terça-feira, 22 de maio de 2007

SEMANÁRIO "IMPARCIAL"


Semanário "Imparcial"

Semanário dos estudantes católicos de Coimbra, ligado ao C.A.D.C., [Centro Académico de Democracia Cristã] e seguidor da anterior revista ceadecista Estudos Sociais; Edição e Direcção de Gonçalves Cerejeira (1888-1977), posteriormente D. José Manuel de Noronha, Pestana Reis, Manuel de Lemos e, por fim, Bento Coelho da Rocha; Propriedade e Administração de Carneiro Mesquita; nº1 (22 de Fevereiro de 1912) ao nº 341 (12 de Maio de 1919); Impressão na Tipografia Silva (A Vapor), Aveiro. A redacção era, inicialmente, na Rua da Matemática, passando depois no seu 2º ano para a rua da Trindade, em Coimbra.

O jornal Imparcial é importante para o estudo "tanto dos movimentos católicos, enquanto tais, quer mesmo da forma como estes se organizaram no combate ao regime republicano" [António Rafael Amaro, O Imparcial, um Jornal de Combate (1912-1919)]. A elite ou "nova geração" católica que daí resultou "marcou a linha divisória entre o predomínio das ideias avançadas (entenda-se liberais e socialistas – nota de António R. Amaro) e o das ideias conservadoras" [cf. A. R. Amaro]. O estudo e divulgação de Maurras, a abertura às teses integralistas [que aliás foram introduzidas desde 1908 no circulo do C.A.D.C. (cf. Supra) - vidé ainda na obra citada os conflitos entre o jornal e os monárquicos e integralistas], o seu posicionamento conservador e reacionário [com o qual plenamente se identificavam – vide nº6, Março 1912] revelam o papel de "combate" e de liderança contra "o novo poder republicano". Não por acaso, na passagem do seu 1º aniversário era dito por Manuel Gonçalves Cerejeira que a publicação revelou "uma geração moça confiante no futuro e forte na fé, esperança auroral de uma amanhã mais ditoso” [nº 54, 8 de Abril 1913 - cf. supra].

O periódico dos estudantes católicos conservadores tinha uma mensagem política intencional de "ruptura", doutrinando e organizando os católicos contra as medidas tomadas pela jovem República. Nesta "conquista das almas" contra "o liberalismo, a democracia e o socialismo" [cf. supra], os "imparcialistas" assumem a luta, em 1912, contra as leis laicizadoras (Lei da Separação), ao mesmo tempo que "defendem e reclamam" o aparecimento de uma organização política católica [o Centro Católico Português, aparece em Agosto de 1917, mas havia antes a União Católica que fez eleger dois deputados em 1915] que, curiosamente, haveria de não entrar nas boas graças de Salazar, por mera razão de estratégia de distribuição de poder.

Não espanta, portanto, que este centro político de estudantes católicos, agregados no Imparcial, polemize (1914), por vezes violentamente. Caso de Gonçalves Cerejeira, contra a acusação feita por Bernardino Machado de "provocar conflitos e divisões entre os estudantes" e contra o seu fecho pela Universidade. Do mesmo modo, argumentam contra a posição monárquica a propósito da ida a eleições e da opinião daqueles que viam nisso uma divisão das forças conservadoras. E, como seria de esperar, assumem nas suas páginas a luta contra as leis laicizadoras da República, a Lei de Separação.

Principais colaboradores: Alberto Diniz da Fonseca, António Oliveira Salazar [assina com o pseud. Alves da Silva], Augusto Morna, Bento Coelho da Rocha, Carneiro Mesquita, D. José Manuel de Noronha, Diogo Pacheco de Amorim, Francisco Veloso [assina com o pseud. Éfevê], João de Castro [assina com o pseud. de Ruy], Joaquim Diniz da Fonseca, José Nosolini [assina com o pseud. Val d’Oleiros], Luís Teixeira Neves, [Cardeal] Manuel Gonçalves Cerejeira, Manuel de Lemos, Pestana Reis, Sousa Veloso.

Fonte principal consultada: "O CADC de Coimbra, a democracia cristã e os inícios do Estado Novo (1905-1934)", de Jorge Seabra et al, Colibri, 2000]

J.M.M.

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