quarta-feira, 28 de março de 2007

O CENÁCULO DOS INTRANSIGENTES



No prosseguimento da Greve Académica de 1907 em Coimbra, a tentativa de "romper os laços de solidariedade que se estabeleceram, e se mantinham, entre os estudantes de Coimbra e entre estes e os de todas as escolas superiores e técnicas do país" [in História da Greve Académica de 1907, de Alberto Xavier, 1962] foi diversas vezes tentada, sem total êxito. A nomeação do novo reitor da Universidade de Coimbra, D. João de Alarcão, os apelos de vários pais de alunos ["na sua maioria, políticos militantes, e, alguns deles, franquistas", ibidem] para demover os estudantes e a solicitação feita ao próprio Rei, nesse sentido, ele mesmo interessado na resolução do conflito, levou a contemplar diversos mecanismos para que os estudantes desavindos pudessem fazer as suas provas, sem ao mesmo tempo "vexar os professores". Não foi, parece, pacifica entre os lentes, e em especial os da Faculdade de Direito, o processo que permitia "a realização dos actos", o que não obstou a que um Decreto (23 de Maio de 1907) do ministro do Reino determinasse a "reabertura da Universidade para efeitos de exames", mediante algumas condições.

Pretendia-se, dado a ordem a cumprir rigorosamente, que os estudantes regressassem individualmente e "somente nos dias indicados para as provas", para que afastada a presumida "reunião" dos alunos dos "cursos jurídicos", de onde pertenciam os mais intransigentes, se estabelecesse a quebra de "solidariedade" entre os estudantes de Coimbra e entre estes e os do resto do país. Diversos normativos foram publicados para o efeito, quer no que respeita a Coimbra, quer aos cursos de Lisboa e Porto.

Desta forma, em Coimbra, dos "1049" alunos matriculados, "encerraram a matricula 866 alunos", para efeitos de exame. Por decisão do Conselho de Decanos [1 de Abril de 1907] sete alunos tinham sido expulsos e recusaram-se a requerer matrícula [diz-nos Alberto Xavier] 160 alunos [e não 155 como foi na altura registado]. Tais estudantes "que procederam como homens de perfeita responsabilidade, dotados de livre autonomia de vontade, os quais, desinteressada e briosamente, se recusaram a requerer matrícula para efeitos de exames, enquanto os sete camaradas, injustamente expulsos, não fossem restituídos à plenitude dos direitos e regalias universitárias" [idem, ibidem], a opinião publica denomino-os de intransigentes.

Aos intransigentes, a estes alunos, foi dada a ordem de "abandonar Coimbra". Muitos regressaram às suas casas, mas um curioso grupo deles foram "passar o Verão à praia da Figueira da Foz, onde organizaram uma ‘pousada’ denominada dos Intransigentes, na Rua do Melhoramento, 63. Logo de início os comensais eram

Alfredo Pimenta, Alfredo França, M. Monteiro, Pestana Júnior, Justino Campos, Teixeira Jardim, Sant'Ana Leite, e Parreira da Rocha. Outros apareceram a aumentar o número" [ibidem]

Diz-nos, ainda, Alberto Xavier, citando o jornal O Século de 14 de Junho, desse ano:

"O 'Cenáculo dos Intransigentes', instalado na Figueira da Foz, continua sendo o ponto de reunião de todos os estudantes que não encerram matrícula na Universidade. Aquela agremiação académica tem já um hino próprio, denominado charge aos furadores da greve, e que se vai tornando popular, por os estudantes o cantarem, em grupos, pelas ruas, nas proximidades do cenáculo. O autor do hino foi o maestro Dias Costa

J.M.M.

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