sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
REGICÍDIO - OS DISSIDENTES (I): JOSÉ MARIA DE ALPOIM
A personalidade polémica de José Maria de Alpoim Borges Cerqueira Cabral, surge muitas vezes indicado como um dos indiciados na conspiração que culminou no Regicídio de 1 de Fevereiro de 1908.
José Maria d'Alpoim, como muitas vezes aparece designado na época, nasceu no Solar da Rede, Mesão Frio, em 2 de Junho de 1858 e faleceu em Lisboa em 12 de Dezembro de 1916. Descendia de uma família da nobreza provincial, sendo filho de Francisco Alpoim Borges Cerqueira Cabral e de Amância Dulce Samora de Quevedo e Alpoim.
Realizou os seus estudos liceais no Porto onde foi colega de Sampaio Bruno, seguindo para Coimbra onde se bacharelou, como era vulgar na época, em Direito em 1879. Ingressou de imediato no Partido Progressista, sendo indicado para administrador do concelho de Mesão Frio (1879-1880) e mais tarde de Lamego (1880-1881). A partir de meados da década de oitenta fixa residência em Lisboa e obtem a sua colocação como primeiro oficial da Direcção Geral das Contribuições Directas do Ministério da Fazenda, transitando depois para o lugar de ajudante do procurador-geral da Coroa e Fazenda, desempenhando ainda a função de administrador da Companhia de Moçâmedes. Desempenhou por três vezes o cargo de Ministro da Justiça (1889, 1904 e 1905), acompanhando sempre José Luciano de Castro de quem era grande amigo e companheiro político.
Reconhecem-se-lhe as qualidades de lutador e grande tribunício, sendo por isso apontado como o "delfim" de José Luciano de Castro. Eleito deputado pela primeira vez em 1887, pelo círculo uninominal de Lamego, consegue mais nove mandatos como deputado pelos círculos de Lamego, Valpaços, por acumulação de votos a nível nacional, por Penafiel, por Anadia e pelo círculo plurinominal de Aveiro. Em 1905 é eleito Par do Reino e, nessa mesma época afasta-se de José Luciano de Castro e do Partido Progressista.
A sua ruptura com José Luciano deve-se à realização de uma remodelação governamental operada pelo Governo dirigido por este, em que José Maria de Alpoim ambicionva ocupar a pasta do Reino, mas foi preterido e afastou-se em colisão com o seu chefe político e funda a Dissidência Progressista, que ocupava a extrema esquerda da Monarquia. Faziam parte deste grupo nomes como António Centeno e João Pinto dos Santos, entre outros. O crescente radicalismo desta facção política facilitou os contactos com os elementos ligados ao Partido Republicano que conspiravam para derrubar a Monarquia. Envolve-se então na intentona de 28 de Janeiro que o conduziu ao exílio em Espanha. Porém, o regicídio acaba por facilitar o seu regresso imediato ao País, aproveitando a amnistia concedida pelo governo do almirante Ferreira do Amaral.
Alpoim procura ainda estabelecer uma aliança, ainda que provisória, com Júlio de Vilhena em 1909, mas a coligação rapidamente se desfez. Em Janeiro de 1910, numa conferência pública Alpoim estabelece uma espécie de programa político da Dissidência Progressista. Com a implantação da República afasta-se da vida política, mantem-se como ajudante do Procurador Geral da República e só regressa em nas vésperas da 1ª Guerra Mundial para tomar publicamente posição contra a participação de Portugal na guerra.
Conhecem-se colaborações suas em inúmeras publicações periódicas, em particular aquelas que estavam mais próximas do Partido Progressista, mas também jornais e revistas de diversa índole. Assim, começa a colaborar como correspondente político, em Lisboa, do Primeiro de Janeiro (Porto), mais tarde assumiu a direcção de O Dia (1904-1910), passou pelo Correio Português, Correio da Noite, Novidades, pelo O Repórter e colaborando com a revista Perfis Contemporâneos.
Bibliografia Consultada:
- Almeida, Pedro Tavares; Jerónimo, Miguel Bandeira, "Cabral, José Maria Alpoim de Cerqueira Borges", Dicionário Biográfico Parlamentar 1834-1910, vol. I (A - C), Maria Filomena Mónica (Coord.), col. Parlamento, Imprensa de Ciências Sociais/Assembleia da República, Lisboa, 2004, p. 508-512.
- Cabral, António, Os Culpados da Queda da Monarquia, Livraria Popular Francisco Franco, Lisboa, 1946.
- Lemos, Mário Matos e, Jornais Diários Portugueses do Século XX. Um Dicionário, Ariadne/CEIS 20, Coimbra, 2006.
- Moreira, Fernando (org.), José Luciano de Castro. Correspondência Política (1858-1911), ICS/Quetzal Editores, 1998.
- Pires, Daniel, Dicionário da Imprensa Periódica Literária Portuguesa do século XX (1900-1940), Grifo, Lisboa, 1996.
[Foto retirada de Arquivo Fotográfico de Lisboa, com a devida vénia.]
A.A.B.M.
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