quarta-feira, 19 de setembro de 2007

A JUVENTUDE DE AQUILINO RIBEIRO - A CONSPIRAÇÃO (SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS)


Numa época em que as sociedades secretas ganhavam adeptos, a conspiração era uma das únicas formas para fazer face aos regimes existentes e para combater a situação política instalada. Aquilino enfileirou-se também nessa massa, ainda hoje praticamente desconhecida, dos elementos que compunham essas sociedades secretas.

A Maçonaria tem vindo gradualmente a divulgar alguns dos seus membros, até porque esses eram obrigados ao preenchimento de documentos que a organização se encarregava de guardar, mas no caso da Carbonária as informações são muito mais ténues, mais difusas e muitas delas mescladas de imprecisões. É, como muito bem afirmou já o Doutor António Ventura, "matéria vaga", porque vive muito de testemunhos pessoais transmitidos oralmente ou por memórias publicadas já tardiamente, como aconteceu por exemplo com Aquilino Ribeiro em Um Escritor Confessa-se. Ou ainda, memórias auto-justificativas, bem como testemunhos escritos que foram sendo deixados em algumas publicações que têm vindo a ser investigadas, textos memorialísticos em que muitas vezes as pessoas querem ver reconhecidos os seus actos para obter contrapartidas, ou, finalmente, textos (in)completos guardados por familiares que hoje estão provavelmente esquecidos em alguma gaveta, caixa ou armário à espera que alguém os traga à luz do dia.

As informações mais precisas e rigorosas que se conhecem publicadas sobre esta temática são as que se encontram no texto de Luz de Almeida, "A Obra revolucionária da propaganda.As Sociedades Secretas" incluído na História do Regime Republicano em Portugal, dirigido por Luís de Montalvor, vol. II, Lisboa, Ática, 1932-1935, p. 203-260.

Também António Maria da Silva publicou o seu volume de memórias intitulado O Meu Depoimento. Da Monarquia a 5 de Outubro de 1910, Lisboa, República, 1975 onde se encontram algumas referências úteis. Por seu lado, Rocha Martins, em alguns dos livros que publicou sobre este período fornece também informações preciosas, particularmente no caso de D. Manuel II (Memórias para a História do seu Reinado), 2 vols., Lisboa, Sociedade Editora José Bastos, s.d.. Por seu lado, Armando Ribeiro, História da Revolução Portuguesa. A queda da Monarquia, vol. III, Lisboa, João Romano Torres, s.d. adianta mais alguns detalhes.

Mais recentemente têm sido publicados novos estudos sobre estes assuntos. Entre eles permitam-nos destacar os estudos de João Medina, "A Carbonária Portuguesa e o derrube da Monarquia", História de Portugal, vol. X, A República, I, Ediclube, 1993, p. 11-27; José Brandão, O Exército Secreto da República, Lisboa, P&R, 1984; Fernando Catroga, O Republicanismo em Portugal. Da Formação ao 5 de Outubro de 1910, Coimbra, FLUC, 1991, vol. I; por fim, António Ventura que tem dedicado muito do seu esforço ao estudo desta temática, tendo publicado A Carbonária em Portugal, Lisboa, Biblioteca República e Resistência, 1999 e A Carbonária em Portugal. 1897-1910, Lisboa, Livros Horizonte, 2004.

Concretamente sobre o envolvimento de Aquilino Ribeiro no processo conspirativo veja-se, para além das suas obras de carácter mais memorialístico, entre outras:
- Luís Vidigal, O Jovem Aquilino Ribeiro, Lisboa, Livros Horizonte, 1984.
- Luís Vidigal, Imaginários Portugueses, Viseu, Edições do Centro de Estudos Aquilino Ribeiro, 1992.

Uma nota final, em nosso entender Aquilino será lembrado sobretudo como escritor, mais do que como conspirador. A sua ligação ao movimento conspirador terá sido uma realidade, mas nada existe que nos comprove o seu envolvimento directo na morte de D. Carlos. Além do mais, quantos dos que estão no Panteão Nacional, não foram também, no seu tempo, conspiradores, conduziram conspirações, lideraram revoltas ou aliaram-se a elas porque acreditavam em ideais que desejavam realizar de forma mais ou menos violenta.
Sempre me ensinaram que a História não serve para julgar ninguém, portanto não devemos acusar somente um de ter cometido actos ilícitos, porque senão nunca teríamos ninguém para homenagear, nunca haveria nem heróis pátrios, nem cívicos. Porque todos, quando vivemos o nosso tempo e nos envolvemos na sociedade a que pertencemos, realizamos actos ou manifestamos opiniões com as quais mais tarde não nos identificamos.

O devir histórico, o tempo que passa, mostra que muitas vezes aqueles que agora são criticos desta situação podem vir a compreende-la melhor tempos mais tarde.

[Na foto, o Café Restaurante Montanha, onde os conspiradores republicanos muitas vezes se reuniam para traçar os seus planos, provavelmente Aquilino também por lá passou. In Arquivo Fotográfico de Lisboa]

A.A.B.M.

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