segunda-feira, 27 de agosto de 2007

JOSÉ CARRILHO VIDEIRA (Parte II)


Além do que se indicou, tem sido editor e colaborador das seguintes obras:

Almanaque Republicano [1875 a 1887];
Biblioteca Republicana Democrática. – Publicaram-se 22 fascículos. Alguns são traduzidos ou anotados por Carrilho Videira.
Catecismo Republicano para uso do Povo, 1880. - Em colaboração com Teixeira Bastos.
História da Revolução Francesa de 1789, por Hamel. Traduzida e anotada. - E o primeiro volume da «Biblioteca Histórico Científica», da qual é também proprietário.
Aos eleitores do circulo 110 (Portalegre, Castello de Vide, Marvão e Arronches) .- Duas paginas em fólio. Tem a data de Lisboa a 16 de Outubro de 1879. Respeita a candidatura do autor apresentada por aquele círculo, apoiada por um manifesto assinado pelos srs. dr. Teófilo Braga, Teixeira Bastos e Franco de Matos, e inserto no Amigo do Povo.

Sendo um dos precursores da República em Portugal, Carrilho Videira, na opinião de Sebastião de Magalhães Lima “pode dizer-se que foi um herói” num tempo em que era perigoso ser republicano. Com os seus parcos recursos desenvolveu uma actividade notória ao publicar dezenas de opúsculos de propaganda. [Cf. Magalhães Lima, Episódios da Minha Vida. Memórias documentadas …, Livraria Universal, Lisboa, 1928]. Ele e muitos republicanos como ele aspiravam a um ideal de República que, acreditavam, se podia conseguir por duas formas: “derramando e propagando os princípios modernos, as noções reais e positivas das coisas, e o conhecimento dos direitos individuais e colectivos por meio da imprensa, de jornais, de livros e folhetos, de conferências públicas, etc.; e formando em todos os pontos do país pequenos núcleos de união (até mesmo de três indivíduos) ou centros políticos que procedam à agremiação dos novos elementos e preparem forças para fazerem manifestações republicanas na urna ou de qualquer outro modo legal”. [Carrilho Videira e Teixeira Bastos, Catecismo Republicano para uso do Povo, apud Amadeu Carvalho Homem, A Propaganda Republicana (1870-1910), Coimbra, 1990]

Um dos aspectos mais curiosos do seu pensamento de base federalista foi a divisão de Portugal “formado por Estados do Norte, Centro, Sul e Algarve e ainda por mais uns tantos Estados Ultramarinos”.

Carrilho Videira, desagradado com sucessivos fracassos e desavindo com muitos dos seus correligionários, afasta-se gradualmente da vida política e dedica-se á publicação de obras literárias ou científicas, consoantes todavia com os princípios que segue, e tem, com esse intuito, mandado imprimir entre outras as seguintes obras:

Biblioteca das Ideias Modernas. - Fascículos de 32 paginas, em que são divulgadas as doutrinas de Darwin, Lubock, Ramsay, Bertholet e outros. Publicaram-se dez volumes da primeira série.

Materiais para a Historia da Literatura Brasileira. (Cantos e contos populares do Brasil, coligidos por Sílvio Romero, e anotados por Teófilo Braga.).

Vibrações do Século, por Teixeira Bastos.

Miragens Seculares, epopeia cíclica da historia pelo dr. Teófilo Braga.

Revista de Estudos Livres. – Publicou-se entre 1883 e 1887. Era dirigida por Teófilo Braga e Teixeira Bastos, onde colaboravam muitos escritores da época como Júlio Lourenço Pinto, Júlio de Matos ou José António Reis Dâmaso. Esta revista bem apreciada pelos periódicos de igual natureza e especialmente pela Révue Indépendent, de Paris, a que Camilo Castelo Branco se referiu, louvando a perseverança do editor em manter uma publicação, «que não envergonhava o país».

História das Ideias Republicanas em Portugal, de Teófilo Braga, 1880.

Cerca de 1887 parte para o Brasil onde prossegue a sua actividade de livreiro até ser hospitalizado devido a problemas mentais. Encontram-se fortes vestígios da sua presença no Brasil entre 1892 e 1894, como é referido aqui. Regressa então a Portugal já bastante doente vindo a falecer em Marvão em 25 de Agosto de 1905, efeméride que se assinalou no passado sábado.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
BARBOSA, Luísa Maria Gonçalves Teixeira, O Contributo da Comunidade de Portugueses no Brasil para a Consolidação do Republicanismo em Portugal (1890-1910) in http://www.museu-emigrantes.org/seminario-comunacao-luisabarbosa.htm
CATROGA, Fernando, O Republicanismo em Portugal. Da Formação ao 5 de Outubro de 1910, FLUC, Coimbra, 1991.
HOMEM, Amadeu Carvalho, Da Monarquia à República, Palimage, Viseu, 2001.
HOMEM, Amadeu Carvalho, A Propaganda Republicana (1870-1910), Coimbra, 1990.
LIMA, Sebastião de Magalhães, Episódios da Minha Vida. Memórias Documentadas, Livraria Universal, Lisboa, 1928.
OLIVEIRA, Lopes de, História da República Portuguesa. A Propaganda na Monarquia Constitucional, Inquérito, Lisboa, 1947.
RODRIGUES, Jacinto, Anos de Aprendizagem de Ladislau Batalha in
http://jacintorodrigues.blogspot.com/2007/05/anos-de-aprendizagem-de-ladislau.html
SILVA, Inocêncio Francisco da, Dicionário Bibliográfico Português, Imprensa Nacional, Lisboa, vários anos e volumes.
VENTURA, António, Anarquistas, Republicanos e Socialistas em Portugal. As convergências possíveis (1892-1910) , Edições Cosmos, Lisboa, 2000.

