quarta-feira, 17 de outubro de 2007

HELIODORO SALGADO (Parte II)



Segundo Mayer Garção, Heliodoro Salgado "não será totalmente um esquecido", mas reconhece que ele ocupou “um lugar imerecidamente secundário no seu partido” [Mayer Garção, Os Esquecidos, Empresa Editora e de Publicidade A Peninsular, Lisboa, 1924, p. 25 a 31]. Esta situação não ocorreu, no entanto, por ocasião do seu funeral, que acabou por se tornar em mais uma manifestação de carácter político, aproveitada pelos republicanos para difundir as suas ideias.

Foi, como considerou Fernando Catroga, uma “apoteose”. Ao seu funeral, segundo as estimativas da época acorreram cerca de 40 000 pessoas, mas assistiram ao acontecimento e ao desfile cívico em sua homenagem talvez perto de 100 000 pessoas. Considerava-se portanto, uma das mais importantes cerimónias fúnebres que alguma vez tinham acontecido em Lisboa. O facto do seu funeral se ter realizado civilmente e de ter existido a suspeita de que Heliodoro Salgado teria sido envenenado, foi o suficiente para atrair uma multidão de curiosos e de defensores das suas ideias. O seu funeral apresentou uma coreografia que reproduzia, como considera Fernando Catroga, a dos cortejos cívicos e emitia um simbolismo criador de momentos de solidariedade e de comunhão entre as várias correntes e sensibilidades que coexistiam no seio do movimento republicano e anticlerical[Fernando Catroga, O Céu da Memória. Cemitério Romântico e Culto Cívico dos Mortos, col. Minerva História, Editorial Minerva, Coimbra, 1999, p. 162-164].

Nessa ocasião discursaram à beira túmulo diversas personalidades que interpretaram, em certa medida, uma aliança entre o anticlericalismo, o socialismo, o anarquismo, a Maçonaria e os republicanos mais radicais. Assim, foram oradores nessa ocasião: António José de Almeida, Sebastião de Magalhães Lima, Feio Terenas, Sá Pereira, Bartolomeu Constantino, Augusto José Vieira e França Borges. No fundo, era uma tentativa de compreender o percurso de vida e de pensamento ideológico desenvolvido por Heliodoro Salgado, dando-lhe o papel de exemplo a seguir por outros que como ele defendiam a libertação do povo da tutela da realeza, da igreja e do grande capital [Fernando Catroga, ob. cit., p. 164].

Para conhecer melhor a figura de Heliodoro Salgado sugerimos a leitura que se encontra aqui, consultar este local, prestar atenção ao que é referido neste sítio, aqui ou finalmente este texto.

Nos próximos posts tentaremos dar a conhecer, dentro das nossas possibilidades, a produção intelectual deste republicano, os livros, os opúsculos e as traduções, bem como imensa quantidade de periódicos onde encontramos colaborações suas.

[Na foto acima - Bartolomeu Constantino, operário anarquista que discursou no funeral de Heliodoro Salgado.]

[em continuação]

A.A.B.M

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