e José da Silva Carvalho. O Sinédrio teve o apoio de lojas maçónicas de Lisboa, e de maçons que viviam em Coimbra, Santarém e na Figueira da Foz. Manuel Fernandes Tomás era maçon, com o nome simbólico Valério Publícola, tendo chegado a ser Venerável (1821) da Loja Patriotismo, nº7, ao Vale de Lisboa.

Participa nas Cortes Constituintes (1821) e no desenho da 1ª Constituição Portuguesa. A sua morte em Novembro de 1822, não lhe permitiu assumir o mandato nas Cortes Legislativas.

Estamos aqui a evocar o homem, o seu pensamento e o legado de Manuel Fernandes Tomás, quando passam 200 anos da sua morte, aquele que foi o “Patriarca da Liberdade Portuguesa”, aquele que não hesitou em erguer o verbo para contra os que recusavam jurar a Constituição (inclusive o Patriarcado de Lisboa). Aquele que elegeu a Liberdade como um dos vértices da trilogia da Revolução Francesa: Igualdade e Fraternidade. Considerava que é a Liberdade é o maior dos direitos do homem, aquele que permite pensar e escolher, o que ousa a sua condição pela dignidade.

Nesse arco de 200 anos nasce, em 1900, a Loja Fernando Tomás, que adota o seu nome como patrono. Nessa mesma loja, importa lembrar a data de 24 de Agosto de 1904, já em plenos trabalhos maçónicos, em sessão especial, o irmão Bernardino Machado, recebe a insígnia de Venerável Honorário. O povo maçónico associa-se para que o monumento da Praça 8 de Maio fosse uma realidade, tendo a loja Fernandes Tomás um papel determinante, ainda que com o apoio do Grande Oriente - tendo sido inaugurado no dia 24 de Agosto de 1911. É esta transmissão dos valores da liberdade, da igualdade e fraternidade que une os que se reveem na maçonaria universal. A cadeia de união que junta homens e mulheres que acreditam que é possível construir uma sociedade mais justa e igualitária, respeitando as diferenças é aquilo que nos une há séculos. Os melhores de nós morreram por nós, lembro Gomes Freire de Andrade.

Manuel Fernandes Tomás atravessa o tempo, esse grande escultor, de que falava Marguerite Yourcenar. O que fazemos na Maçonaria? “Trabalhamos para a construção de um homem novo e de uma sociedade nova, ou seja, para dar à vida um sentido ético e solidário. Praticamos o livre pensamento, a tolerância e a filantropia. “ Essa filantropia que permitiu, também, erguer o monumento a Manuel Fernandes Tomás. Como escreveu António Arnaut, “Queremos um mundo mais livre, justo e fraterno. A utopia que alimenta a nossa fome de perfeição é a certeza de que o futuro está nas mãos de todos os homens e mulheres de boa vontade. Por isso, a Maçonaria é hoje tão indispensável como no passado.”

Não é possível estudar os últimos 200 anos da História de Portugal sem reconhecer a importância da Maçonaria, dos maçons que como Manuel Fernandes Tomás construíram um edifício constitucional que alimentou a chama de um futuro que ainda nos aquece e desafia. Talvez, seja fácil reconhecer que uma enorme parte da Humanidade mais válida lhe pertenceu ou pertence. Hoje estamos aqui a lembrar Manuel Fernandes Tomás, que dizia: “tirar ao homem e ao cidadão a liberdade é o maior castigo que se lhe pode dar, porque o priva de maior direito”.

É impossível esquecermos neste momento a guerra na Ucrânia. Por isso, “Pátria é sinónimo de Liberdade. Onde está a Pátria aí está também a Liberdade”, dizia Magalhães Lima, em 1928, então Grão-Mestre.

Em nome do Grão-Mestre, Fernando Cabecinha, e do Grande Oriente Lusitano, Maçonaria Portuguesa, presto a mais sentida homenagem ao homem, ao seu pensamento, ao cidadão, cuja perenidade evocamos ao lembrar os seus ideais e valores, Manuel Fernandes Tomas, duzentos anos depois do seu desaparecimento.

“Nos quase 300 anos de história maçónica, nos mais de 270 dessa mesma história em Portugal e nos quase 200 anos de existência do Grande Oriente Lusitano, o combate pela Liberdade tem sido um denominador comum.” (Oliveira Marques, há 20 anos). É por essa liberdade que aqui estamos e estaremos sempre, mesmo que isso tenha um preço elevado. Agradecemos o convite do senhor Presidente da Câmara, Dr. Pedro Santana Lopes, para esta evocação de um dos nossos que é, também, da pátria.

[Discurso proferido por António Vilhena, em representação do Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano, Maçonaria Portuguesa, na Figueira da Foz a 19 de Novembro de 2022 - sublinhados nossos]

 J.M.M.

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