domingo, 25 de maio de 2008
IN MEMORIAM DE FRANCISCO MARTINS RODRIGUES (1927-2008) - III PARTE
In Memoriam de Francisco Martins Rodrigues – III Parte
Foi referido [ver II parte] que em Janeiro de 1964, em consequência da ruptura desenvolvida ao longo de 1963-64 no PCP, foi criado por Francisco Martins Rodrigues [FMR] e outros companheiros [entre os quais, como já foi dito, João Pulido Valente, Rui d’Espiney] a FAP [Frente de Acção Popular], que publicou o órgão "Acção Popular". O objectivo principal da FAP era "a união dos antifascistas e o desencadear da luta armada" [cf. Martins, João Paulo e Loureiro, Rui, "A extrema-esquerda em Portugal (1960-74)", revista História, nº7, Março de 1980, p. 10], em consonância com a etapa da revolução preconizada pelos seus militantes: a "revolução democrática e popular".
[ver sobre este assunto, "Luta pacifica e luta armada no nosso movimento", documento de Campos (aliás FMR, ainda militante do PCP) em Dezembro de 1963; "Revolução Popular. Edição completa 1964-65 (fac-simile)", do Comité Marxista Leninista Português, Edições Voz do Povo, 1975; ou "A ruptura Política e Ideológica no Movimento Comunista em Portugal (1963-1964)" e, ainda, o "Comité Marxista-Leninista Português. Breve História de uma Organização Política (1964-1975)", ambos de Helder Manuel Bento Correia, Portimão, 1999 e 2000, respectivamente; ou consultar a "Foice e Martelo", órgão teórico da OCMLP, nº1, Fevereiro de 1975]
A questão da "etapa" da revolução é fundamental no seio dos agrupamentos "maoistas", em oposição à tese da "revolução democrática e nacional" apresentada pelo PCP [em 1954]. E, cremos, na linguagem marxista, esta não é, certamente, uma questão despicienda, bem pelo contrário. Basta atender, como exemplo, às várias divisões programáticas em torno dessa questão eminentemente "teórica" entre as diversas organizações e grupos marxistas-leninistas [grupos que, em próximos posts, pretendemos sumariamente apresentar] - ou, mesmo, entre esses e outros grupos radicais - o que conduziu a divergências assinaláveis e insanáveis entre os vários e putativos candidatos à "vanguarda do proletariado".
Ligados à FAP surgem os GAPs [Grupos de Acção Popular] que em Novembro de 1965 "actuam [...] contra as instalações da Polícia" em plena campanha eleitoral [cf. Martins & Loureiro, ibidem]. Porém, como anteriormente foi assinalado, a necessidade de "reconstrução do partido" e a condução da "luta armada" pela Frente Popular, conduziram ao aparecimento do CMLP [Comité Marxista-Leninista Português] em Abril de 1964 [publicou o seu órgão teórico "Revolução Popular", entre 1964 (nº1, Outubro) e 1965 (nº6, Dezembro)].
FMR visita a China [Verão de 1964] e a Albânia, para contactos com os respectivos partidos comunistas. Entretanto, os contactos feitos com elementos do PCP na emigração acabam por falhar. Ora, para estabelecer as bases da organização [CMLP] no interior, João Pulido Valente e Manuel [Claro] partem para Portugal. São denunciados como elementos "provocadores" no jornal Avante [nº347, Dezembro de 1964, p.3]. Em Junho de 1965, via clandestina, tentam de novo fazer contactos em Portugal [fundamentalmente na região de Lisboa, entre alguns estudantes que tinham "aderido" à FAP], partindo [entraram por uma fronteira perto de Castelo Branco] FMR, Pulido Valente e Rui d’Espiney, para formar a direcção da organização do “"interior”".
[No exterior ficavam os militantes - cf. "Revolução Popular 7 e outros documentos do período de 1966/67 do movimento marxista-leninista”, Edições "O Comunista", s.d. – Belo, Jacinto Rodrigues, José Capilé, Coelho e Barros. Mais é referido [ibidem] que foram afastados do CMLP, por diversos motivos, Claro, Mário Silva e Moguinho]
A 21 de Outubro de 1965 é preso João Pulido Valente, por denúncia presumível de um elemento "infiltrado" no CMLP [Evaristo, aliás Mário de Jesus Mateus – in RP, nº6] à PIDE. A prisão de Pulido Valente [que decorre dum "encontro marcado" com Mateus] e a suspeita enviada pelo próprio [na altura preso na Penitenciária de Lisboa], levou a que FMR e outros companheiros fizessem um interrogatório [em princípios de Dezembro de 1965, Belas, Sintra], onde Mateus confessa que colaborava com a PIDE "desde que tinha estado preso anos antes [na altura pertencia ao PCP] e a polícia lhe tinha oferecido a saída a troco de colaborar" [FMR, in entrevista a Carlos Morais, ibidem]. Como refere o nº6 da RP [Revolução Popular] "uma vez provada a sua culpabilidade ... foi condenado à pena de morte" e executado. Tal facto, como é dado ver, foi anunciado publicamente no órgão do CMLP. Curiosamente, mesmo assim, a PIDE informa que foram elementos do PCP os responsáveis pelo assassinato de Mateus [cf. Martins, João Paulo e Loureiro, Rui, ibidem].
Os acontecimentos precipitam-se e os (poucos) militantes do CMLP/FAP no interior são presos (Sebastião Capilé, operário corticeiro é preso em Almada – cf. RP, nº6); Francisco Martins Rodrigues em Janeiro de 1966 [preso à noite num encontro clandestino, perto do Largo do Rato e levado para a sede da PIDE] e Rui d’Espiney em Fevereiro, do mesmo ano. O CMLP/FAP ou a sua organização no interior desaparece ["três ou quatro elementos" restavam, segundo Mendes – cf. Helder Manuel Bento Correia, ibidem] ou, como vem referido na "Foice e Martelo", nº1: "toda a base e ‘moral’ organizativa da FAP/CMLP se desmoronou".
[no exterior – segundo a RP, nº7 (op.cit.), que assumia ser (ainda) o órgão do CMLP, mas que é posteriormente acusada de "trotskista" (Foice e Martelo, nº1) – a sua composição era a seguinte: Belo, Jacinto Rodrigues, Coelho, José Capilé e Barros]
[a continuar]
J.M.M.
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