sábado, 23 de fevereiro de 2008

REGICÍDIO - OS DISSIDENTES (II): VISCONDE DA RIBEIRA BRAVA



Em 2 de Abril de 1852, nasceu no Funchal, na então freguesia da Ribeira Brava, Francisco Correia de Herédia que tomará o título supra referido a partir do Decreto de 4 de Maio de 1871. Era filho de António Correia de Herédia e de Ana de Betencourt Herédia.

Estudou no Liceu do Funchal, seguindo posteriormente para Lisboa, onde se matriculou no Curso Superior de Letras, em 1877. Em 1882, foi nomeado para integrar a Comissão Central Antifiloxérica do Sul do Reino, onde participou nos trabalhos ali desenvolvidos durante vários anos.

Na década de noventa do século XIX, inicia um periódo de viagens por várias partes do mundo. Conhece e trabalha na Argentina e Paris. Em 1895 participa no primeiro Congresso Vinícola, representando o Sindicato Agrícola da Madeira.

Em termos políticos adere inicialmente ao Partido Regenerador e desempenha funções como governador civil de Bragança (18 de Dezembro de 1884 a 12 de Março de 1885) e de Beja (12 de Março de 1885 a 19 de Fevereiro de 1886). Afastando-se do Partido Regenerador adere ao Partido Progressista que permite desempenhar outras funções públicas como governador civil, novamente em Beja (1897-1898). Presidiu também a algumas câmaras municipais.

Foi eleito deputado em diversas legislaturas desde 1878. Interrompeu durante algum tempo (1885-1896)a sua participação na Câmara dos Deputados. Regressou em 1897, eleito pelo círculo da Ponta do Sol, no Partido Progressista; em 1900 foi eleito pelo círculo de Ferreira do Alentejo e, finalmente, em 1905-1906, foi eleito pelo círculo de Faro. Da sua actividade como deputado salientam-se as suas presenças como elemento integrante das Comissões de Administração Pública, perticipando ainda na Comssão responsável pela reforma eleitoral de 1883. Foi autor de vários projectos de lei ao longo do tempo, mostrando preocupação com a defesa da sua terra natal e na defesa dos problemas dos proprietários de terras. Com o decorrer dos anos vai ganhando algum distanciamento em relação às estruturas partidárias e estabelece aproximações pontuais com algumas figuras mais independentes.

Em 1905 acompanha José Maria de Alpoim na cisão com o Partido Progressista e, com outros parlamentares, fundam a Dissidência Progressista. Inicia aí um processo de aproximação ao Partido Republicano e, em 1907, juntamente com João Chagas, inicia um processo conspirativo que visava despoletar a revolução contra a monarquia. Conseguem a adesão de alguns militares da armada e conseguem angariar fundos para adquirir meterial para o fabrico de bombas. Na sua residência realizam-se as reuniões conspirativas e ali se decide marcar a data de 28 de Janeiro para iniciar a revolta. Descoberta a tentativa revolucionária, o Visconde de Ribeira Brava é detido e libertado dias depois do Regicídio (6 de Fevereiro de 1908). A partir daí envolve-se profundamente na conspiração para derrubar a Monarquia.

Após a implantação da República filiou-se no Partido Republicano Português, tornando-se um dos amigos próximos de Afonso Costa. Voltou a ser eleito deputado pela Madeira entre 1911 e 1917. Presidiu à Junta Agrícola da Madeira e pertenceu à Junta Geral do Distrito do Funchal, da Junta Autónoma das Obras do Porto do Funchal, da direcção da Santa Casa de Misericórdia do Funchal e foi governador-civil de Lisboa entre 1914-1915.

Foi preso durante o sidonismo e acabou assassinado em Lisboa, na denominada "Leva da Morte" em 16 de Outubro de 1918, quando era conduzido com outros detidos para o Governo Civil de Lisboa, onde seria encarcerado.

[Foto: Visconde da Ribeira Brava discursando num comício republicano in Arquivo Fotográfico]

A.A.B.M.

4 comentários:

Anónimo disse...