[Foto: Rua do Arsenal em finais do século XIX, onde se situava a Livraria Nova Internacional de Carrilho Videira, in Arquivo Fotográfico de Lisboa.]

A.A.B.M.

7 comentários:

Anónimo disse...

Tenho procurado informação acerca do Dr. Augusto Joaquim Alves dos Santos, o qual foi ao que julgo saber o pioneiro da psicologia em Portugal. Militou no partido Nacionalista de Cunha Leal. Foi escritor, pedagogo, Director da Biblioteca de Coimbra, Presidente da Câmara Municipal de Coimbra - a qual ainda não o reconheceu! - deputado, ministro do Trabalho, etc. Existem poucas imagens suas e pouca informação a seu respeito. Faleceu em 1924. Gostaría de saber mais a seu respeito, se tal for possível. Muito obrigado!

Anónimo disse...

Fazendo uma pesquisa rápida na internet, encontrei este trabalho[http://espacoseducativos.files.wordpress.com/2007/04/tesis.pdf], que se encontra online (Universidade de Salamanca) e que tem uma pequena nota biográfica que lhe pode interessar na pág. 158.
Também na obra coord. pelo falecido Prof. Oliveira Marques, "Parlamentares e Ministros da 1ª República (1910-1926)", Edições Afrontamento, Porto, 2000, p. 389 encontra uma pequena nota biográfica.
Ainda de Oliveira Marques, "Guia de História da Primeira República Portuguesa", Editorial Estampa, Lisboa, 1997, p.398-399 e 437.
Na obra de José Pinto Loureiro, "Bibliografia Coimbrã", Coimbra, 1964, p. 14-15, encontra mais elementos biobibliográficos sobre esta personalidade.
Não tenho na minha biblioteca pessoal, mas aconselho a consulta do "Dicionário de Educadores Portugueses", coord. António Nóvoa, porque costuma também trazer estudos que se realizaram sobre as personalidades biografadas.
Devo confessar que não conhecia a personalidade que menciona, mas vou estar atento, e, se surgir mais alguma referência interessante coloco-lha neste espaço.
Com amizade e grato pela atenção que nos dispensa
A.A.B.M.

Anónimo disse...

No magnífico Dicionário de Educadores Portugueses, direcção de António Nóvo, um longo verbete de José Marques Fernandes, a págs. 1250-1261.
Forte abraço para ambos
LBC

Anónimo disse...

Muito obrigado a todos pelas pistas que me deixaram!

Anónimo disse...

Novas achegas bibliográficas:
Encontrando-me hoje na biblioteca consultei o dito "Dicionário de Educadores Portugueses", que indica ainda outros trabalhos onde é possível encontrar elementos sobre este autor, de entre os quais me permito destacar os seguintes:
- Rogério Fernandes, A Pedagogia Portuguesa Contemporânea, Lisboa, 1979;
- Joaquim Ferreira Gomes, "As origens do Laboratório de Psicologia Experimental da Universidade de Coimbra" in Estudos Para a História da Universidade de Coimbra, Coimbra, 1991, p. 81-115;
- Manuel Viegas Abreu, "A Criação do primeiro Laboratório de Psicologia em Portugal: o Laboratório Experimental da Universidade de Coimbra", in Actas do Congresso Universidade, História, Memória e Perspectivas, Coimbra, vol. II, 1991, p. 107-132;
- José Marques Fernandes (autor do verbete no referido Dicionário) tem um tese de mestrado na Universidade do Minho intitulada: "Pedagogia Científica e Educação Nova no Contexto da I República: Costa Ferreira, Alves dos Santos e Faria de Vasconcelos", Braga, 1993 (penso que ainda não publicada, mas deve ser confirmado);
- Álvaro Garrido, "A Utopia pedagógica de Alves dos Santos (lente republicano: 1866-1924)" in Ensaios de Homenagem a Joaquim Ferreira Gomes, Coimbra, 1998, p. 333-345;
- Joaquim de Carvalho, "Dr. Alves dos Santos", Almanaque de Ponte de Lima, 1932.

Conhecem-se ainda textos da sua autoria nas seguintes publicações:
- Arauto Escolar, Aveiro, 1913;
- Boletim da Liga de Instrução de Viana do Castelo, Viana do Castelo, 1909-1911 (refere-se a existência de uma biografia de Alves dos Santos);
- A Escola, Coimbra, 1903-1906 (penso que ocupou as fnções de director ou de redactor principal desta revista cerca de 1905);
- A Junta Escolar, Ponte de Lima, 1921 (nº único ???);
- Aldeia Portuguesa, Coimbra, 1919 (nº único);
- A Boémia, Lisboa, 1923;
- A Galera, Coimbra, 1914-1915 [colabora nos nº 5 e 6];
- Gazeta Ilustrada, Coimbra, 1901.
Gratos também a LBC pelas suas achegas, são sempre válidos os seus contributos e a atenção que nos dispensa.
Com os melhores cumprimentos
A.A.B.M.

A. Gramacho disse...

Em meio a uma pesquisa sobre os primeiros anos da República no Brasil, encontri referências a Carrilho Videira como integrante da redação do jornal "União Federal" do Rio de Janeiro. Há exemplares desse períodico na Biblioteca Nacional do RJ (que ainda não tive oportunidade de consultar). Os exemplares alí disponíveis são do período junho a agosto de 1891.

Unknown disse...

Adoro esse cara