domingo, 10 de junho de 2007
CENTENÁRIO DE CAMÕES (1880)
Assinala-se hoje, 10 de Junho de 2007 o feriado que marca o aniversário da morte do maior poeta português, Luís Vaz de Camões. Porém, muita gente já não sabe porque motivo o 10 de Junho começou a ser feriado.
Assim, em 1879, Joaquim de Vasconcelos apresentou na Sociedade de Geografia de Lisboa a proposta para a comemoração do Tricentenário da morte de Camões, mais tarde em Abril de 1880, cria-se uma comissão para organizar os festejos, sendo constituída essencialmente por jornalistas e escritores em destaque na época. Sendo uma organização que se desenvolveu por todo o País, envolveu muitas personalidades, mas a comissão central, responsável pelos acontecimentos em Lisboa era constituída por:J. C. Rodrigues da Costa, Eduardo Coelho, Sebastião de Magalhães Lima, Teófilo Braga, Ramalho Ortigão, Jaime Batalha Reis, Luciano Cordeiro, Rodrigo Afonso Pequito.
A partir de 1880, começou a ser feriado nacional em Portugal, tendo esta data sido aproveitada para assinalar também o Dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas, já que nós fomos por tradição um país de emigração esta data servia para assinalar a importância de todos os portugueses que eram, foram ou são emigrantes.
A propósito dizia Teófilo Braga sobre o Centenário de Camões de 1880:
Nesse dia, todas as forças vivas, tudo quanto há com futuro ainda nesta pequena nacionalidade, vibrou com unanimidade ao impulso de um estímulo consciente, a tradição ligada ao nome de Camões como representante e o símbolo da civilização de um povo que se sente da vida histórica. A nação inteira compreendeu esta grande data, em que a perda da nacionalidade coincidiu com o passamento daquele grande espírito, que ao ver a pátria invadida pelos exércitos de Filipe II, expirou num desalento que se tornou o protesto eterno da liberdade. […] O dia 10 de Junho de 1880, não devia passar despercebido; era uma prova terrível contra a nossa vitalidade, e a nação compreendeu o sentido desse grande dia. O Centenário de Camões manifestou à Europa, que sabíamos tirar partido da maior tradição do nosso passado histórico o estímulo para um renascimento. A festa da nossa primeira glória literária e artística foi simultânea por todo o território português, e fez-se por fundações fecundas de iniciativa individual, pela cooperação activa dos municípios, que compreenderam que eram os representantes directos da liberdade nacional, e pelo acordo de todas as classes sociais. O Centenário de Camões excedeu tudo quanto era possível prever; a Europa deu um carácter universal ao jubileu deste pequeno povo: em França, Itália, na Alemanha, Suécia, em Bóston, na Filadélfia, celebraram-se comemorações generosas e comoventes, glorificou-se o nome de Camões em livros e trabalhos artísticos que ficam.
[Teófilo Braga, História das Ideias Republicanas em Portugal, col. Documenta Histórica, Vega, Lisboa, 1983, p. 163-164]
Alexandre Cabral, analisando o acontecimento explicou-nos o processo utilizado por Teófilo Braga, para conseguir os seus objectivos. Em 8, 9 e 10 de Janeiro de 1880 começa por publicar um conjunto de artigos intitulados O Centenário de Camões em 1880, no jornal Comércio de Portugal e afirma:
Além dos preciosos ensinamentos de natureza erudita, o essencial dos artigos era promover a associação do nome glorioso de Camões ao possível (e necessário) renascimentos da Pátria. Assim, como em 1580, Os Lusíadas, no momento em que o usurpador do Escorial fazia perigar a soberania de Portugal, profetizaram sobre as glórias passadas o bem-estar e a independência porvindouros, assim em 1880, o Partido Republicano, considerando-se legítimo representante do simbolismo camoniano, consubstanciava as esperanças do povo no renascimento da grei lusitana”. A ideia de comemorar dignamente o tricentenário da morte do Épico, como sintoma de vitalidade e crença no futuro, e não como atitude fetichista e retrógrada de reverenciar as passadas grandezas […].
[Alexandre Cabral, Notas Oitocentistas – I, Livros Horizonte, Lisboa, 1980, p. 63.]
Por seu lado, o professor Fernando Catroga afirmou sobre as comemorações do Tricentenário de Camões:
A estratégia ideológica que os positivistas portugueses (Teófilo Braga, Ramalho Ortigão) imprimiram às comemorações camonianas foi inspirada não só no tom erudito das comemorações petrarquianas [1874], mas também nas festividades promovidas pelos radicais franceses em honra de Voltaire e Rousseau. […] Assim, enquanto nas comemorações de 1878 se nota a intenção de se aglutinar o clima de unidade nacional à volta de um regime, entre nós, as festas foram apresentadas como um projecto que, se se pretendia independente do constitucionalismo monárquico, não queria confundir-se, porém, com o Partido Republicano. Logo, a veemência com que foi sublinhado o seu significado exclusivamente nacional, o que não impediu, porém, que os frutos do seu sucesso tenham sido colhidos essencialmente, pelo republicanismo.
[Fernando Catroga, A Militância Laica e a Descristianização da Morte em Portugal (1865-1911), FLUC, Coimbra, 1988, p. 906]
A.A.B.M.
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