terça-feira, 29 de janeiro de 2008

CARTA D'EL REI D. CARLOS I


Carta D'El Rei D. Carlos I

"9-5-907

Meu querido João

Depois da nossa conversa tive varias outras noticias de differentes origens que todas confirmam a maneira de vêr e de proceder em que hontem ficamos de accordo. Vamos por certo ter uma campanha sobretudo contra nós dois, mas para isso é que cá estamos. Campanha baseada na minha carta ao Hintze, e nas tuas antecedentes affirmações.
Mas a minha carta ao Hintze não condemna em absoluto as dictaduras. Dizia que n'aquelle momento as não achava convenientes, o que não queria dizer que n'outros, e este é um d'elles, eu não as acceite e, o que é mais, até as ache convenientes e necessarias. E ainda que eu tivesse declarado absolutamente o contrario, diria que não é homem de Estado, nem sabe servir o seu Paiz aquelle que julgando ter affirmado um erro, se não penitenceie d'elle e não esteja prompto, reconhecendo-o, a seguir caminho diverso que julgue mais opportuno e conveniente.
Quanto ás tuas affirmacões … provaste á saciedade que as quizeste seguir; deste uma sessão parlamentar, nunca vista, mas chegaste ao fim, como chegaram todos aquelles que estão de sangue frio e não levados por mesquinhas considerações pessoaes ou partidarias, convencido que não era d'alli que poderia vir o restabelecimento da disciplina social, nem o renascimento do nosso Paiz. N'este sentimento acompanha-te, acompanha-nos, por certo grande parte do Paiz; deixemos, pois, fallar quem falla e continuemos serenamente, com calma, mas com firmeza a nossa obra. N'este caminho encontrarás tu e os teus collegas todo o meu appoio o mais rasgado e o mais franco, porque considero que só assim, dadas as circumstancias em que nos encontramos, poderemos fazer alguma cousa boa e util para o nosso Paiz. Desculpa esta massada, mas tive receio que da nossa conversa d'hontem te tivesse ficado alguma duvida sobre a minha maneira de pensar.
Sempre teu amigo obrigado

Carlos R.
"

[in, Cartas D'El Rei D. Carlos I a João Franco Castello-Branco seu ultimo Presidente do Conselho, Livrarias Aillaud e Bertrand, 1924, 5ª ed., p.119-120]

J.M.M.

Sem comentários: