terça-feira, 22 de janeiro de 2008
DO 28 DE JANEIRO DE 1908 AO REGICÍDIO DE D. CARLOS
No longo processo que conduz à implantação da República, não podemos deixar de assinalar, o conjunto de factos que aconteciam neste nosso recanto, há um século atrás. Para que não fique dúvidas, assinalamos, não comemoramos. Já que não concordamos com os métodos violentos para alcançar o poder, mas reconhecemos a sua existência e não a podemos omitir. Por outro lado, porque a morte de alguém para conquistar o poder mostrava ainda as dificuldades por que passava o Partido Republicano para se afirmar, mesmo num momento em que os partidos monárquicos se degladiavam entre si, surgindo dissidências que eram muito críticas em relação ao poder estabelecido. D. Carlos acaba por viver tragicamente uma época, onde as ideias políticas eram aproveitadas, tal como ainda hoje, para destruir personalidades e para denegrir com boatos, provocar erros e lançar descrédito.
Na sua chegada ao poder em Outubro de 1889, D. Carlos enfrenta de imediato os graves problemas suscitados pela Inglaterra na região africana (consequência da Conferência de Berlim), que vão culminar de forma pouco edificante no Ultimato Inglês e no tratado secreto com a Grã-Bretanha, onde se procede á entrega dos territórios entre Angola e Moçambique, no convénio de 20 de Agosto de 1890. Segundo afirmou César da Silva, "se o Ultimatum fora um ultraje, o tal projecto de tratado (...) representava coisa muito pior" [César da Silva, A Derrocada de um Trono. Crónica dos Últimos Reinados em Portugal (1889 -1910), João Romano Torres Editores, Lisboa, 1922, p. 57].
A situação política e económica em Portugal torna-se gradualmente mais complexa e tensa. Por um lado, eclode no Porto a revolta republicana de 31 de Janeiro que leva muitos republicanos implicados a viver no exílio ou a serem degredados para as colónias portuguesas. Muitos destes homens que se viram forçados a partir acabaram por nunca perdoar a atitude persecutória da Monarquia simplesmente porque tinham ideias políticas diferentes. Além disso, a situação económica agrava-se muito nesse período, entrando o país em falência. Procede-se à desvalorização da moeda, regista-se o aumento do desemprego e estabelece-se a pauta proteccionista a partir de 1892.
Nos últimos anos do seu reinado, D. Carlos confronta-se com sucessivos escândalos que são aproveitados pela imprensa republicana da época, particularmente O Mundo e A Luta, para incutir os princípios republicanos de governação. A reorganização que o Partido Republicano inicia em 1903, começa a conquistar visibilidade pública e a conquistar eleitores em 1906 com a eleição de quatro deputados republicanos: Afonso Costa, António José de Almeida, Alexandre Braga e João de Meneses.
A entrega do Governo a João Franco, para iniciar uma ditadura, assume também uma importância preponderante, porque as medidas legislativas contra a imprensa para tentar abafar os escândalos como: os sanatórios da Madeira, os monopólios dos fósforos, do tabaco e o problema dos adiantamentos à Casa Real, só contribuíram para fomentar a conspiração e desencadear tentativas de golpe de Estado.
Os republicanos com uma campanha cada vez mais organizada, devido à sua imprensa espalhada por todo o País; bons oradores nos comícios públicos; concertando acções com as sociedades secretas como a Carbonária e a Maçonaria; desenvolvendo um conjunto de iniciativas contra a ditadura de João Franco; e, desmontando e criticando todos os argumentos, por mais inteligentes e inatacáveis que pudessem ser, para os transformar em armas de arremesso contra a Monarquia que era representada naquela época pela personalidade de D. Carlos. Estes factos acabaram por conduzir à tentativa fracassada de 28 de Janeiro de 1908.
Nessa data estava prevista iniciar-se a revolta republicana, mas a polícia tomou conhecimento dos factos e procedeu de imediato a um conjunto de detenções. Em 21 de Janeiro foram detidos: João Chagas, Alfredo Leal, Vítor de Sousa e, dias mais tarde, o Visconde da Ribeira Brava, João Pinto dos Santos, o Dr. Egas Moniz, [em cima, da esquerda para a direita, na foto] que eram dissidentes da Monarquia e dos líderes republicanos Afonso Costa, António José de Almeida e Álvaro Pope que foram presos no Elevador da Biblioteca, de onde deveria partir o sinal para iniciar a revolta. Foram ainda detidos vários populares e houve mesmo tiroteio entre a polícia e alguns grupos suspeitos de que resultaram um morto e vários feridos.
No entanto, a conspiração continuava a avançar nos meandros das sociedades secretas. Os acontecimentos tornam-se ainda mais complexos quando João Franco propõe um decreto que visava a deportação dos anarquistas e republicanos envolvidos em actividades revolucionárias, assinado pelo rei em 31 de Janeiro de 1908, em Vila Viçosa. No dia seguinte, no regresso a Lisboa, desenrolam-se os acontecimentos que ficaram conhecidos como o Regicídio.
Nos próximos dias, o Almanaque Republicano propõe-se recordar alguns títulos, acontecimentos, imagens e biografias dos intervenientes nesta época.
A.A.B.M.
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