segunda-feira, 13 de agosto de 2007

TRINDADE COELHO (Parte I)



José Francisco Trindade Coelho nasceu em 18 de Junho de 1861, em Mogadouro. Seu pai, João Trindade,pequeno comerciante, tinha uma loja que ficava junto ao Convento de São Francisco.

José frequenta a escola régia de Mogadouro, em 1868, e prosseguiu no ano seguinte em Travanca, aldeia do mesmo concelho, a cerca de 15 km da sede, com o professor régio, em cuja casa se hospedou, juntamente com o irmão Abílio, também estudante. A morte da mãe, aos seis anos, entretanto ocorrida, obrigou ao regresso dos dois irmãos a Mogadouro, onde frequentam então as aulas de latim.
Em 1873, Trindade Coelho parte para o Porto prosseguindo os estudos, no Colégio São Carlos, que ficava na Rua Fernandes Tomás. Foi um estudante algo rebelde. No Porto viu pela primeira vez um artigo seu “Cepticismo” impresso num jornal, o que constituiu a sua iniciação na actividade jornalística, que exercerá intensamente pela vida fora. É também no Porto que escreve os primeiros trabalhos de índole propriamente literária: os contos “O Enjeitado”, e “Trovoada”.

Em 1880 encontramo-lo em Coimbra a estudar Direito. Mas logo nesse primeiro ano se entrega à sua paixão pelo jornalismo, colaborando em diversos jornais e inclusivamente fundando outros, e à boémia estudantil, de tal modo que não conseguiu passar de ano. Em Coimbra, começou a assinar trabalhos jornalísticos com o apelido do pai, Trindade. Este facto levou o pai a cortar-lhe a mesada no ano seguinte, pelo que teve de assegurar a sua subsistência com a pena. No 4º ano, já casado e com um filho, morre-lhe o pai, que era o único amparo de que dispunha. A vida corre com grandes dificuldades, que pouco se alteram quando, por influência directa de Camilo Castelo Branco, que intercede junto de Lopo Vaz de Sampaio e Melo, e é feito delegado do procurador régio no Sabugal. Conclui o curso em 1885.
De facto, a penúria de recursos acompanhá-lo-á até ao termo dos seus dias, constituindo uma causa de amargura que poderá ter tido também o seu peso no desfecho final.

De Sabugal passa a Portalegre, e daí a Ovar, acumulando experiência e conhecimento dos homens e, ao mesmo tempo, um sentimento de repulsa pelas injustiças e pelos golpes de baixa política que ia testemunhando e dos quais procurava manter-se afastado, por imperativo ético, já que procurou sempre ser um magistrado íntegro e apostado em repor a justiça onde ela não tivesse sido feita.
Tornou-se um jurista com alguma reputação e participou na elaboração do texto da Lei de 21 de Julho de 1899, que reprimia o anarquismo. Foi ainda responsável pela redacção do Regulamento do Ministério Público.
O próximo passo da sua carreira foi o lugar que ele próprio classifica de antipático de velar pelo cumprimento da chamada Lei das Rolhas, imposta à imprensa na sequência do Ultimato Inglês. Colocado em Lisboa desde 1889, passa por um tribunal fiscal; transita por África de forma breve, sendo depois transferido para Sintra; e finalmente, em Novembro de 1895, é colocado como delegado do procurador régio da 3ª Vara do 2º Distrito de Lisboa, cargo de que pede a demissão em 1907 [ou de que foi demitido ???], durante a ditadura de João Franco, voltando a sentir por esse facto grandes dificuldades económicas, que precipitaram a sua morte.

Apesar de ser “alegre como uma romaria e pequenino mas tesinho”, no dizer de Eugénio de Castro, Trindade Coelho era sujeito a ataques de neurastenia que o fragilizavam. A sua desilusão com a política e com a justiça, bem como o espectro da pobreza sua e dos seus (mulher e filho), amarguram-no. Foi na sequência de um desses momentos de desespero que se suicidou em Lisboa, em 9 de Agosto de 1908.

[a continuar]

A.A.B.M.

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