segunda-feira, 14 de abril de 2008

DAS TRINCHEIRAS COM SAUDADE



Foi recentemente publicado por Isabel Pestana Marques mais um estudo sobre a participação de Portugal na 1ª Guerra Mundial, abordando-se desta vez a questão numa perspectiva de História da Vida Quotidiana.

Os testemunhos deixados pelos militares que participaram nos confrontos, seja na Europa ou em África, juntamente com um conjunto de documentação existente nos Arquivos e fornecida por particulares, permitiram tentar reconstituir as dificuldades, os medos, as diversões e os sentimentos partilhados por alguns dos intervenientes. Um dos principais núcleos documentais tratados é as cartas enviadas pelos soldados. A autora reconhece que se esforça por "dar voz aos combatentes, mostrar o lado humano da guerra, que é aquele que verdadeiramente a decide".

Uma obra inovadora da chancela da Esfera dos Livros que tem dedicado algum do seu espaço editorial à História, nesta caso concreto à História da participação de Portugal na Guerra.

Informação retirada da editora:

«De noite é que é o inferno. […] os telefones retinem, os estafetas põem-se a andar e o S.O.S. sobe ao céu, no vinco luminoso dos very-lights […] até que se apagam e o mundo é apenas escuridão. […] Ouve-se o crac-crac das metralhadoras que o boche despeja e que nós despejamos. E transida, bafejando as mãos, sem sono, a gente escuta o ecos e o nosso coração doente como um velho relógio tonto oscilando entre a saudade dos que estão longe e a ideia de morrer ali, armado e equipado, sonolento e triste, com um cão sem forças.»

Albino Forjaz Sampaio, oficial português na Flandres.


A partir de Janeiro de 1917, o cais de Alcântara assiste aos sucessivos embarques de tropas portuguesas rumo à Flandres. Em França reúnem – -se aos aliados ingleses para combaterem, na I Guerra Mundial, contra o inimigo comum: a Alemanha. A 2 de Abril de 1917, a coberto da bruma da madrugada, entraram nas trincheiras os primeiros soldados portugueses que iriam participar na campanha da I Guerra Mundial, num total de 55 mil expedicionários. Na Flandres, em França, encontraram um novo tipo de guerra. Enfrentaram o frio, a lama pegajosa, o barulho ensurdecedor dos bombardeamentos, habituaram-se ao «corned beef» que os fazia suspirar pelo bacalhau e o pão escuro nacional, adoeceram, sentiram medo, desolação e cansaço. Na frente de batalha, combateram ao lado dos ingleses, com coragem e heroísmo, outros desertaram ou foram aprisionados pelos alemães, e nos momentos de descanso aproveitavam para fugir ao terror dos ataques, jogando às damas, cantando, escrevendo cartas aos familiares ou namorando com francesas, belgas e inglesas, mesmo sem saber uma palavra do seu idioma.

A autora:

Isabel Pestana Marques é Mestre em História Contemporânea na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Investigadora de História Contemporânea, colabora no Instituto de História Contemporânea e da Comissão Portuguesa de História Militar. Publica artigos em revistas especializadas e participa em colóquios e congressos nacionais e internacionais. Publicou Memórias do General – Os Meus Três Comandos, de Fernando Tamagnini, abordou a participação portuguesa na I Guerra Mundial (1914-1918), assim como as revoltas monárquicas durante a Primeira República. Colaborou ainda na obra Nova História Militar de Portugal, coordenada por Nuno Severiano Teixeira (actual Ministro da Defesa).Encontra-se a ultimar o seu próximo trabalho - sobre o diário de guerra do general Tamagnini de Abreu -, que aguardamos com alguma expectativa. A autora foi galardoada com o prémio Defesa Nacional, em 1996, com a tese de mestrado "Os Portugueses nas Trincheiras - Um quotidiano de Guerra".

Mais uma novidade ao nível historiográfico que o Almanaque Republicano recomenda aos seus leitores.

A.A.B.M.

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