quinta-feira, 24 de abril de 2008

IN MEMORIAM DE FRANCISCO MARTINS RODRIGUES (1927-2008) - II PARTE


In Memoriam de Francisco Martins Rodrigues (1927-2008)-II Parte

A fuga de destacados elementos do PCP toma lugar de mito, na luta contra o regime salazarista [sobre a fuga de Peniche, ver Álvaro Cunhal. Uma Biografia Política, de José Pacheco Pereira, Temas e Debates, 2005]. Francisco Martins Rodrigues, de novo em liberdade, é colocado em nova tipografia clandestina do partido [em Carnide, Lisboa], onde fica um ano. Em Maio de 1961, FMR sobe ao comité local de Lisboa [cf. Carlos Morais, ob.cit.], torna-se membro suplente do Comité Central e, depois, faz parte [1962] da sua Comissão Executiva [com Blanqui Teixeira, na altura membro do Secretariado no interior, mais Alexandre Castanheira], perante à prisão de uma série de elementos do partido. A vaga de prisões de militantes comunistas foi grande, no final de 1961 [foram presos Joaquim Pires Jorge, Octávio Pato, Américo de Sousa, Carlos Costa, Júlio Martins], o que levou a que o trabalho desses três membros da Comissão Executiva do Comité Central tivesse de envolver todo o país. Compete a FMR reunir com o comité regional da margem sul e com um outro dos arredores de Lisboa.

Com o começo da guerra colonial, foi-lhe pedido para "escrever um manifesto em nome do Comité Central" [ib.ibidem], mas o escrito não sai da tipografia, tendo sido retirado. FMR diz-nos que consideraram o seu manifesto "muito vermelhusco", fora do "espírito do partido" ou, segundo o próprio, muito ou demasiado "leninista", dado aí assumir-se a insurreição popular, em ligação com a luta colonial. Outro manifesto, em sua substituição, foi feito por Álvaro Cunhal. Os debates sobre a "linha do partido" são solicitados [a questão sobre a estratégia sobre a guerra colonial, ou a posição sobre as críticas feitas pelo comunistas chineses à URSS], porém face às medidas conspirativas existentes nem todos os membros do Comité Central se podiam reunir, o que limitava bastante a "discussão". Nessas reuniões, FMR levanta várias questões sobre a linha política tomada, escreve várias cartas à direcção, sem que tudo isso obtivesse alguma resposta. Na audição da rádio Pequim, vai assistindo, entretanto, às críticas feitas à linha do PCF [de Thorez], do PCI e as divergências da linha chinesa face ao Titismo.

No Verão de 1963 vai a Moscovo para uma reunião do Comité Central do exterior, para levar e apresentar um relatório [cujo autor foi Blanqui Teixeira] do secretariado do partido do interior, relatório esse que curiosamente "discordava", e para debater as suas "incompreensões" perante a linha do partido. Encontra-se com Álvaro Cunhal e Francisco Miguel, mas as divergências mantêm-se ao fim de três dias de debate [ver sobre este assunto José Pacheco Pereira, in Público, 24 de Abril de 2008]. A decisão que sai da reunião estabelece que FMR ficaria como membro do CC no exterior, deixando a Comissão Executiva. E, para acautelar possível actividade cisionista, propuseram a FMR ser secretário de Álvaro Cunhal. Cunhal diz na altura:"O camarada está a dizer que eu sou um oportunista, agora não fico à vontade a trabalhar com ele" [cf. Carlos Morais].

Em Outubro de 1963 vai para Paris, para integrar uma organização do partido. Em reuniões assiste a debates vivos criticando a linha seguida pelo partido contra a guerra colonial, a presumida "passagem pacífica ao socialismo" ou a crítica feita à revolução democrática e nacional, bandeiras do PCP. Sabe, entretanto, que João Pulido Valente e Rui d'Espiney, então na Argélia e em dissidência com o partido, pelo que trocam impressões. De seguida, abandona o PCP e funda, com mais pessoas [20, diz FMR], em Janeiro de 1964 a FAP [Frente de Acção Popular]. Questões de estratégia em torno do aparecimento da FAP e as criticas levantadas sobre o facto de existir a frente popular sem a direcção política do partido, leva à fundação do CMLP [Comité Marxista Leninista Português], onde se procurava "reconstruir" ou "refundar" o PCP, enquanto vanguarda da frente popular de massas contra o fascismo. O CMLP editou [1964-65] o jornal Revolução Popular.

[a continuar]

J.M.M.

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