Que se passou exactamente?
Veja-se, em primeiro lugar, o relato jornalístico do incidente, tal como o apresentou o matutino lisboeta Diário de Notícias, na sua edição de 17 de Outubro de 1918:

UMA LEVA DE PRESOS POLÍTICOS
PARA A ESTAÇÃO DO CAIS DO SODRÉ ORIGINA CORRERIAS, TIROTEIO.
FERIDOS E MORTOS

Ontem à noite, pelas 21 horas, fomos informados de que, para os lados do Corpo Santo, houvera forte tiroteio, na ocasião em que uma leva de 150 presos ia a caminho do Cais do Sodré, para tomar um comboio especial que devia conduzi-la à Torre de São Julião da Barra, comboio que esteve para se organizar de dia, mas que, por várias circunstâncias, não se fez. Efectivamente, àquela hora, saíam do Governo Civil 150 presos dos últimos acontecimentos, metidos numa força de 250 polícias, com um terno de cornetas e tambores à frente, tocando, marchando a escolta num passo um pouco acelerado, o que atraiu muitos curiosos.
Quando a força chegou ao encruzamento das Ruas Victor Cordon. Serpa Pinto, Ferregial de Baixo e calçada do mesmo nome, diz uma das versões que os presos iam soltando «vivas» e que nessa ocasião um grupo fez fogo sobre a escolta.
Outra informação diz-nos que quando a força chegava em frente da Rua Victor Cordon, o Sr. Visconde da Ribeira Brava puxou de uma pistola e disparou um tiro para a força, enquanto o preso que ia ao lado dele tirava da algibeira um punhal, e imediatamente se ouviu a detonação de uma bomba.
O que é certo é que houve em seguida um pânico indescritível, fugindo alguns presos seguidos pela polícia e que do Chiado até às imediações de S. Paulo se desenvolveu um forte tiroteio.

(…)

Os mortos foram: Visconde da Ribeira Brava, o ex-agente Armindo de Moura. António Ferreira, de Braço de Prata, o cívico 1564, da 16 ª Esquadra.
Na calçada, junto à valeta da esquina da Rua Vítor Córdon, jazia o cadáver do visconde da Ribeira Brava. Tinha a barba horrivelmente ensopada em sangue. Apresentava a laringe cortada, decerto por um golpe de baioneta.
Mais tarde, a autópsia que a família requerera judicialmente revelará ferimentos causados por cinco balas, uma das quais «tão à queima-roupa que lhe fendeu o frontal».

Anónimo disse...

AINDA O INCIDENTE DA RUA SERPA PINTO

Eram 3 horas da tarde quando a tragédia começou a delinear-se. Nos calabouços do Governo Civil de Lisboa já não cabia mais gente. Os prisioneiros quase asfixiavam, amontoados aos cinquenta onde mal se ajeitariam vinte.
As autoridades decidem transferir grande parte deles para as celas dos fortes do Campo Entrincheirado, designadamente para a torre de S. Julião da Barra, Alto do Duque e Caxias.
O embarque no comboio especial que, inicialmente, deveria sair do Cais do Sodré por volta das 18 horas, é adiado para as 21 horas, por motivo de a companhia que explorava a linha de Cascais só poder dispor do comboio especial a essa hora.
Ao princípio da noite começa a chamada dos presos que irão ser transferidos. Um a um, vão-se acumulando no vasto pátio central do Governo Civil, cercado por guardas de espingarda em descanso.
Aos ouvidos dos presos já tinham chegado rumores de violências e sinistras maquinações.
Enquadrados por 270 guardas armados e equipados para a escolta, os 153 prisioneiros partem, à voz de comando dos chefes Alves Dias e César Couto.
Estranhamente, o cortejo é aberto por um grupo de corneteiros e tambores que vão marcando a localização da cabeça da formatura dos prisioneiros. Nela se destaca, na primeira linha, o vulto hercúleo do visconde da Ribeira Brava, sexagenário na idade mas ainda forte e destemido na audácia combativa.

EM CONCLUSÃO
O visconde da Ribeira Brava foi morto em Lisboa, a 16 de Outubro de 1918, na ocasião em que era conduzido, com outros prisioneiros políticos, do Governo Civil para uma fortaleza, em Caxias, onde devia ficar detido.

Anónimo disse...

Caro José Brandão
Os nossos agradecimentos pelo contributo que trouxe ao Almanaque Republicano. A descrição do acontecimento, na imprensa da época, é sempre importante para se confirmar dados e para se retirarem outras conclusões.
Volte sempre e, se o desejar,com mais contributos, pois serão bem recebidos.
A.A.B.M.

Anónimo disse...

Ouvi algures que quando da "leva dos presos", já quase ao chegarem ao largo do Corpo Santo, uma mulher se teria acercado do D. Francisco de Herédia entregando-lhe um pão e que dentro desse pão estava uma pistola. Isso não terá escapado à numerosa escolta que abriu fogo e o matou. Tambem disse a minha fonte que os presos iriam embarcar para Angra do Heroismo onde ao tempo existiria um presídio Sempre lhe digo que a minha fonte era pessoa bastante idosa.

Cumprimentos